O avanço da variante Ômicron e o aumento de casos da gripe, inclusive com coinfecções, fizeram Campos voltar para a fase verde do Plano de Retomada das Atividades Econômicas e Sociais, que indica situação de atenção moderada. A decisão foi tomada na primeira reunião do Gabinete de Crise de Combate à Covid-19 de 2022, realizada na manhã desta segunda-feira (10). De acordo com a Prefeitura, o município se encontra com índices de transmissibilidade progressivos da infecção e, segundo o último boletim, divulgado na sexta-feira (7), já resgistrou 1.722 óbitos e 52.698 casos confirmados da doença desde o início da pandemia. As novas restrições foram publicadas em edição suplementar do Diário Oficial do município.

O novo momento da pandemia do coronavírus, com contaminação em larga escala da nova variante, e o cenário epidemiológico municipal, que aponta para subida de casos da doença com possibilidade internações e até óbitos, preocupam as autoridades e exigem ações de prevenção mais efetivas da população, como evitar aglomerações, uso de máscara, além da imunização completa.

Ao iniciar a reunião, o secretário municipal de Saúde, Paulo Hirano, ponderou que a pandemia tem suas características próprias em decorrência da evolução do vírus, da mutação e que a cada momento surgem novas surpresas. E, segundo o secretário, a surpresa do momento é que a Ômicrôn vem se mostrando altamente contagiosa, apesar de ser responsável por casos mais leves.

— Esse é um fato muito importante, no que diz respeito ao preparo, à necessidade de leitos novos, de uma estrutura maior para o atendimento, inclusive, neste momento em que estamos tendo aumento muito significativo dos casos de contaminação, porém mais leves. Os pacientes mais graves, e quando necessitam de uma internação em leito de UTI, mais de 95% são pacientes que não foram imunizados. Isso mostra a importância da vacina. Então, hoje, mais do que nunca, é inadmissível o discurso ou posicionamento negacionista sobre a vacina. A vacina é importante, a vacina é vital — disse Hirano, que defendeu, ainda, a manutenção do uso de máscara, distanciamento social e a higienização correta das mãos.

Para contextualizar o cenário epidemiológico atual e capacidade de transmissão da Ômicrôn, o subsecretário de Atenção Básica, Vigilância e Promoção da Saúde (Subpav), Charbell Kury, relatou que, em seis meses, ou seja, de janeiro a junho de 2021, foram diagnosticados 10 milhões de casos no mundo. E, somente em 10 dias de 2022, já foram 10 milhões de novos casos. “Somente em sete dias, foram 2 milhões de casos da Ômicrôn”, disse o subsecretário, acreditando que a variante veio para ficar e, com isso, podem surgir casos de reinfecção da doença e crianças fazendo casos mais graves.

O subsecretário ressaltou, ainda, que a nova variante é cinco vezes mais transmissível que a Delta, que já era 97% mais transmissível que a cepa original (SARS-CoV-2). “A Ômicron já soma 98% dos casos no Rio. No Brasil, são 35 mil casos diários, podendo chegar a 1 milhão em março”, disse, lembrando que de março a abril do ano passado foi o pior momento da pandemia no município, que chegou a ficar com 100% de ocupação de leitos de UTI e clínica médica, a registrar 20 óbitos diários e com 56 pessoas na fila de espera, quando ocorreu o encontro das variantes Gama, Alpha, seguidas da P2 e Delta. “Graças à vacinação, que venceu o negacionismo, houve a redução da transmissão dessas variantes”.

Outro ponto bastante debatido na reunião foi a vacinação de crianças de 5 a 11 anos. Entre muitas informações desmistificadas está a questão da tecnologia da vacina (RNA), eficácia e efetividade. De acordo com Charbell, já foram aplicadas mais de 10 milhões de doses do imunizante e não há registro de morte por evento adverso da vacina. Segundo o especialista, as mortes por Covid em crianças no Brasil somam mais de 2 mil, enquanto que outras doenças preveníveis por vacina chegam a 1.500.

Charbell mandou um recado para as mães: “Vacine seu filho. Nós confirmamos: a vacina é eficaz, é segura”, disse o infectologista, que, além de subsecretário, atende em ambulatório na secretaria de Saúde.

A vacinação será iniciada no município assim que as doses forem enviadas pelo ministério da Saúde,  o que, segundo Paulo Hirano, deve ocorrer até o início da segunda quinzena deste mês. “É inadmissível que ainda hoje as pessoas não tenham consciência da responsabilidade da imunização”, disse o secretário, que também mandou um recado direto para os pais: “Pelo amor de Deus, esqueçam essas correntes antivacina. Todos os estudos mostram a efetividade da imunização. Essa nova variante está, sim, atingindo mais pessoas, mais rapidamente e sempre agredindo mais aqueles que não estão imunizados, dentre elas todas as nossas crianças abaixo dos 12 anos. Então, relembramos a importância da imunização da primeira para quem não tomou nenhuma, da segunda para quem já tomou a primeira e da terceira para quem já tomou a segunda. E as nossas crianças deverão ser todas elas imunizadas para que possamos protegê-las. É uma responsabilidade nossa enquanto poder público, mas principalmente é uma responsabilidade dos pais, dos responsáveis por esses pequeninos”, disse o secretário.

Charbell e Hirano estão convictos de que a variante Ômicron veio para ficar, pois ela foi a que mais se adaptou ao ser humano, transmitindo mais e matando menos. “Uma pessoa infectada com Delta transmite até cinco. Já uma pessoa com Ômicron pode transmitir para até 12 pessoas”, explica o subsecretário.

Essa mudança de comportamento do vírus está ligada diretamente ao fenômeno “desproporção”, ou seja, o aumento de casos não ocorre simultaneamente ao de óbitos. “Campos é a única cidade na região que mantém a vacinação noturna, o que, inclusive, é um marco, mas ainda assim há 25 mil pessoas que ainda não tomaram nenhuma dose da vacina contra o coronavírus, com isso, a alça epidemiológica aponta para uma subida discreta de novos casos da doença e aumento na ocupação de leitos clínicos”, observou Charbell. Para ele, a desinformação ainda é um problema, mas a onda antivacinação não está se consolidando no país.

Participaram da reunião do Gabinete de Crise o subprocurador Geral do Município, Gabriel Rangel; o procurador Leonam Rodrigues; a assessora chefe da Vigilância Sanitária, Vera Cardoso de Melo; o representante do Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino (Sinepe), Bruno Lannes; a subsecretária de Turismo de Campos, Patrícia Cordeiro; entre outros.

De acordo com o Decreto Nº 002/2022, os estabelecimentos comerciais e de prestação de serviços, incluindo academias, poderão funcionar até as 22h — com algumas exceções, como farmácias, que podrão ter o horário estendido —, respeitando o limite de 80% da capacidade de lotação e obedecendo os protocolos “regras da vida”. Nos shoppings, fica proibido o consumo de alimentos fora da praça de alimentação.

Os bares, restaurantes e congêneres poderão atender até as 4h, com autorização para música ao vivo, sendo vedado pista de dança e bandas. Está permitida a exibição áudio visual de jogos ou eventos esportivos, devendo ser respeitado o distanciamento social, sendo vedada a permanência de pessoas em pé. As áreas de brinquedoteca e parquinhos infantis também estão liberadas, com capacidade máxima de 80%, estando proibidos os brinquedos de contato de difícil limpeza recorrente, tais como piscina de bola, escorrega, túneis e outros.

O decreto permite, ainda, o funcionamento de parques de diversões, com capacidade máxima de 80%, ficando proibidos alojamentos infantis. O funcionamento de cinema, teatro e museu também está permitido, com 85% de capacidade máxima.

De acordo com o decreto, os frequentadores de bares, restaurantes, academias, campos de futebol, cinema, museus, teatros, festas e comemorativos de buffet, estabelecimentos da praças de alimentação de shoppings, e esportes coletivos e outras atividades geradoras de aerossóis deverão apresentar na entrada a comprovação de vacinação da 2ª dose de vacina contra a Covid-19, ficando liberados da exigência os consumidores com idade abaixo da faixa etária praticada no calendário de vacinação naquele dia pelo município.

Fica liberada, ainda, a realização de eventos de massa devidamente comunicados e autorizados pelas autoridades competentes, conforme deliberação de comissão especial, com capacidade limitada de 80% do espaço físico, restrito a no máximo 3 mil pessoas para ambientes fechados e 6 mil pessoas para eventos ao ar livre. O organizador do evento será responsável pela cobrança de cartão de vacina com a 2ª dose. A duração dos eventos noturnos terá o limite de horário até 4h.

A circulação de pessoas em ônibus, vans e outros meios de transporte coletivos deverá observar a redução em 80% da capacidade de lotação, com todos os passageiros sentados, bem como a recomendação que os táxis e motoristas de aplicativos trabalhem com vidro dos veículos abertos.

Ficam liberadas as aulas no modelo presencial, no modelo hibrido e não presencial, para todas as atividades de ensino, devendo os alunos que comparecerem a aulas presenciais e que possuam a idade superior ou compatível com o dia da vacinação vigente no município apresentar o cartão de vacinação, ficando liberados da exigência os alunos com idade abaixo da faixa etária praticada no calendário de vacinação naquele dia pelo município.

A próxima reunião do Gabinete de Crise está marcada para o dia 7 de fevereiro, às 9h.