Médicos de Campos pedem cautela em decisão sobre a volta do futebol no Rio
Matheus Berriel 06/06/2020 08:35 - Atualizado em 17/06/2020 18:23
Nélio Artiles e José Roberto Crespo
Nélio Artiles e José Roberto Crespo / Fotos: Rodrigo Silveira e Divulgação
Representantes dos clubes que disputam a Série A do Campeonato Estadual e da categoria de atletas participam neste sábado (06), às 15h, de uma videoconferência realizada pela Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (Ferj), com objetivo de debaterem a segunda fase do protocolo Jogo Seguro, visando a retomada dos jogos. Embora ainda não haja uma definição divulgada, a previsão é de que as partidas voltem na segunda quinzena deste mês, com portões fechados. Para o infectologista Nélio Artiles, é necessário cautela na tomada da decisão.
— Acredito que, em todos os países, o retorno das atividades esportivas está acontecendo em cima, justamente, da redução das taxas (relacionadas ao novo coronavírus). É preciso avaliar tecnicamente, no sentido de observar qual é a situação epidemiológica de cada local. No Brasil, a gente sabe que há muitas regiões, inclusive com curvas diferentes. Em determinada região, você pode ter uma curva menor de transmissibilidade. Em outra, maior. Uma com mais leitos disponíveis, outra com menos. Então, não é fácil essa decisão. Porém, a tendência da flexibilização é para tudo, inclusive para atividades esportivas, desde que se mantenha as regras do distanciamento — afirmou Nélio Artiles.
Na última terça-feira (02), médicos dos clubes da Série A do Estadual — com exceção do Fluminense, que é contrário à volta dos jogos neste momento — debateram a segunda fase do protocolo Jogo Seguro. Coube à Comissão técnica Provisória nomeada pela Ferj finalizar o documento para ser analisado no Conselho Arbitral deste sábado. Segundo o Globoesporte.com, o restante do Estadual será disputado apenas nos estádios Maracanã, São Januário e Nilton Santos (Engenhão), todos na cidade do Rio de Janeiro. Ainda segundo o site, os jogadores no banco de reservas manterão distância diferente do habitual, e a comissão técnica presente no gramado também será reduzida. A imprensa terá acesso apenas com um jornalista por veículo de comunicação.
Para o infectologista Nélio Artiles, é preciso garantir testagens frequentes da Covid-19 para jogadores e comissões técnicas de todos os clubes envolvidos. Faltam ser disputadas duas rodadas da Taça Rio, que tem o Macaé como único representante do Norte Fluminense, e duas do Grupo Z, com o Americano já classificado para a próxima Seletiva e tendo apenas uma partida por jogar — o clube folga na última rodada. Caso o Flamengo, campeão da Taça Guanabara, não conquiste também o segundo turno e termine, paralelamente, como o dono da melhor campanha geral, haveria ainda a fase decisiva do Estadual. No momento, o Fluminense é o líder geral, com dois pontos de vantagem sobre o Rubro-Negro.
— Precisamos considerar a perspectiva do retorno, porque essa doença tem um ciclo. É provável que esse ciclo venha diminuir a curva nos próximos meses. É difícil afirmar se junho é precipitado. A gente observa que, em alguns estados, a curva está estabilizando. Em outros, está extremamente ascendente. Essa questão ainda está muito indefinida no Brasil. A visão de se utilizar um padrão único para todo o país é complexa, já que existem peculiaridades ou diferenças epidemiológicas de acordo com o estado e a região — pontuou o infectologista.
Até a última quinta-feira (04), ainda não havia previsão para o reinício dos treinos do Americano, em Campos. O Macaé, por sua vez, segue aguardando a liberação dos órgãos municipais para reiniciar as atividades com o elenco, que passou por testes rápidos da Covid-19 no dia 25 de maio. Dos 20 atletas, nenhum apresentou quadro da doença. Uma funcionária do clube testou positivo e, por estar assintomática, foi colocada em quarentena após atendimento médico. Tanto a sede do Americano quanto a do Macaé passaram por sanitização em maio.
Médicos citam risco de falsos negativos
No início da semana, o Vasco anunciou que 19 atletas testaram positivo para Covid-19, sendo que três já estavam recuperados e 16 foram isolados. Nos primeiros testes do Flamengo, houve 38 infectados entre jogadores, funcionários, comissão técnica e familiares. Quatro atletas passaram por quarentena, e, atualmente, não há casos positivos no clube. No Bangu, os sete atletas que haviam testado positivo anteriormente, além dos três membros da comissão técnica e dois funcionários, foram constatados novamente imunizados.
Presidente do Sindicato dos Médicos de Campos (Simec), José Roberto Crespo considera imprudente o possível retorno dos jogos durante o pico da pandemia.
— A prática do futebol, ainda que em estádios vazios, expõe ao risco diversos atletas, profissionais de comissão técnica, dentre outros envolvidos. Mesmo sob adoção de protocolos rígidos, haverá aglomeração de pessoas durante treinos, idas aos vestiários e nos jogos, nos quais a proximidade física dos atletas é inevitável — afirmou.
O presidente do Simec também citou o risco de falsos negativos nos testes, alerta reforçado por Nélio Artiles:
— Mesmo que os testes sejam semanais, não há uma garantia, já que todos estes exames são falhos.
Flamengo e Bangu já treinam desde o fim de maio, após liberação da Prefeitura. Madureira e Boavista reiniciaram trabalhos no fim da semana passada. Também estava marcada a reapresentação dos jogadores do Vasco, mas a diretoria do clube voltou atrás. O Botafogo marcou para a próxima semana exames da Covid-19 em funcionários, jogadores e familiares próximos, mas ainda não divulgou previsão para treinos coletivos. No Fluminense, há um desgaste com a Ferj, e os atletas seguem treinando em casa.

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