Cinema - Recado explícito
Edgar Vianna de Andrade - Atualizado em 20/12/2021 18:11
Em “O vigésimo sétimo dia” (“The 27th day”), filme em preto e branco dirigido por William Asher e lançado em 1957, não há metáforas camufladas. O recado é direto. O mundo está dividido entre duas potências: Estados Unidos e União Soviética. Ambas dominam a bomba de hidrogênio. Uma terceira guerra mundial pode aniquilar o mundo. A China está consolidando a revolução comunista. De um lado, ditadura. De outro, democracia. Nesse contexto, cinco pessoas são abduzidas: uma inglesa, uma chinesa, um soldado soviético, um jornalista e um cientista dos Estados Unidos. Um emissário de outro planeta lhes explica o que ocorre. O planeta dele está com os dias contados não por conflitos, mas por razões naturais. Seus habitantes precisam de outro planeta para continuar existindo, mas seus princípios éticos impedem a invasão de outro mundo e o sacrifício de qualquer ser vivo.
Ele entrega a cada um dos terráqueos um estojo com três cápsulas mais poderosas que a bomba H e lhes diz que elas só podem ser abertas com a força do pensamento do presenteado. Eles podem fazer o que bem entenderem com as bombas, inclusive doá-las a seus governos. Antes de voltar a seu país, o emissário espacial interrompe a programação de todas as TVs do mundo e anuncia a entrega dos estojos a cinco terráqueos sem lhes mencionar os nomes, mas dando pistas. A chinesa, por sua vez, se mata num ritual budista. A inglesa (Valerie French) joga seu estojo no mar. O soldado russo esconde das autoridades a bomba recebida. Afinal, nem todo comunista é mau. O jornalista norte-americano (Gene Barry) não se manifesta. O professor sofre um acidente de carro e fica inconsciente por um tempo.
A inglesa vai ao encontro do jornalista norte-americano e ambos combinam de se esconder por 27 dias, prazo dado pelo ET para todos decidirem o que fazer com as cápsulas. O roteiro se encaminha para a bipolaridade Estados Unidos x União soviética. Afinal, a China ainda não é uma ameaça, e a Inglaterra é uma potência de segunda categoria. O soldado soviético é torturado até revelar como o estojo é aberto. Detendo o segredo, o comandante militar mau exige que os Estados Unidos retirem suas tropas da Europa e do Oriente Médio. Não há perigo de revide, caso o governo dos Estados Unidos detenha também o segredo de detonar as cápsulas. Os democratas são bons. Eles só revidam se forem atacados. Mostrando que deseja a paz, os Estados Unidos aceitam as exigências soviéticas, pois um teste feito com um cientista mostrou que as cápsulas são realmente poderosas.
O professor que também recebeu as cápsulas tenta decifrar a mensagem matemática contida nelas. Ele é prudente e sábio, bem diferente dos cientistas soviéticos e alemães. Contudo, mais sábio do que ele é o emissário do outro mundo. A entrega dos estojos a cinco humanos foi um teste. Os conflitos na Terra sempre existiram. Eles não são novidade. O novo é a arma de destruição total. O filme sugere que as mulheres resolvem melhor tais problemas. Uma joga seu estojo no mar, e a outra se mata. A questão tem de ser decidida entre homens e países poderosos.
Está claro que uma inteligência superior de outro planeta não entregará tão grande poder a terráqueos. A arma só destrói os maus, aqueles que são ditadores por natureza e desejam a guerra. Por isso, o grande líder soviético e o cientista alemão são destruídos pelo poder da bomba. Além de pacifistas, os norte-americanos acolhem os habitantes do planeta agonizante em suas terras. Afinal, os Estados Unidos amam os imigrantes. Embora os supremacistas brancos nem sonhassem em ter um presidente que os representasse quando o filme foi produzido, a tendência dos habitantes dos Estados Unidos não é muito simpática aos que vêm de fora.
Trata-se de um filme saturado de ideologia, produzido para passar mensagens claras e nada subliminares.

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