*Felipe Fernandes
- Atualizado em 11/06/2025 07:12
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Filme: Bailarina. Seguindo a diretriz dos grandes estúdios de Hollywood de apostar no garantido, Bailarina é o spin-off da franquia John Wick, que visa atrair o público cativo da saga para um filme que basicamente repete todas as características da linha principal, mudando apenas o protagonista e apresentando uma história “nova”.
Como se não bastasse a falta de coragem em construir ou apostar em algo diferente, o filme ainda traz John Wick como muleta para garantir seu sucesso, uma daquelas "surpresas" que o trailer faz questão de estragar. Mas falaremos sobre isso mais adiante.
Escrito por Shay Hatten, um dos roteiristas dos últimos filmes da franquia, Bailarina apresenta uma batida trama de vingança: uma jovem que viu seu pai (um assassino) ser morto enquanto tentava tirá-la dessa vida. Claro que acontece justamente o contrário, e ela usa a dor do trauma e do luto para se tornar uma assassina e buscar vingança.
É uma motivação clara, que serve como motor para um fiapo de história, funcionando apenas como pretexto para levar a protagonista de uma sequência de ação à outra. Quando digo isso, pode parecer algo negativo, mas não é. Essa é a essência de John Wick, que se repete aqui.
Essa dinâmica de “jogo de videogame” funciona bem. Eve segue de pista em pista, precisando resolver tudo na bala para conseguir a próxima dica, que a levará para uma nova fase, com um novo chefe.
Um dos elementos mais interessantes da franquia é a construção desse universo de casas milenares de assassinos, repleto de regras rígidas e burocracias. Aqui, há uma expansão com a introdução de uma seita de assassinos extremamente perigosos, com a qual até mesmo as casas preferem não se envolver.
Outro elemento que retorna é o conflito entre o aspecto pessoal e os interesses das guildas, com personagens quebrando regras que não podem ser quebradas, gerando o inevitável confronto. O aspecto familiar é particularmente relevante aqui.
A própria seita reforça essa ideia: trata-se de uma comunidade inteira de assassinos que vive isolada em uma cidade remota, levando vidas aparentemente normais, até que seja necessário voltar à ativa. É uma expansão interessante do universo, que mostra um grupo de fora do grande sistema, com suas próprias normas.
Um aspecto até então inexplorado na franquia e que ganha espaço aqui é o treinamento dos assassinos. Ao contar uma história de origem, o filme mostra um pouco da formação da protagonista, e é interessante acompanhar sua evolução como assassina, ainda que ela alcance sua plenitude de forma rápida demais.
Esteticamente, o filme também não inova. Mantém o visual estilizado, embora explore menos cenários com luzes e reflexos, optando por algo mais sujo, principalmente na metade final. Particularmente, gosto do clímax, em que o confronto final ocorre com a lente da câmera molhada, como se a força da protagonista transcendesse a fronteira entre o ficcional e o real.
O filme é extremamente violento, ainda que, curiosamente, quase não haja sangue em cena. Com diferentes tipos de morte, explorando todo tipo de arma e muito improviso , o longa mantém o grau de excelência da franquia. Ana de Armas, mesmo franzina, segura bem o papel: nunca duvidamos de sua eficiência como assassina.
Apesar de a aparição de John Wick acontecer de forma orgânica dentro da narrativa, ela soa desnecessária. Fica a sensação de que sua presença está ali apenas para garantir o retorno do público, uma falta de confiança no potencial do novo material, que não se justifica.
No fim das contas, Bailarina cumpre bem seu papel como filme de ação. É o “mais do mesmo”, mas trabalha bem seus clichês e deve agradar os fãs da franquia. Com boas cenas de ação e um fiapo de enredo, todos os elementos da saga principal estão aqui. Continua sendo forma sobre conteúdo, de maneira consciente e bem executada. Com aquele gancho final para uma eventual continuação. Vai que dá dinheiro.