Campos sedia pesquisa inédita no país com uso de células-tronco em doenças cardiovasculares
Camilla Silva 08/02/2020 12:56 - Atualizado em 18/02/2020 13:46
Campos vai ter um projeto inovador no Brasil ao realizar estudo com o uso de células-tronco em doenças cardiovasculares. Isso será possível por meio de uma parceria entre a Santa Casa de Misericórdia de Campos, o Instituto Galzu e a Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf), devendo iniciar as atividades ainda este ano. Para esta finalidade, um Centro de Alta Complexidade (CAC) foi implantado nas dependências da Santa Casa, a fim de cumprir o objetivo de transferir Tecnologia em Saúde para a prática clínica, visando a modernização do sistema de saúde, em especial o SUS.
— O projeto está bem avançado e a infraestrutura necessária está 70% montada, podendo ser utilizada para outras pesquisas que já estão em andamento. Vamos reproduzir protocolos aprovados em outros países visando a regulamentação da tecnologia e incorporação no SUS. Para isto, vamos ter a colaboração internacional de um médico hematologista, com vasta experiência prática, sendo, hoje, referência em terapia celular. Ano passado, recebemos a sua visita e discutimos os principais pontos de segurança e controle dos procedimentos — explicou a médica e pesquisadora Paula Cabral, que é presidente do Instituto Galzu.
— Este projeto deseja melhorar as perspectivas futuras no tratamento das doenças cardiovasculares — completou o vice-presidente do Instituto Galzu, Makhoul Moussallem.
Conforme dados do Datasus, 58% das cirurgias cardíacas e 46% dos cateterismos realizados no estado do Rio de Janeiro em 2019 foram feitos em Campos. O diretor clínico da unidade, Cleber Glória, ressaltou a capacidade da instituição de sediar a pesquisa.
— Estamos em fase final de aprovação para que comecem a ser realizados os procedimentos com uso de células-tronco em doenças cardiovasculares. A Santa Casa é referência na região Norte Fluminense em cardiologia e cirurgia cardíaca, absorvendo também a demanda do estado. Por isso, tem a capacidade técnica de participar de um projeto como esse, e estamos muito felizes por isso — afirmou o diretor clínico da unidade.
Nesta semana, uma equipe do projeto, juntamente com equipe do deputado federal Felício Laterça (PSL), esteve no Ministério da Saúde para pleitear recursos da pasta, que deverão ser aplicados em um novo método de tratamento com a utilização de células-tronco. “A iniciativa é inédita no Brasil, mas alguns países que já utilizam o mecanismo têm alcançado resultados satisfatórios”, afirmou o deputado nas redes sociais.
Sobre o tratamento — A médica Paula Cabral explica que, em 2005, um grande estudo multicêntrico em cardiologia foi realizado no Brasil. No mesmo período, países como Holanda, Japão, Coreia do Sul, Israel, Austrália, Canadá, Estados Unidos, Reino Unido e Argentina iniciaram seus estudos e definiram regras para pesquisa e utilização clínica. Enquanto isso, o Brasil continuou a buscar a melhor forma de regulamentar as terapias avançadas. Desde então, um grande número de pesquisas clínicas foi feito com metodologias diferentes alimentando um banco de dados mundial, que pôde mostrar com clareza as técnicas que alcançaram os resultados mais significativos.
Em 2017 a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) lançou a consulta pública 416/2017 para produtos de terapias avançadas (terapia celular, terapia gênica e engenharia tecidual), quando o Instituto Galzu participou, submetendo a sugestão de uma nova legislação. Em seguida, recebeu o convite da Anvisa (Brasília) para expor a sua opinião. Desde então, houve uma distinção da complexidade e competência, regras claras, além do interesse da agência em regulamentar as terapias avançadas mantendo a segurança para os envolvidos. Como a regulamentação é muito nova, em 2019, Instituto Galzu e Santa Casa de Misericórdia de Campos estabeleceram uma parceria, visando, num futuro próximo, oferecer uma melhor qualidade de vida aos pacientes.
Dentre as doenças cronico-degenerativas passiveis de serem tratadas com células-tronco, as doenças cardiovasculares são as mais extensivamente estudadas ate o momento. Por isso, o uso de células-tronco no sistema vascular é considerado uma alternativa terapeutica para a remodelação vascular e a melhora da perfusão sistêmica. “Ela ajuda na reabilitação do órgão”, explicou o cardiologista Cléber Glória. “Porém, mais detalhes sobre o procedimento serão divulgados no início da pesquisa”, informou.
Não existe credenciamento para ser voluntário no projeto. Para se enquadrar no protocolo da pesquisa, é preciso estar dentro dos critérios de inclusão e ser encaminhado pelo coordenador da fase clínica para a triagem, uma vez que é um protocolo de pesquisa. Os protocolos clínicos aprovados pelo comitê de ética e pesquisa em seres humanos possuem uma metodologia pré-definida, com um número de pacientes e critérios de inclusão e exclusão. O coordenador da fase clínica faz o encaminhamento dos pacientes para triagem.
Encontro de representantes da Santa Casa de Misericórdia e do Instituto Galzu
Encontro de representantes da Santa Casa de Misericórdia e do Instituto Galzu / Divulgação

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