Transporte público desaponta usuários
Ícaro Abreu Barbosa - Atualizado em 17/11/2020 20:20
Para Quintanilha, ausência dos terminais definitivos prejudicou o sistema alimentador
Para Quintanilha, ausência dos terminais definitivos prejudicou o sistema alimentador / Genilson Pessanha
Mais de um ano depois de sua implementação, o sistema de transporte coletivo alimentador vê seu declínio e queda diante da visão apresentada pelos dois candidatos que concorrem ao segundo turno em Campos: Wladimir Garotinho (PSD) e Caio Vianna (PDT). Desde a criação, o sistema é alvo de críticas por parte dos usuários, principalmente idosos. Por outro lado, o presidente do Instituto Municipal de Trânsito e Transporte de Campos (IMTT) e principal elaborador e incentivador do sistema, Felipe Quintanilha, também faz críticas, mas mantém a defesa ao projeto.
— Eu não considero que houve erros de implantação, mas sim problemas, como a ausência de terminais definitivos. Esse é um ponto crucial para que o sistema funcione perfeitamente e, de fato, está sendo prejudicial, pois daria conforto ao passageiro. Já os acertos foram inúmeros. Diminuímos o conflito na área central, bem com o fluxo do trânsito, e aumentamos a mobilidade. Conseguimos fazer ônibus e vans funcionarem juntos. Os primeiros sofriam com a concorrência desleal, e os motoristas do transporte alternativo não tinham nenhum tipo de contrato, trabalhando à margem da lei, e agora têm contrato de 10 anos de permissão. Nós trouxemos eles para a legalidade e os integramos — explicou Felipe Quintanilha.
Nas ruas, é difícil conversar ou encontrar quem queira falar sobre o sistema de forma positiva e sem exaltação. Em dias quentes — nos quais o uso da máscara piora a situação — é um desafio ainda maior encontrar quem espere por um transporte com bom ânimo. Por mais que os locais sejam cobertos por toldos bem conservados, como é o caso do terminal no final da avenida 28 de março, o local de espera é bem abafado. Não é diferente no terminal da BR 101, em Guarus, onde a situação piora por conta de as proteções contra o sol serem ainda menores.
— Hoje eu vim do Centro, peguei uns exames e quero voltar para casa, mas estou aqui parado no calor. Todas as vans que passam para o Km 8 estão cheias. Os motoristas só falam: “Prioridade está completa”. E eu vou para casa como? Ficando parado ali, você só escuta isso — disse o motorista aposentado Ismael Amaral, de 66 anos, apontando para onde se aglomeravam vans.
A situação dos idosos que aguardam por lugares exclusivos — o que, geralmente, faz com que acabem esperando mais para pegar as vans — é considerada “revoltante”. Por terem lugar marcado e viajarem de graça, eles relatam que, muitas vezes, têm atendimento negligenciado por parte de motoristas. “Eles sempre alegam que não há vaga e nos fazem esperar pela próxima que irá chegar, fazendo com que nosso tempo de espera aumente. É uma falta de respeito dos motoristas, além de ser revoltante”, contou a aposentada Marizete da Silva, de 62 anos, enquanto aguardava alguma van no terminal da 28 de Março para retornar para sua casa, no Parque Saraiva.
Usuários do transporte público criticam demora na espera por veículos
Usuários do transporte público criticam demora na espera por veículos / Genilson Pessanha
Quintanilha analisa o sistema alimentador
São 527 dias desde o começo do sistema tronco-alimentador. Inúmeras mudanças foram feitas para que ficasse cada vez mais simples e viável, além de o aplicativo Mobi Campos ter sido baixado por cerca de 100 mil usuários do transporte público em Campos. Por mais que seja grande em volume de downloads, não chega a 50% dos 250 mil usuários campistas. Felipe Quintanilha, ao fechar das cortinas da atual gestão, aponta a pandemia da Covid-19 como uma inimiga do projeto, bem como a dificuldade de adaptação e resistência em adoção dos meios tecnológicos.
— Qualquer discussão teria que ser sobre a construção de novos terminais de integração, buscar revitalização de linhas, verificar linhas deficitárias, além de levar em consideração a pandemia, que gerou a diminuição de 70% dos passageiros pagantes. Hoje, a diminuição ainda existe e está por volta de 35% a 40% a menos — explicou o presidente do IMTT.
Para ele, a “grande sacada” seria aumentar a integração das linhas, tanto nas áreas centrais quanto distritais, e aderir mais ao uso da tecnologia: “Se não fosse a pandemia, nós ainda teríamos renovado a frota em 2020. Pois, se o sistema continuasse melhorando com a correção dos pontos apresentados, nós conseguiríamos melhorar a frota e a qualidade do transporte público na cidade”, concluiu.
Candidatos propõe soluções para sistema
Em entrevistas ao jornal Folha da Manhã, os dois candidatos que agora brigam pela vitória no segundo turno e disputam a prefeitura a partir de 2021, consideram o sistema tronco-alimentador uma “tragédia” e um “fracasso” para o transporte público de Campos. Enquanto isso, Felipe Quintanilha julga que acabar com o sistema sem buscar aperfeiçoá-lo “irá trazer os problemas de trânsito intenso e a concorrência entre ônibus e vans do último sistema de volta”.
— Não foi bom para ninguém esse modelo. Independente do que estava ou não estava funcionando, mas esse modelo foi uma tragédia. Nós vamos chamar os permissionários de vans, os rodoviários, a sociedade civil organizada e vamos transformar completamente o transporte público — afirmou o prefeitável Caio Vianna, em entrevista publicada no último dia 4.
Já Wladimir Garotinho vê os terminais, ponto de críticas de Felipe Quintanilha, como o “maior símbolo do fracasso do sistema tronco-alimentador”. Para o candidato, é uma estrutura improvisada que se tornou permanente. Ele afirmou, também em entrevista:
— As pessoas precisam usar o transporte coletivo para trabalhar, para fazer compras no comércio, para estudar ou levar seus filhos para creches e escolas, para aliviar o fluxo de veículos. A gente tem conversado com especialistas e conduzido debates técnicos com vários setores para construir um sistema que funcione, resolutivo e de integração, com linhas novas, com respeito a horários e número maior de coletivos disponíveis integrando o município.

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