Classe artística quer a reativação do Teatro de Bolso, que, segundo a Prefeitura, será reformado
Matheus Berriel 03/02/2022 22:09 - Atualizado em 03/02/2022 22:09
Teatro de Bolso
Teatro de Bolso / Folha da Manhã
A pouca utilização do Teatro de Bolso Procópio Ferreira, que ainda não recebeu eventos em 2022, tem sido questionada por integrantes do setor artístico-cultural de Campos. Em carta aberta publicada nas redes sociais no último dia 24, direcionada à Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima (FCJOL) e aos setores públicos da arte local, o ator Rodri Mendes questionou sobre o retorno das atividades culturais no local. Segundo a presidente da FCJOL, Auxiliadora Freitas, o Teatro de Bolso passará por reforma a partir dos próximos dias.
Em junho do ano passado, a secretária estadual de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro, Danielle Barros, visitou o Teatro de Bolso, dando início a estudos de ações que colaborem para viabilizar a reativação do espaço.
— Com imensa alegria, conheci o Teatro de Bolso, uma preciosidade, que representa muito para o artista daqui e, se é importante para o município, também é importante para o governo do Rio de Janeiro. Observamos cada espaço, com a ajuda de uma equipe do Instituto para o Desenvolvimento do Esporte e da Cultura (Idec). Estamos empenhados em fazer com que esse lugar retorne a ter suas portas abertas. Para tanto, utilizaremos parcerias que estão contribuindo para esse tipo de ação, em equipamentos culturais, em diversos municípios — disse Danielle na ocasião.
No final de julho, o prefeito de Campos, Wladimir Garotinho (PSD), esteve reunido com o deputado federal Áureo Ribeiro para tratar da recuperação de equipamentos culturais. A reforma do Teatro de Bolso também foi citada.
Porém, na prática, nada mudou. Nas poucas vezes em que foi utilizado desde a retomada das atividades presenciais da cultura em Campos, o Teatro de Bolso recebeu um debate sobre grafite, no Dia Nacional da Cultura (5/11); e o espetáculo “A.sal.ariados 2”, do Curso de Capacitação Teatral Letras em Movimento, em 18 de dezembro. Houve também outras atividades, como a peça “Segunda Chance”, encenada pela Cia CulturArt; o musical “Natal dos Sonhos”, com crianças e adolescentes do Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFV); a leitura dramatizada “Uma história de Natal”, do Curso Livre de Teatro; e uma apresentação do Projeto Dançarte. Contudo, não houve apresentações de grupos e artistas independentes.
Eventos não relacionados à cultura também foram realizados, como o Fórum de Direitos Humanos da subsecretaria de Igualdade Racial e Direitos Humanos, e um curso preparatório para edital da secretaria estadual de Cultura e Economia Criativa, ambos em dezembro.
— A impressão que eu tenho é a de que teremos mais uma gestão onde o “único” espaço do artista local ficará fechado, “reformando”. Eu já conheço essa história. Digo “único” considerando o fato de o Teatro Municipal Trianon ser simplesmente inacessível, porque o valor para um fim de semana é absurdamente caro. Nenhum artista local tem condições de bancar. Aí o espaço fica aberto para um monte de outras vertentes sociais — diz Rodri Mendes em sua carta pública. — Não sou contra nenhum destes eventos, afinal os teatros são espaços democráticos e, se tratando de um teatro público, o uso democrático se intensifica. Porém, a democratização do espaço para por aí, e eu nunca consegui entender o porquê. Sem contar que quando há apresentações, os valores dos ingressos são igualmente inacessíveis ao grande público — lamenta.
Na carta, Rodri Mendes reconhece a importância dos editais abertos pela FCJOL para acesso à Lei Aldir Blanc, mas ressalta que esta iniciativa é obrigação do poder público.
— Só isso não é suficiente! Queremos o espaço dos teatros, especialmente do Teatro de Bolso, de volta às nossas mãos. Queremos a decisão de podermos viver da nossa arte aqui, na nossa planície. As opções são várias: editais para apresentações on-line; abertura dos espaços para ensaios, respeitando os protocolos sanitários; uso dos espaços para apresentações presenciais e pequenas exposições, também respeitando os protocolos sanitários — enfatiza Rodri.
O ator Pedro Fagundes, o poeta Adriano Moura e as atrizes Katianna Rodrigues e Adriana Medeiros foram alguns representantes da classe artística a interagir com o autor da carta nas redes sociais, fortalecendo o discurso. “É preciso um envolvimento muito maior, mas há uma facção que se delicia com essas migalhas e acredita que o que está fazendo seja o suficiente. Precisamos nos reunir, deixar de lado o ego e sermos arte. Para isso, é preciso coletivo, coragem e coração. Sigamos”, comentou Adriana Medeiros no Facebook.
Em nota à Folha, a presidente da FCJOL disse que há previsão de início de reforma no Teatro de Bolso nos próximos dias.
— Através de recursos da FCJOL, será realizada a reforma do telhado, tão logo o período de chuvas tenha fim. Na parte interna, a caixa cênica (área do palco) receberá intervenções de recuperação e modernização através da secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro, por meio de parceria, também prevista para começar nas próximas semanas. As intervenções internas e externas, pela parceria com a secretaria Estadual de Cultura e Economia Criativa, devem consumir alguns meses de trabalho, pois envolvem pintura interna e externa, troca de carpetes das paredes e do piso da plateia, e instalações de equipamentos de sonorização e iluminação de última geração, além de sistema de projeção. Com tais mudanças, teremos um novo Teatro de Bolso para entregar aos artistas de nosso município — afirmou Auxiliadora Freitas.
— O cenário pandêmico e as más condições de estrutura física e cênica encontrados em janeiro de 2021 fizeram a FCJOL iniciar processos para a busca de recursos e elaboração de projetos de obras, no sentido de revitalizar o teatro. Toda essa logística inviabilizou, por questões de segurança, a abertura de agenda para produções artísticas locais. Agendamentos para alguns poucos eventos, em sua maioria corporativos da municipalidade, foram possíveis, pois a estrutura do espaço não dependia de recursos cênicos avançados e capacidade de público. Para 2022, a programação para os equipamentos da FCJOL está planejada, com elaboração seguindo os eixos do programa “Culture, Campos – com horizonte!” e o Plano Municipal de Cultura — complementou a presidente da Fundação Cultural.

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