*Felipe Fernandes
- Atualizado em 14/05/2025 07:59
Reprodução
Filme: Thunderbolts* - Criados em 1997 por Kurt Busiek e Mark Bagley, os Thunderbolts surgiram como um novo grupo de heróis que vinham para preencher a lacuna deixada pelos Vingadores e pelo Quarteto Fantástico, supostamente mortos nos eventos da saga Massacre. No final de sua primeira edição, foi revelado que na verdade, os novos heróis eram um grupo de vilões, que aproveitando o momento, decidiram adotar novas identidades, formando um grupo de super heróis para conquistar fama, poder e em alguns, casos, um recomeço.
Nos cinemas, a premissa ocorre de forma bem diferente. Saem os vilões e entra um mistura de vilões com anti-heróis, que na ausência dos Vingadores, vão se reunir por necessidade para lidar com uma situação diretamente ligada a junção deles e que vai pôr em risco a cidade de Nova York.
O filme traz Yelena (Florence Pugh), a irmã da Viúva negra, desgostosa com sua vida, vivendo o luto pela perda da irmã, enquanto busca um novo propósito. Ela então recebe uma última missão, antes de sua aposentadoria e é nessa missão que tudo muda. Escrito por Eric Pearson e Joana calo, o filme trabalha uma ação de acontecimentos contínuos, toda a história acontece em poucas horas, com cada ação tendo consequência direta para o andamento da trama.
Um ponto positivo do roteiro, é que ao trabalhar com personagens secundários e descartáveis, não só dentro da narrativa ,mas perante ao grande público também, tudo se torna mais arriscado. O roteiro é bem sucedido em criar uma conexão entre personagens e espectador e logo estamos torcendo para personagens que eram irrelevantes até então.
O longa traz alguns dos problemas crônicos do MCU, como a necessidade de ter assistido obras anteriores para total compreensão dos acontecimentos (ainda que não prejudique a experiência para quem não viu, principalmente as séries do MCU) e aquela mistura de ação com piadas, geralmente pouco inspiradas, mas que aqui funcionam em grande parte do longa, principalmente por serem pontuais e não em excesso. O Guardião vermelho por exemplo, um alívio cômico insuportável, aqui continua exagerado, mas melhor inserido na narrativa, funciona melhor, como símbolo desse desejo por mudança no status daqueles personagens.
A forma com que os Thunderbolts se reúnem também acontece de forma coesa, tendo consequências para o andamento da trama. Essa é outra qualidade do roteiro, conseguir usar as questões individuais dos personagens e da formação do grupo, como elementos para movimentar a história. Tudo tem função narrativa, nada fica jogado.
Partindo do luto e do momento vivido por Yelena, o filme traz uma abordagem mais psicológica e madura, que ressalta um aspecto dramático mais pessoal, longe dos dramas vazios de outras produções do MCU. Essas questões estão diretamente ligadas com o clímax do filme, não ficando apenas na mudança interna da personagem, mas afetando o grupo como um todo, já que todos são personagens psicologicamente enfraquecidos, com seus próprios traumas e inseguranças para lidar, questões que tomam o centro da jornada de cada um, pois somente após resolverem lidar com as próprias questões, eles dão um passo significativo nessa jornada do herói particular.
O filme tem boas cenas de ação, fugindo dos exageros típicos dos filmes de herói, aqui com cenas mais pé no chão já que os personagens não tem grandes poderes. Destaco a entrada de Bucky e o primeiro embate com o vilão (não vou me aprofundar para evitar spoilers), mas uma cena enérgica, sem cortes, que ressaltam a força do personagem, neste que é outro ponto positivo, um antagonista complexo, que representa uma ameaça real e não mais um tapa buraco sem motivação, pra virar saco de pancada.
A batalha final é muito significativa e vai além da ação, a forma como a ameaça é retratada é muito interessante e dramaticamente eficiente. A viagem pelos traumas dos personagens é visualmente bem retratada, lembra de longe (mas bem de longe), a forma visual com que o Charlie Kaufman trabalha em seus filmes, certamente foi uma inspiração.
Quem diria que o filme que resgata as sobras dos personagens do MCU, seria justamente o filme com alguma maturidade e equilíbrio, conseguindo um alento para os fãs em meio a tantas produções preguiçosas e presas na fórmula Marvel.
Thunderbolts não reinventa nada, nem tem força para mudar os rumos do MCU, mas que sirva de exemplo de como a Marvel pode trabalhar melhor seus personagens. O público quer personagens mais profundos e histórias que vão além do mero entretenimento. Ao não causar indiferença, Thunderbolts já se prova um sucesso.