José Eduardo Pessanha: Mais um para a mesa do céu
José Eduardo Pessanha - Atualizado em 20/05/2022 15:18
José Eduardo  Advogado e professor universitário
José Eduardo Advogado e professor universitário

Nesta semana, ao alvorecer, na segunda-feira, tivemos a péssima notícia do passamento de mais um grande amigo. Um cidadão pacato, ordeiro, amigo, prestativo, companheiro e que só emanava bons fluídos: Carlos Aroldo Bento Tavares ou, como para muitos, “Aroldo Tavares”, ou ainda, simplesmente, “cabeça”, do “Pagode do Cabeça”, programa que era comandado pelo mesmo, de segunda à sexta-feira, na parte da tarde, na rádio Difusora de Campos-AM.
Aroldo era um parceiro do dia a dia, pois a nossa mesa estava sempre reservada no Bar do Gelo (normalmente sentávamos apenas nos dois), onde o proprietário, Ronaldo, outro cidadão folclórico, que sofrerá demais com a saudade na perda, nos municiava de belas cervejas geladas (nem sempre) e, às vezes, de tira-gostos feitos, com carinho, sob encomenda. Naquele local simples, passávamos as entradas de noites ou mesmo os sábados (e às vezes parte dos domingos), em discussões acaloradas, entre as diferenças do Vasco e Flamengo, principalmente, mas, sempre encerrando com a perspectiva de em breve continuarmos a resenha.
Como profissional, dedicou quase toda vida laboral ao rádio, em que era técnico de sonorização e radialista, realizando com maestria seu trabalho, sendo, entre nós, o amigo de ouvido mais apurado, capaz de discernir a menor discrepância musical, conhecendo pelas introduções as músicas de sucesso, principalmente os pagodes, como era de se esperar, e os flashbacks. Sua principal distração, além da “conversa de botequim”, era criar playlists no aplicativo Spotify, o que consumia grande parte de seu tempo livre.
Deixa suas grandes paixões: a esposa, os amigos, a fiat uno e a música, nesta ordem, salvo engano. Aroldo, que às vezes franzia o cenho, expressando aquela “cara de poucos amigos”, na verdade usava esta estratégia porque não sabia se defender de algumas brincadeiras, logo assim dizia: “melhor manter distância de fulano”, mas na verdade era somente cênico, pois o coração abrigava (e abrigaria) um incontável número de amigos.
Como dizia a letra da famosa música de Sérgio Bitencourt, eternizada por Nelson Gonçalves, “naquela mesa está faltando ele...”, pois as teses, elucubrações, conspirações, gracejos e teorias nunca mais serão as mesmas. Aroldo só se fechava mais quando o assunto retornava na perda de seu filho único, há alguns anos atrás, tragédia familiar que levou uma relevante parte de sua alegria de viver e dor que nunca passava.
Imaginamos, agora, como estará a “mesa do céu”, com Aroldo (colocando a música), Zé Psiu, Maurício Beição, Pedro Cachaça, Reginaldo, Barbosa, Aristal, entre outros eminentes botequeiros campistas, que, envoltos em rusgas e discussões, estarão velando por nós, que aqui ficamos nas agruras do mundo contemporâneo, tentando seguir na caminhada e cumprir os desígnios do Grande Arquiteto do Universo.
O fato é que Aroldo Tavares, que mandava, diariamente seu “alô” (nunca esquecendo os amigos Menezes e Muniz), no programa da AM já enraizado no cotidiano dos campistas, notadamente os apreciadores de uma conversa de bar, silenciou... agora, as tardes no rádio não serão mais as mesmas e as noites no Bar do Gelo, certamente, serão mais frias. Amigos ficarão, ainda que temporariamente (todos nos encontraremos um dia), órfãos do “cabeça”, de suas tiradas, seus olhares cênicos de reprovação, deixando os companheiros, como Moacir, Vitinho, Sabão, Gerardo, Eduardo Cabeça, Eduardo Dentista, Horácio, Dedé, Marcelo e muitos outros no chamado “vácuo”... “vácuo da saudade”!
Amado amigo Aroldo, vá em paz que aqui manteremos viva a sua lembrança e que seu espírito evolua nas paragens do Senhor. Até um dia!

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