Política contestável parte I: chuva revela a humilhação diária no novo sistema de transporte em Campos
24/01/2020 12:15 - Atualizado em 24/01/2020 16:38
E a incapacidade de sensibilização do governo Diniz revela suas origens
Reprodução internet
Os dias de chuva em Campos ressaltam o sofrimento diário de quem mora nos distritos e precisa lidar com o novo sistema de transporte apresentado pelo governo Rafael Diniz.
Escrevo este texto, o primeiro de uma série de abordagens, dentro de um ônibus lotado, no terminal C (que integra Travessão e outros distritos ao Centro de Campos). Do lado de fora, muita chuva e dezenas de pessoas que, desde a implementação do "sistema alimentador", são obrigadas a desembarcar no meio do caminho para trocar de veículo.
Em um dia comum, sem chuva, as dificuldades já existem. Mas em dias como hoje o cenário é desolador.
Idosos com dificuldades de locomoção tentam desviar de poças d'água num local que sequer foi preparado para receber um ponto de integração,  mulheres com crianças de colo tentam se proteger da chuva nas poucas tendas que existem no terminal improvisado/inacabado. As mesmas cenas podem ser vistas em outros terminais.
A cada desembarque das vans, mais correria de dezenas de usuários do transporte público que anteriormente podiam embarcar em seu distrito e chegar ao seu destino, no centro da cidade, de forma digna. 
O que mais dói pra essa gente é a humilhação por estar cada dia mais segregada.
Já não bastasse a distância de serviços básicos de saúde, educação e lazer, alcançá-los está cada dia mais difícil.
O tempo das viagens aumentou, o transporte de estudantes, idosos e deficientes piorou e se você precisar passar pelo terminal C, torça para não chover.
Mas ainda assim, Rafael e seus asseclas dizem o contrário. Estufam o peito pra defender uma suposta gestão inovadora. 
Para saber a verdade basta uma volta de 10 minutos nas vans, nos ônibus, nos terminais e ouvir as pessoas.
Mas o que chama a atenção é a incapacidade de sensibilização do governo.
Na última semana tive a oportunidade de conversar com um professor muito respeitado de nossa cidade, que analisa de forma muito coerente como o governo ainda consegue insistir na alucinação de que o novo sistema de transporte e outros projetos tem melhorado de alguma forma a vida da população.
O governo basicamente é composto por técnicos insensíveis socialmente, isto é, os executores de política de Rafael, além do próprio, não são capazes de se sensibilizar com aquilo que a população campista realmente tem enfrentado no seu dia a dia.
Essa incapacidade tem raiz na origem de cada um dos escolhidos de Rafael. Seus nichos sociais não consomem as próprias políticas que constroem, não vivem nos distritos e quando levam mais de 10 minutos pra chegar no trabalho é porque moram no Nashville ou qualquer outro condomínio de luxo mais afastado na cidade.
Aos olhos de qualquer usuário do transporte público de Campos, é incabível acreditar que alguém possa defender um modelo que, ao invés de facilitar, piorou a sua vida.
Rafael tem atacado aquilo que é mais sensível para um trabalhador pobre, a sua dignidade. E essa insistência, seja pela falta de coragem em voltar atrás ou pela própria insensibilidade social, não pode ter outro resultado senão a vingança nas urnas. 

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    Gilberto Gomes

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