Política contestável parte II: por que o Anda Campos não foi implementado no setor C?
24/01/2020 12:16 - Atualizado em 24/01/2020 13:18
Linhas operadas pela São João não implementaram o Anda Campos e ofertam milhares de usuários para a Riocard
Divulgação/Prefeitura de Campos
Tem chamado a atenção de diversos usuários do transporte público de Campos que, em linhas atendidas pela Empresa São João, em especial todo o Terminal C, não foi implementado o cartão de integração "Anda Campos", prometido pela prefeitura de Campos para o novo sistema de transporte.
Embora operante nos demais terminais, no Terminal C o Anda Campos não é aceito.
Para os usuários que utilizam somente o Terminal C e que já haviam adquirido o cartão Anda Campos, nenhuma possibilidade de ressarcimento e o cartão virou enfeite. Para os usuários que passam pelo Terminal C e outros terminais como, por exemplo, quem sai de Travessão [C] com destino a Goytacazes [A], fica a necessidade de sempre ter que recarregar dois cartões de integração diferentes.
Os motoristas das vans no setor C, inclusive, já haviam se preparado para operar com o Anda Campos, instalando as máquinas leitoras, que se diferem do equipamento da Riocard.
Mas fica a pergunta: por que o Anda Campos não foi implementado no setor C?
E por que a Riocard?
A empresa de bilhetagem Riocard é ligada à Fetranspor (Federação das Empresas de Transporte), entidade que reúne dez representações e atua como ponte entre o poder público e os empresários do ramo. É responsável pela gestão do Bilhete Único fluminense e movimenta cerca de R$ 6 bilhões por ano.
Após a adoção do Riocard no Terminal C, se espalharam pela cidade funcionários da empresa, pontos de recarga automatizados e muitos outdoors apresentando o novo cartão. Uma operação de divulgação maior até mesmo que em relação ao Anda Campos, utilizado em outros 5 terminais. 
Em 2017, a Operação Ponto Final começou a apurar irregularidades na Riocard, apontando possível retenção irregular de créditos e manipulação dos números da bilhetagem, além de outras práticas ilícitas cometidas pela Fetranspor, como reajustes injustificados de tarifas e prevaricação de funcionários responsáveis por fiscalizar o setor.
Mesmo sob investigação, em 2018 o governo estadual renovou todos os contratos com a Riocard.
Já em 2019, o ex-presidente Fetranspor, Lélis Teixeira, em delação premiada, afirmou que pelo menos 30 autoridades fluminenses concederam benefícios fiscais e tarifários em troca de pagamentos sistemáticos de propina e de doações irregulares para financiar campanhas eleitorais.
Na delação, Lélis Teixeira entregou nomes conhecidos ligados ao esquema, como Anthony Garotinho e Sérgio Cabral.
Os fatos acima mencionados podem não ter relação alguma com o caso de Campos, mas levam a questionar porque somente o Terminal C aderiu ao Riocard como sistema de bilhetagem, uma vez que a proposta era de um sistema único projetado exclusivamente para Campos. 
Tem cheiro de pergunta que nunca vai ter resposta.

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    Gilberto Gomes

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