Impressionante, ainda no presente, é pensar que a reunião dos roteiristas que escrevem o cotidiano do país certamente é cercada por barracos, sadismo e, pasme, alguma previsibilidade.
Isso porque, nessa história, existem algumas reviravoltas revoltantes – como pessoas apoiando a gestão assassina de uma pandemia, com a nítida intenção de favorecer o vírus -, mas também existem muitas coisas que são mais do mesmo.
A eleição de um político ultraconservador pro mais alto cargo do Executivo nacional, por exemplo, não é nenhum plot twist num país construído sob os pilares da escravidão, das oligarquias e do jeitinho.
Isso, numa análise que não cabe neste espaço, desemboca nos retratos de intolerância que podemos presenciar todos os dias, com posturas que não condizem com o avançar dos tempos e com a concepção de ser humano. Nada justifica, mas nada surpreende.
Com isso, o retrato livre da nossa brasilidade mais parece uma casca bonita de uma face aterradoramente atrasada, intolerante e violenta. A liberdade alegre propagada na arte e no esporte é só uma forma de ocultarmos um passadismo encruado, que nos faz replicar padrões racistas, elitistas e heteronormativos – pra citar só três.
Explicar o Brasil de hoje, portanto, passa por compreender essas raízes e, principalmente, romper essa casca de hipocrisia que nos torna mais alegres e aprazíveis para o mundo – e pra alguns de nós que não se deram conta de onde estão vivendo.
No futuro, a explicação do Brasil atual certamente passa pela admissão de uma face vexaminosa da nossa brasilidade, com o obstáculo inacreditável de falar do país em que ninguém admite seus preconceitos e artimanhas, mas sabe sempre apontar exemplos diversos ao redor.
Fechados numa sala refrigerada com vista para o mar e adornada por um crucifixo, os roteiristas discutem rispidamente seus interesses com cerveja e churrasco à vontade. Na porta, uma placa: “SÓ FUNCIONAMOS MEIO EXPEDIENTE, VOLTE AMANHÔ.
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Sobre o autor
Ronaldo Junior
[email protected]Professor e membro da Academia Campista de Letras. Neste blog: Entre as ideias que se extraviam pelos dias, as palavras são um retrato do cotidiano.