Após não se vacinar, Carla Machado ainda desaconselha imunização de crianças
19/01/2022 20:53 - Atualizado em 21/01/2022 19:04
Prefeita Carla Machado
Prefeita Carla Machado / Divulgação
A prefeita de São João da Barra, Carla Machado (PP), tomou mais uma atitude controversa em meio à pandemia da Covid-19, nesta quarta-feira (19). Além de não ter se imunizado, após ter usados as redes sociais para defender a imunização geral em março do ano passado como único caminho para vencer a pandemia, Carla desaconselhou a vacinação de crianças de 5 a 11 anos. Apesar da posição totalmente contrária à vacinação, dizendo que não vacinaria seu filho, ela alerta que não é contra a vacinação. A prefeita ainda disse que o município vai disponibilizar um remédio fitoterápico para ajudar na imunidade das crianças. Especialistas discordam da posição da gestora e apontam argumentos favoráveis à vacinação da faixa etária de 5 a 11 anos. Para eles, o discurso é temerário e sem base em conhecimentos científicos, já que a segurança da vacina pode ser atestada, por exemplo, na aplicação de mais de 10 milhões de doses nos Estados Unidos, entre outras evidências apontadas por eles.
— Agora começa a vacinação das crianças. E vou pedir às mães, olha a bula. Olha direitinho a bula! Se eu tivesse filho, eu não vacinaria. Tem um RNA mensageiros... A vacina, para vocês entenderem, ela precisa de no mínimo cinco anos para que possam ser comprovados os efeitos colaterais. A Pfizer, por exemplo, não se responsabiliza por quaisquer efeitos colaterais. Mexe com RNA, essa proteína aí, que é uma proteína que pode dá algum um tipo de problema. E eu não poderia deixar de vir aqui falar com mãe, que a gente sempre é, independente do filho está presente ou não conosco. Nós estamos aí preparando aí um medicamento natural, sem efeito colateral para ajudar na imunidade das crianças. A secretaria de Saúde já está providenciando. E vocês pensem, pensem. Elevem o pensamento a Deus, pede pra ele orientar vocês. Leve seu filho ao pediatra antes, pede para ele assinar indicando a vacina. Porque infelizmente tem alguns que a gente vê aí, através das mídias mais alternativas, porque os meios de comunicação, também, eles passaram a só divulgar isso. A gente lembra daquela propaganda: “tomou Doril, a dor sumiu”. E aí todo mundo toma Doril. A gente vê farmácia abrindo nesse período de recessão, uma em cada esquina. A China, por exemplo(...) toda a parte de material de EPI, equipamentos para fornecer em um mês. E a gente vê hoje que essas vacinas foram feitas para um determinado tipo de vírus, e não pras variantes. — disse a prefeita.
Carla está no quarto mandato como prefeita. Professora das redes públicas municipal e estadual, lecionou por alguns anos a disciplina de Ensino Religioso para alunos do Ensino Fundamental, em Atafona. Por muitos anos, foi cedida para atividades administrativas, já que foi secretária de Educação, vereadora e prefeita, além de desempenhar funções no Estado, à época que era aliada do clã Garotinho. Durante a pandemia, tomou várias medidas seguindo as orientações técnicas, como  lockdowns e barreiras sanitárias, suspensão de aulas, entre outras. Nunca com papel técnico na área da Saúde.
Eleitora declarada do petista Fernando Haddad no último pleito — para quem, inclusive, fez campanha em 2018, a despeito da expressiva votação de Jair Bolsonaro (hoje PL) no município desde o primeiro turno —, ela foi extremamente criticada por eleitores bolsonaristas na cidade, que eram contra as restrições. Causou estranheza o fato de ela não ter se vacinado, só revelado após ela ser barrada de uma entrevista na Inter TV Planície, do Grupo Folha, no último dia 7. 

Especialistas contestam posição da prefeita de SJB

 
 
Folha da Manhã
O médico infectologista Nélio Artiles pediu bom senso e defendeu a eficácia da imunização para crianças:
— Este é um momento de usar o bom senso e a sabedoria de reconhecer o que diz a ciência. Não há medicação ainda que possa aumentar as defesas ou impedir a infecção do SARSCoV 2. Os estudos de fase 3 demonstram segurança e eficácia da vacina da Pfizer para crianças menores. Em vida real são mais de 10 milhões de crianças vacinadas só nos EUA que confirmam este estudo. Muito mais frequente que algum efeito adverso de uma vacina são as consequências nas crianças da Síndrome Inflamatória Multissistêmica, com alterações cardíacas e vasculares, a miocardite, 17 vezes mais frequente e graves durante a infecção de Covid e as sequelas pós-Covid. Todos recebemos as vacinas contra várias doenças desde o nascimento e assim aumentando o tempo de vida em geral. Ninguém questiona o mal que faz os refrigerantes, os fandangos, biscoitos a longo prazo, mas querem questionar vacinas de alta tecnologia como RNAm que já existem há mais de 30 anos, sendo seguras e eficazes. Registros de efeitos adversos graves são raros e precisam ser bem apurados já que outras causas devem ser consideradas e, mesmo assim, extremamente raras.
Médico Charbell Kury
Médico Charbell Kury / Divulgação
Pediatra e especialista em doenças infecciosas, Charbell Kury, atualmente na linha de frente da Prefeitura de Campos na questão da imunização, considera que o discurso da prefeita pode ter influencia sobre algumas pessoas, logo em um momento que mais crianças estão sendo infectadas.
— Jornais de São Paulo estão repercutindo a matéria do aumento nas internações de 61% de crianças. Então, eu considero temerária essa afirmação principalmente porque a prefeita não é profissional de saúde, nem especialista em vacinação. Isso pode, de alguma forma, desencorajar os pais a autorizarem, ainda mais no contexto que nós estamos tendo agora de reinfecção das pessoas. A variante Ômicron tem algumas características, uma delas é estimular a reinfecção. Então, pessoas que tiveram vão ter de novo. Mas o lado positivo é que isso não está se traduzindo em um número grande de internações. Por enquanto, as internações são de pouco menos de 10% dos leitos de UTI Covid. O que é fantástico. No mesmo período do ano passado a gente estava aí com leitos nunca abaixo de 50%. Até que chegamos no pico de 100% em março. Vale lembrar que se você comparar de janeiro a junho de 2020, que foi o momento inicial da pandemia, nós tivemos dez milhões de casos notificados no mundo. No período de 1º de janeiro de 2022 a hoje, que nós estamos em quase 20 de janeiro, nós já estamos com quase vinte milhões de casos no mundo. Então, nós estamos praticamente o dobro de todos os casos notificados em seis meses de 2020. Graças a Deus que todo esse número de contaminações não está se traduzindo no número de casos, de internações e mortes. O que mostra pra gente que a Ômicron ela voltou a trazer para os coronavírus a sua natureza original: de serem vírus causadores de infecções de vias aéreas superiores, ou seja, tosse, nariz entupido, resfriado, coriza leve, febre baixa, e não evoluindo para quadros graves. Observação: principalmente nos pacientes vacinados com o esquema completo de vacinação. O que nós temos observado é que mais de 90% das pessoas que estão internando são pessoas que não completaram o esquema vacinal ou não estão vacinadas. Por isso que a vacina ela tem feito papel de atenuar, de reduzir o perfil de internação desses pacientes e o perfil de gravidade desses pacientes — disse Charbell, que ainda postou um vídeo nas redes sociais defendendo a imunização infantil (aqui).

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    Arnaldo Neto

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