Historiador fala em ciclo infernal de enchentes
Dora Paula Paes - Atualizado em 15/01/2022 09:34
Divulgação
Nunca se teve uma enchente em Campos como em 1966. Porém, ano a ano, a cota do nível do rio Paraíba do Sul, que corta Campos e deságua no pontal de Atafona, em São João da Barra, assusta no verão. Para historiadores e registros da Defesa Civil Municipal, 2007, 2008-2009 e 2012 foram os anos das piores enchentes já registradas no município, até o Paraíba começar a jogar água para fora dos ralos novamente na última quarta-feira (12). Para o historiador e ecologista Aristides Soffiati existe no município um “ciclo infernal” de enchentes.
Nesta nova enchente, a maior cota foi de 10,97m, acima da cota de transbordo de 10,40m. As comunidades da Coroa e da Ilha do Cunha foram afetadas. Bairros de Guarus, como Jardim Carioca, Vicente Dias e Parque Prazeres tiveram ruas tomadas pelas águas. Na área central, a avenida 15 de Novembro também teve água vertendo de bueiro.
“Acompanhei de perto, até mesmo com os pés dentro d’água, as enchentes de 2007, 2008-09 e 2012. Acho que a maior de todas foi a de 2008-09, mais destruidora no sistema Ururaí, que compreende o rio Imbé, a Lagoa de Cima, rio Ururaí, Lagoa Feia. Ela até nos fez deixar a enchente do Paraíba em segundo plano. A maior de todas foi em 1966”, disse Soffiati.
O ecologista e historiador se refere a enchente na qual o promotor Marcelo Lessa, falecido no ano passado, enfrentou briga com ruralistas de Campos e mandou explodir diques na Baixada Campista. Na ocasião, o promotor defendia que vidas humanas eram mais importantes do que plantações e animais. Pelos registros oficiais da Defesa Civil do município, a maior cota do Paraíba, na história recente, foi em 2007, quando alcançou a marca de 11,46m, que difere até do divulgado na ocasião de que foi de 11,62m e que teria superado a enchente de 1966.
— Esses episódios desastrosos são ótimos para sobrevoos, caridade pública, anúncio de auxílios financeiros pelo Estado ou pela União para tudo acontecer de novo no ano seguinte. Basta dizer que o dique de Boianga, em Três Vendas (Campos) se rompeu com a enchente de 2020 e ficou lá, sem reparo nenhum - ressalta Soffiati, e ainda de acordo com ele, o sistema montado pelo Departamento Nacional de Obras de Saneamento (DNOS) está estafado:
— A cidade cresceu em áreas perigosas. Em vez de mostrar que está acompanhando a enchente em todos os lugares, Wladimir (prefeito de Campos) deveria repensar Campos para adaptar o município à nova realidade.
Em 2007 - A enchente de 2007 é apontada pela Defesa Civil Municipal como a que registrou o maior nível de elevação do Rio Paraíba do Sul. Essa enchente ficou marcada na história do campista como a que derrubou a ponte General Dutra. Ela não suportou a força das águas e um dos pilares se rompeu.
Em 1966 - O blogueiro da Folha da Manhã, Edmundo Siqueira, divulgou recentemente com base na história: “Em 1966, o Paraíba saiu do seu leito 30 km no sentido da margem esquerda. Em sentindo contrário ao mar a inundação foi de 120km. A pecuária e agricultura foram atingidas em 90%. Matéria do O Globo informava 3.815 desabrigados e 250 mortes”.
Estado gasta milhões em plano de socorro
O governador Cláudio Castro e o seu secretariado monitoram as chuvas e enchentes que atingiram todo o Estado do Rio, desde o último dia 6. “Estamos em alerta e já colocamos à disposição o segmento do Plano de Contingência com todas as secretarias para ajudar a população e os municípios como for preciso”, disse o governador Cláudio Castro, em sua passagem por Barcelos, em São João da Barra, onde rompeu o dique do canal São Bento.
Ele chegou a dizer que a Secretaria de Cidades e o Departamento de Estradas de Rodagem (DER-RJ) atuam em ações em 12 rodovias estaduais, “O estado vem investindo desde o ano passado R$ 46,5 milhões em obras de contenção de encostas em várias regiões fluminenses”, ressalta.
O Programa Limpa Rio, realizado pelo Inea, já beneficiou, até o momento, 38 municípios com mais de 90 intervenções em rios e canais dos quais foram retirados mais de um milhão e 600 mil metros cúbicos de sedimentos.

ÚLTIMAS NOTÍCIAS