Restaurantes focam no delivery
- Atualizado em 04/04/2020 20:29
Entregador usa mádcara e luvas para levar ao cliente o pedido feito no restaurante, que mantém o foco no delivery
Entregador usa mádcara e luvas para levar ao cliente o pedido feito no restaurante, que mantém o foco no delivery / Rodrigo Silveira
O setor de gastronomia é um dos que têm sido mais atingidos pelos efeitos da crise gerada pelo novo coronavírus. Enquanto veem o faturamento despencar bruscamente em tempos do Covid-19, restaurantes de Campos buscam alternativas através do atendimento de tele-entrega e serviços de delivery para sobreviver ao fechamento do comércio, medida determinada pelas autoridades para evitar a propagação do vírus. Os empresários esperam uma medida do governo para proteção ao setor a fim de evitar demissões em massa.
Proprietário dos restaurantes Romano e Speciale, na Pelinca, Breno Romano, também vice-presidente da Liga Gastronômica de Campos, disse que a entidade representativa do setor espera medidas governamentais para aliviar o segmento.
— A Liga tem se reunido para tratar sobre quais medidas o governo pode tomar para ajudar o setor para pelo menos aliviar os custos da folha de pagamento — admitiu.
Breno afirmou ainda que as empresas estão buscando reduzir os custos, mas a queda de receitas tem sido brutal sem o atendimento presencial.
— A saída é reduzir os custos para não parar de vez e reforçar o atendimento no sistema delivery. Já fizemos uma renegociação para redução de valor do aluguel, como também um acordo com os funcionários para uma redução salarial, mas não é ainda suficiente. Se não houver medidas para resguardar os empregos, o setor vai começar a demitir — disse.
A redução de custos também alcança a concessão de férias coletivas e alterações nas operações administrativas.
— Como não temos atendimento presencial, demos férias coletivas aos garçons e decidimos então concentrar as operações de cozinha em um dos restaurantes (que já tem uma estrutura de atendimento em delivery) com um cardápio enxuto e mais compacto para este tipo de pedido. Tivemos um aumento significativo nas vendas, mas está longe do faturamento com o funcionamento normal da casa com atendimento presencial quando o cliente consome também bebidas, entre outros itens
Além destas alterações, ainda de acordo com Breno, o restaurante conta com um time de motoboys bem reforçado para as entregas com cuidados especiais. “Estão todos bem preparados, com máscaras, luvas, álcool com gel para higienização da máquina que opera as vendas pelo cartão de crédito, enfim”.
Desafio de pagar os salários das equipes
O presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), Paulo Solmucci, comemorou a Medida Provisória, a MP dos Salários, anunciada na última quarta-feira pelo governo federal. “Uma medida criativa e flexível, que está disponível para todas as empresas e que irá salvar milhões de empregos no setor de bares e restaurantes”.
A medida é também importante porque permite o pagamento de boa parte do salário a fundo perdido. Ou seja, o estabelecimento que usar essa linha do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador) não terá que reembolsar o Governo. A MP já abrange os salários de abril, a serem pagos no quinto dia útil do mês. O temor é por uma quebra generalizada de estabelecimentos, com o consequente aumento do desemprego no setor, um dos mais atingidos pela crise.
Para Solmucci, superado o enorme desafio de pagar os salários das equipes de bares e restaurantes, é hora de buscar, junto às administrações municipais, dos estados e com fornecedores do setor de alimentação fora do lar, ajuda para obter a retomada das atividades. “Buscaremos, junto aos municípios, apoio para o vale transporte, aos estados, a garantia de que teremos fornecimento de luz e água e junto a nossa cadeia de fornecedores, medidas que reabastecerão as nossas casas com insumos necessários”. Segundo a Abrasel, o setor mantém seis milhões de empregos no país.
Demanda ainda não é maior no Piccaddily
No Restaurante Piccadilly, o proprietário Pery Ribeiro também reforçou o apelo por medidas governamentais para proteger o setor diante da possibilidade de demissões. “As providências até agora não vão ajudar o setor. Esse decreto que autoriza as empresas a adiarem, durante três meses, a parcela da União no Simples Nacional e o depósito do FGTS dos empregados não é suficiente porque vamos ter que pagar dobrado lá na frente em condições ainda difíceis. Muitas empresas, se reabrirem, não vão voltarão a funcionar em condições normais”.
Pery admitiu que não ainda cogita demissões, mas fez ressalvas. “Não decidi nada ainda, vamos aguardar mais esta quinzena de abril para ver o que vai acontecer. Mas se não houver nenhuma medida como isenção de tributos ou alterações nos contratos de trabalho, serei obrigado a dispensar alguns colaboradores”. O proprietário do restaurante foi ouvido pela equipe da Folha antes de o governo editar a Medida Provisória que permite às empresas reduzirem jornada de trabalho e salários.
O Piccadilly também opera com o sistema de delivery, mas os resultados não têm sido satisfatórios. “Imaginei que fosse aumentar, mas o sistema de entregas se manteve praticamente igual. Eu imagino que, com essa crise, muita gente abriu negócios com sistema de delivery na área da alimentação, a concorrência pode ter aumentado”.
Pery também identifica outro fenômeno possível. “Muita gente, diante desta situação de insegurança, pode estar segurando as despesas”.
Secreto faz aposta na adesão aos vouchers
Com a recomendação do isolamento social para conter a propagação da Covid-19, bares e restaurantes, entre outros setores, aderiram ao voucher, estratégia criada por operadoras de cartão de crédito para que o comércio continue funcionando neste período sem maiores prejuízos.
Segundo Lívia Enes, proprietária do Restaurante Secreto, os consumidores vão poder comprar vouchers para usar após a crise. O cliente escolhe um estabelecimento que aderiu à campanha, e na compra de um voucher de R$ 100, por exemplo, paga para consumir presencialmente no futuro com um desconto especial. “O cliente paga o jantar e usufrui quando o restaurante reabrir”, explicou.
Lívia mantém o sistema de delivery, pelo qual ela mesma, utilizando o seu carro, faz o atendimento em domicílio aos clientes. “Não é a mesma coisa, mas estamos funcionando em prol dos meus funcionários, tudo que fazemos hoje reverto para eles”.

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