Atafona pede socorro em ato neste domingo e Prefeitura de SJB busca estudo técnico
No passar dos anos, moradores e veranistas veem as marcas da força da natureza causada pelo mar na praia de Atafona, em São João da Barra. Em meio às ruinas causadas pela erosão costeiras, a área urbana vem sendo tomada pelo mar e aos poucos deixando rastros de destruição. Neste domingo, às 9h, a Associação SOS Atafona realizará uma manifestação com o objetivo de chamar a atenção de autoridades e da população para a situação da erosão. Na tentativa de conter os impactos causados pela erosão, a Prefeitura publicou uma licitação para a contratação de um estudo para a viabilidade da contenção do mar.
O protesto será realizado na pracinha de Atafona. “Nós estamos batalhando para que as coisas tenham mais celeridade e sejam mais rápidas, porque o mar de Atafona não está esperando é destruição em cima de destruição. Então, essa licitação já é uma vitória. Gostaríamos que houvesse uma união mais forte entre o governo federal e estadual com o município. Outra pauta é em relação a casa dos pescadores que moravam no Pontal de Atafona. Em 2021 eles perderam a casa e ficaram no aluguel social com a promessa que teriam casas para eles, isso já tem 4 anos e até agora nada. No nosso manifesto não queremos bater de frente com a prefeitura, não é uma luta de briga e sim de paz. É um manifesto mais com muita vontade que tudo dê certo”, ressaltou a presidente da SOS Atafona, Sônia Ferreira.
Moradora do balneário há 28 anos, Sônia conta que é difícil ver os moradores perdendo seus imóveis. “Eu perdi minha casa, é uma coisa muito triste e tenho visto muitos amigos nessa mesma situação, é muito doído. Tem um lado financeiro que é uma perda grande, mas tem um lado emocional que é muito pior e ver tudo por água abaixo. Eu estou com 80 anos, desde os 8 meses venho a Atafona. Já vivo aqui há 28 anos e não quero sair. Minha filha mora aqui, então vim para a casa dela e estou até hoje. Temos que ter muita força para poder superar tudo”, comentou.
A situação já se arrasta desde a década de 50, a primeira área a ser engolida foi a Ilha da Convivência. A Avenida Beira Mar também já foi engolida pelas águas e, junto com ela, mais de 200 casas, cerca de 14 quarteirões, sumiram. O geólogo Eduardo Bulhões explica que a erosão é um problema antigo e complexo, com a atuação de inúmeros fatos que colaboraram para esse desequilíbrio.
“A erosão costeira é o resultado de um desequilíbrio que gera um déficit de areias em um segmento da praia. Atualmente o segmento em déficit em Atafona é de aproximados 2km. Esse é um problema complexo com causas que incluem a redução do volume de areias trazidas pelo rio Paraíba do Sul, a ação de ondas, ventos e marés, os eventos de El Niño e La Niña que aceleram alguns desses fatores. Tudo isso, ao longo dos 50 ou 60 anos, gerou impactos. A erosão costeira em Atafona é crônica, pois tem sido incessante por algumas décadas e extrema, pois as taxas são elevadas, chegam a 6 metros por ano”, explicou Bulhões.
A longo prazo, Eduardo esclarece que não há indícios que o fenômeno vá parar por si só e futuramente o cenário é de mais perdas. O geólogo diz ainda que o processo licitatório é um bom caminho para encontrar uma alternativa. “Não há nenhum indício que o fenômeno vá parar ‘naturalmente’ nas próximas décadas e com isso, o cenário é de mais perdas e prejuízos econômicos. A licitação visa contratar uma empresa, ou um consórcio de empresas, para realizar um Estudo de Viabilidade Técnica Econômica e Ambiental. O produto final é entregar quais alternativas mais viáveis, quanto custa e qual o custo de manutenção e os impactos. Mas, esse caminho é longo e não é simples, mas é realmente necessário”, finalizou.
Licitação para estudo técnico é aberta
Por meio de nota, a Prefeitura de São João da Barra informou que a erosão impacta a infraestrutura e as atividades econômicas da região.
“A erosão costeira é um dos desafios ambientais mais críticos enfrentados pelo município de São João da Barra, especialmente nos distritos de Atafona e Açu. Esse fenômeno tem causado perdas significativas de território, impactando a infraestrutura, a população e as atividades econômicas locais. Diante dessa realidade, a Prefeitura Municipal, por meio da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Serviços Públicos, publicou na quarta-feira (19), o edital de licitação para a contratação de um estudo técnico, que fornecerá a base científica e técnica para a formulação de soluções eficazes e sustentáveis de contenção da erosão. Este estudo técnico é um passo essencial para embasar medidas que atendam aos requisitos necessários para futuras ações de licenciamento e execução de soluções definitivas para a erosão costeira”, disse a nota.
Ainda de acordo com a nota, o governo municipal apoia a mobilização e reforça a necessidade da ação conjunta para que medidas sejam implementadas no município.
“A Prefeitura reconhece a preocupação da população e dos movimentos organizados com os impactos da erosão costeira e reforça que as demandas do grupo SOS Atafona são também as demandas do poder municipal. O SOS Atafona tem sido um parceiro fundamental na luta pela proteção do litoral sanjoanense. A Prefeitura apoia a mobilização social e estará presente no movimento do próximo domingo, reforçando a necessidade de uma atuação conjunta para que soluções estruturadas e definitivas sejam implementadas. O município tem feito sua parte, liderando ações de monitoramento, planejamento e mobilização para garantir a implementação de medidas de contenção da erosão e adaptação às mudanças climáticas” concluiu a nota.
Relatório da ONU
Em um relatório apresentado pela Organizações das Nações Unidas (ONU) em agosto do ano passado, mostrou dois locais no Brasil que serão afetados por causa da rápida elevação do Oceano Pacífico, a cidade do Rio de Janeiro e o balneário de São João da Barra. Nas duas cidades, é esperado aumento de até 21 cm, sendo 16 em média, até 2025.
Em um relatório apresentado pela Organizações das Nações Unidas (ONU) em agosto do ano passado, mostrou dois locais no Brasil que serão afetados por causa da rápida elevação do Oceano Pacífico, a cidade do Rio de Janeiro e o balneário de São João da Barra. Nas duas cidades, é esperado aumento de até 21 cm, sendo 16 em média, até 2025.
Ainda segundo o relatório, o nível dos mares subiu 15 cm nos últimos 30 anos em algumas partes do pacífico. No Rio de Janeiro e em Atafona, o aumento foi de 13 cm no mesmo período. Uma orientação da ONU diz que a previsão para o futuro não é nada promissora, se as autoridades não agirem.