Força da mulher preta em "Ciata, Presente!", no Calçadão de Campos
Dora Paula Paes - Atualizado em 30/07/2025 07:52
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O Calçadão do Boulevard Francisco de Paula Carneiro foi palco do docudrama “Ciata, Presente!”, um resgate de memória, samba e resistência no Coração de Campos. O grupo Caixola de Baco usou o espaço a céu aberto para a intervenção artística durante o projeto Bambas da Planície que ocorre todas as quintas-feiras, no centro histórico da cidade, na semana passada. Os diálogos da apresentação resgatam uma Ciata:preta, periférica, mãe de santo, figura influente para o surgimento do samba carioca, que reflete sobre o passado e o presente da mulher negra, evocando figuras como Marielle Franco - vereadora do Rio, assassinada em 2018 -, Djamila Ribeiro e Lélia Gonzalez.
A peça apresenta um emocionante encontro entre tempos, corpos e vozes negras. Na sinopse, a atriz Alba Valéria que vive uma apresentadora contemporânea, que convoca em cena ninguém menos que Tia
Ciata — Hilária Batista de Almeida, símbolo da resistência cultural afro-brasileira e mãe do samba, vivida por Samyla Jabor.
A apresentação durou cerca de 30 minutos, também é preenchida por imagens, cantos, atabaques e diálogos que fazem da cena um território de evocação, denúncia e celebração.
“’Ciata, Presente!’ é mais que teatro, é memória encarnada, é um tambor que pulsa nas veias da cultura popular. É prato, é reza, é livro, é luta. Tia Ciata não é passado: é semente, é voz, é futuro”, ressalta Paulo Victor Santana, que representa “Donga”.
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Sobre o personagem “Donga”, Paulo Victor, diretor-geral da produção e assina o texto com Alba, conta que o “clímax” da apresentação acontece com a entrada de Donga, que narra como no terreiro de Tia Ciata o samba encontrou seu primeiro fôlego gravado, escondido das proibições e alimentado pelo ritmo das panelas. O espetáculo encerra com a canção “Pelo Telefone”, símbolo donascimento do samba, em clima de festa e reverência.
A narrativa tem início com Alba à procura de uma amiga desaparecida nasfrestas da História. Essa mulher, vestida de branco e com cheiro de alfazema, representa a força das que sustentaram o Brasil com fé e mandinga. Quando Tia Ciata surge, a cena se transforma num terreiro de memórias vivas: o quintal da antiga Praça Onze ressurge como berço do samba, da solidariedade, da sabedoria popular e da mandinga feminina.
- Apresentaremos o encontro do passado representado pela Tia Ciata interpretada pela atriz Samyla Jabor com o presente representado pela Alba que evoca essa memória que é tão relevante no cenário da mulher negra nos tempos atuais. Aproveitamoso mês da Mulher Negra Latina e Caribenha (julho) para fazermos essa homenagem - salienta Paulo Victor.
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Alba Valéria também está feliz com a repercussão da intervenção. Segundo ela, que também realizou o evento “Julho das Pretas”, no Guarus Plaza Shopping, outras apresentações do “Ciata, Presente!” ocorrerão em Campos e na capital fluminense.
“Esse projeto nasceu por eu entender que as mulheres pretas periféricas praticamente não têm noção da sua história, seus antepassados. Não têm noção das ilustres mulheres que vieram antes de nós e abriram caminhos para que estejamos aqui hoje. Como sou amante do samba, músicas que retram a história do nosso povo negro. Por isso, resolvemos ressuscitar Tia Ciata e levar a sua história, primeiro, para o Calçadão de Campos, no Bambas da Planície”, disse Alba Valéria.

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