Caio Vianna secretário em Niterói, sem tirar Campos da mira
Arnaldo Neto, Aluysio Abreu Barbosa, Cláudio Nogueira e Matheus Berriel 28/08/2021 02:03 - Atualizado em 28/08/2021 02:04
Caio Vianna
Caio Vianna
 
 
Secretário de Tecnologia, Ciência e Inovação de Niterói, Caio Vianna (PDT) não tira a mira de Campos. Candidato a prefeito derrotado no segundo turno de 2020, considera aquele pleito histórico, e diz que a cidade se mostrou dividida na disputa entre ele e Wladimir Garotinho (PSD). Presidente do diretório campista do PDT, faz críticas ao atual prefeito, classificando o grupo político dos Garotinho como bom de campanha e ruim de administração. Questionou ainda a proposta de alteração do Código Tributário, sobre a qual orientou a bancada do seu partido a ser contra nas duas vezes em que a votação foi aventada. Surtiu efeito na segunda, em junho, e sem o apoio de dois dos três pedetistas, o projeto foi parar na gaveta. Nas projeções a 2022, aponta o seu aliado, o ex-prefeito de Niterói Rodrigo Neves (PDT), como único nome com um projeto para o Rio de Janeiro. Na entrevista dessa sexta-feira (27) ao Folha na Ar, da Folha FM 98,3, ele rebateu a crítica que o também pré-candidato a governador Marcelo Freixo (PSB) tinha feito a Neves no programa do dia anterior. Também disse que não vê pontos positivos para que o governador Cláudio Castro (PL) possa ser reeleito. Pré-candidato a deputado federal, fala de uma construção regional, ainda que diga não estar pensando no pleito agora. O que parece não deixar de lembrar é o desejo de um dia ocupar o cargo que, de 1998 a 2004, foi do pai dele, o ex-prefeito Arnaldo Vianna (PDT)
Primeiro turno de 2020 – Para mim, é uma grande oportunidade fazer a avaliação de uma eleição que, sem dúvida alguma, ficou marcada na história da nossa cidade, na minha história e do nosso grupo político. A gente teve uma campanha com muitos candidatos e uma pulverização natural dos votos no primeiro turno. Acredito que houve, sim, um descontentamento muito grande com a administração passada, e com isso uma quebra de expectativa. Houve uma tendência maior do voto “ah, se o Rafael não está dando certo, que volte o outro que era menos pior”. Mas, em determinado momento, a população entendeu que esse menos pior era tão pior quanto ou muito mais. Na minha avaliação, inclusive, muito mais, porque o Rafael Diniz fez uma gestão muito ruim, mas não acredito que mal-intencionado. Teve muitas dificuldades financeiras, econômicas impostas, bem diferente do período da gestão da Rosinha, que tinha um orçamento que beirava R$ 3 bilhões anuais e o que a gente viu foi um show de desperdício de dinheiro público. São diversas ações que a gente foi vendo ao longo do período do garotismo governando. Eu costumo dizer que eles são bons em fazer campanha, em política eleitoral, mas a administração deles sempre foi muito fraca.
Segundo turno – A gente consegue, com mais tempo de TV, com mais tempo apresentando as nossas propostas para a população, mostrar que o nosso projeto era mais sólido, mais bem preparado, mais bem pensado. Na verdade, a pandemia fez com que muitos eleitores não fossem às urnas votar. Se você pegar a proporção que a gente cresce do primeiro para o segundo turno, se ela continuasse um pouco mais, acredito que a vitória seria inevitável, porque essa proporção ficou muito clara na cabeça de todos os eleitores. A gente sai de um segundo turno com 41 mil votos, e o Wladimir com 10 mil, se a gente olhar somente a disputa do segundo turno. Foi uma proporção de quatro para um: a cada cinco eleitores, quatro optaram por votar no nosso projeto. Eles precisam entender que não foi uma vitória incontestável. A cidade ficou extremamente dividida. Se o prefeito continuar agindo como está agindo vai ter respostas nas eleições do ano que vem e, consequentemente, nas eleições de 2024.
Código tributário – Nesse momento a gente tem que pensar no Poder Executivo como indutor da retomada do desenvolvimento econômico, como incentivador. E o que a gente tem visto é o contrário. A gente tem visto o governo tentando penalizar a população, tentando penalizar o setor produtivo; não conseguiu um entendimento com a sociedade civil organizada, o que mostra uma dificuldade histórica dos Garotinho de dialogar. Eu acho que é isso o que hoje está em questão. Eu recebi várias vezes, nos finais de semana, na minha residência em Campos, a presença dos vereadores, debatendo junto com a gente o novo Código Tributário. Muitas vezes, terminamos reuniões 1h, 2h da manhã, mas os vereadores entenderam que esse não é o momento para passar esse pacote de aumento de impostos diante de uma crise econômica.
Orientação ignorada pela bancada do PDT em maio – Naquele momento em que a gente emite a primeira diretriz e orientação partidária à bancada de vereadores (Leon Gomes, que continuou votando com a base governista; Luciano Rio Lu e Marquinho do Transporte), o código não foi colocado em pauta, como não foi colocado novamente. E, naquele momento, as discussões estavam em fases iniciais. Se dependesse do governo, do gabinete do prefeito Wladimir, que elaborou esse novo código tributário, com certeza teria passado. Os vereadores conseguiram, por diversas vezes, tirar esse projeto de pauta. A CDL, a Acic, Carjopa, Firjan, enfim, todas as entidades produtivas da cidade tiveram um papel fundamental em esclarecer para esses parlamentares do município a importância de não se aprovar um projeto dessa magnitude.
Arrecadação de 2021 – Não é porque sou adversário político e quero engessar economicamente a Prefeitura. Claro que não. A Prefeitura, este ano, está arrecadando muito mais do que arrecadou ano passado. Inclusive, em post na rede social, eu já demonstrei que a Prefeitura, este ano, deve arrecadar algo em torno de R$ 300 milhões a mais do que no ano passado. Só nesse mesmo período desse ano, que nós já vivemos, comparado ao mesmo período do ano passado, o prefeito Wladimir Garotinho já arrecadou R$ 168 milhões a mais. Ou seja, quase R$ 200 milhões a mais do que no ano passado. Então, não tem justificativa.
CPI do Previcampos – Vale aqui uma nova avaliação com relação ao novo código tributário que o Wladimir tenta enviar para a Câmara constantemente. Eu fiz essa pergunta para o Wladimir no debate e faço novamente: se está precisando tanto de dinheiro assim, quando que o agora prefeito, senhor Wladimir Garotinho, vai cobrar da mãe dele, Rosinha Garotinho, que devolva mais de R$ 800 milhões para os cofres públicos da cidade de Campos, que foram desviados do Previcampos? Isso foi apurado numa CPI. Quando ele vai devolver esse dinheiro? Quando a mãe dele vai devolver, e quando ele, como prefeito, vai cobrar? Agora, quer tirar dinheiro do bolso do trabalhador? Quer aumentar imposto? A gente está rediscutindo a redução da carga tributária a níveis estadual, nacional, internacional. Ele quer aumentar? Pede à tua mãe, Wladimir, para pagar o que ela deve ao povo de Campos.
Arnaldo prefeito, casal Garotinho no RJ – Em relação a obras, se você ouvir a perspectiva dos Garotinho, porque eles adoram contar história... Não é à toa que vieram do teatro... Para eles, a vida é um grande palco. A cada dia, eles abrem a cortina e esperam um público diferente, e com aquele público diferente eles criam uma nova história, ficam ali contando historinha para os outros acreditarem. Mas, a realidade é o seguinte: em muitas obras que foram feitas na gestão do Arnaldo que deveriam ter parceria com o Estado, não houve.
Avaliação do governo Wladimir – É muito difícil a gente dar nota. É tentador, de fato, dar nota. Mas, é uma coisa em que a gente precisa ter responsabilidade. Nós estamos caminhando para o nono mês de gestão. Até hoje a gente não viu um balanço dos 100 primeiros dias nem dos seis meses de gestão, que são datas comuns do poder público apresentar tanto dados de evolução quanto dados de metas a serem executadas. A gente não viu nenhuma das duas coisas acontecendo. A gente viu uma reunião-base, uma celebração interna do governo, no Teatro Trianon, onde não foi apresentado publicamente nenhum dado de evolução nem nenhuma programação de metas e objetivos bem traçados e delineados. Qual é o planejamento que você vê de gestão dessa atual administração? Você não sabe o que vai ser feito nos próximos seis meses, não tem uma programação. Na verdade, nunca teve. Foi uma grande mentira contada pelo prefeito Wladimir, durante a eleição, que ele tinha 114 técnicos. Escolheu lá um número grande, para se tornar de efeito, impacto, porque, de novo, é o que eles gostam de fazer. Eu nunca vi foto dessa reunião com 114 técnicos, nunca vi vídeo, nunca me foram apresentados desses 114 técnicos. E, de qualquer forma, se esses 114 técnicos existem, eles precisam, inclusive, ser demitidos, para a contratação de novos técnicos, porque esses técnicos estão instruindo o prefeito a aumentar impostos num momento de crise econômica, de crise pandêmica.
Avaliação do governo Castro – O governador Cláudio Castro tinha uma candidatura de vereador difícil, era um vice-governador improvável, e é um governador ainda mais improvável. Então, obviamente, ele não tem um amplo apoio popular para governar o Rio de Janeiro. O que ele está conseguindo fazer, e aí eu não estou dizendo se é certo ou errado, estou dando a minha opinião, é um arco de alianças políticas muito grande, tentando se sustentar no poder através das alianças politicas. Eu tenho muitas preocupações e ressalvas com relação a isso, e acho, inclusive, que ele vem aparelhando demais o Estado. O Cláudio é um pré-candidato ao Governo do Estado natural, por ser o governador. Eu não avalio bem a gestão dele.
Pré-candidatura de Rodrigo Neves a governador – Nesse momento, apenas enxergo um único pré-candidato ao Governo do Estado. Não digo isso porque ele é do mesmo partido que o meu, não é porque eu conheço o Rodrigo há muito tempo, não é porque estou na administração pública à frente da secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação de Niterói; é porque o Rodrigo é o único nome que reúne todas as qualidades e os predicados necessários para enfrentar o maior desafio de gestão pública do Brasil, que é a gestão pública do estado do Rio de Janeiro. Nós temos uma crise econômica, temos uma crise muito grande na Segurança Pública, e o Rodrigo, em Niterói, conseguiu, hoje, ter uma avaliação, sair da Prefeitura de Niterói com mais de 85% de avaliação positiva da gestão dele, com várias entregas reais. É o único que tem experiência testada, comprovada e positiva de gestão. O Cláudio está testando a gestão agora. O Marcelo Freixo não tem nenhuma experiência de gestão. Eu acho que muito arriscado colocar uma pessoa que não passou por uma experiência de gestão para administrar o Rio de Janeiro.
Crítica de Freixo à prisão de Rodrigo Neves — O que eu tenho de informação, é que o episódio de sequestro que aconteceu com o Rodrigo, acho que é a forma correta de ser caracterizado, foi uma arbitrariedade total. O Rodrigo nunca foi escutado no processo, nunca teve nenhuma oitiva, ou seja, foi literalmente uma decisão arbitrária. E eu acho que o deputado federal Marcelo Freixo deveria avaliar melhor as posições dele, até porque ele está pleiteando e em constante conversa com o ex-presidente Lula, que foi preso na Operação Lava Jato. Então, ele precisa entender que tipo de político ele quer ser, porque ele está me parecendo ser um oportunista, não parecendo ser uma pessoa que está, de fato, preocupada tanto com as arbitrariedades que houve em alguns casos, não em todos, mas em alguns casos, juridicamente, como eu acho que é o caso do Rodrigo Neves. O Freixo não pode estar sentado com o Lula em um dia, pedindo apoio porque o Lula está bem na pesquisa, e depois atacar o Rodrigo com algo que fere diretamente o presidente dele, que é o Lula.
Pré-candidatura a deputado federal – Em 2018, eu não era candidato a deputado federal, porque eu estava muito focado, tinha acabado de sair de uma eleição a prefeito, em 2016, e o meu sonho é transformar a minha cidade. Você pode ter certeza de que todas as experiências que eu estou buscando, todo trabalho que eu venho desenvolvendo ao longo a minha vida, isso é para transformar Campos, para reviver os bons tempos da gestão de Arnaldo Vianna, que, sem dúvida, é a melhor gestão que Campos já teve. Mas, ali eu fui chamado para uma missão partidária. A gente, agora, vem desenvolvendo, obviamente, um trabalho na perspectiva de ajudar Campos, a nossa região, a reconstrução do Rio de Janeiro e ajudar a repensar o país. Obviamente, qualquer parlamentar disposto a trabalhar, com boa articulação, tem como ajudar e muito a sua região. É isso o que a gente está se propondo a fazer. Mas, neste momento, não estou com esse pensamento em eleição, em pré-candidatura.
Secretário em Niterói – Estou muito focado na gestão à frente da secretaria de Tecnologia, Ciência e Inovação de Niterói. A gente está desenvolvendo vários programas importantes à frente da secretaria, estamos reativando um programa, logicamente, em uma escala maior, mas próximo do que era o “Navegar é preciso” em Campos, uma plataforma urbana digital. Estamos desenvolvendo uma aplicação para ajudar no combate à violência às mulheres. É uma aplicação importante, que vai funcionar como um botão de pânico e também com possibilidade de gravação de vídeos, que serão enviados para o nosso Centro Integrado de Segurança Pública. A gente está, graças a Deus, recebendo diversos elogios de diversas frentes no estado que sabiam que Niterói tem esse potencial de ser inovadora, está na vanguarda das cidades inteligentes. Hoje, estou podendo desenvolver esse trabalho para a cidade de Niterói, e, posteriormente, levar toda essa experiência para Campos, para a nossa região, para o nosso estado e, quiçá, nosso país.
Apoio a Ciro Gomes em 2018 e 2022 – Do ponto de vista de 2018, a gente não estava engajado, não tinha organização nem para a campanha própria do Caio. A gente não estava num processo eleitoral planejado, não estava pensando em ser candidato naquela eleição. Hoje, a gente tem um pré-candidato ao governo nacional, à presidência da República, que é o Ciro Gomes. A gente não sabe, de fato, se ele vai ser candidato ainda, é uma pré-candidatura, será homologada. A partir do momento em que for homologada, a gente, como partidário, vai estar avaliando. Eu também sou muito criterioso e tenho muita gratidão ao nosso presidente nacional, Carlos Lupi, por entender a importância de me deixar, obviamente, avaliar o meu ponto de vista pessoal, e não só partidário; de entender o que eu entendo que é correto, o melhor para a sociedade. Ele sempre me deixou muito à vontade nessas avaliações. Mas, é óbvio que a gente tendo um projeto nacional de partido, que seja viável, seja coerente... Acho que o Ciro tem transformado muito, tem evoluído muito... Sem dúvida alguma, a gente vai estar engajado nesse processo.
Confira a íntegra da entrevista:

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