Ethmar Filho - O Canto Coral (III): a abordagem científica
Ethmar Filho - Atualizado em 08/07/2021 18:23
Fechamos essa série de artigos a respeito do Canto Coral com a abordagem científica do tema, para que os leitores tenham a verdadeira dimensão dos benefícios dessa prática musical no desenvolvimento mental e físico de crianças e adolescentes, através da aprendizagem. Por ser a aprendizagem um fenômeno complexo, ela envolve aspectos emocionais, cognitivos, orgânicos, psicossociais, culturais e relacionais, sendo resultante do desenvolvimento de aptidões e de conhecimento, bem como a transferência destes para novas situações. Na visão Vigotskiana, dentro de uma concepção histórico-cultural, o caráter histórico do pensamento verbal está sujeito a todas as premissas do materialismo histórico, que são válidas para qualquer fenômeno histórico na sociedade humana. Para Vygotsky o pensamento é gerado pela motivação, por nossos desejos e necessidades, nossos interesses e emoções. Por trás de cada pensamento há uma tendência afetivo-voluntária. Assim, a compreensão absoluta do pensamento de outrem só é possível quando entendemos sua base afetivo-evolutiva.
Para Vygotsky, a aprendizagem sempre inclui relações entre pessoas. A relação do indivíduo está sempre mediada pelo outro. Não há como aprender e compreender o mundo se não estivermos com o outro, sem aquele que nos fornece os significados que permitem pensar o mundo a nossa volta. Com isso, Vygotsky (1989) entende que o desenvolvimento do indivíduo é um processo que ocorre de fora para dentro, e que o meio influencia o processo de ensino-aprendizagem. A aprendizagem está em função não só da comunicação, mas também do nível de desenvolvimento alcançado através do qual o sujeito constrói os conceitos comunicados, a análise qualitativa das estratégias, os erros, as generalizações.
Podemos afirmar, segundo Vygotsky, que a aprendizagem acontece por um processo cognitivo imbuído de afetividade, relação e motivação. Assim, para aprender é imprescindível poder fazê-lo. Isso faz referência às capacidades, às condições, aos conhecimentos, às estratégias e às destrezas necessárias. Para que isso ocorra, é necessário querer fazê-lo, desejar fazê-lo; ter disposição, a intenção e a motivação suficientes.
O estudo da motivação considera três tipos de variáveis: o ambiente, o organismo e o objeto. A cadeia da motivação é: ambiente + organismo + interesse ou necessidade + objeto de satisfação. A motivação é um processo que relaciona necessidade, ambiente e objeto, que predispõe o organismo para a ação em busca da satisfação da necessidade.
Interpretando a teoria de Vygotsky, na perspectiva sócio-histórica, a motivação é que mobiliza o organismo para a ação, a partir de uma relação estabelecida entre o ambiente, a necessidade e o objeto de satisfação. Na base da motivação está um organismo que apresenta uma necessidade, um desejo, uma intenção, um interesse, uma vontade ou uma predisposição para agir. Nesse caso, podemos afirmar que tanto o ambiente que estimula o organismo quanto o objeto de satisfação que é oferecido se incluem no processo que envolve a motivação. Na motivação está inserido o objeto que aparece como possibilidade de satisfação da necessidade. Uma das grandes virtudes da motivação é melhorar a atenção e a concentração. O sujeito, ao sentir-se motivado, tem vontade de fazer algo. Nesse ponto, torna-se capaz de regularizar o esforço necessário, durante um tempo, também necessário para atingir o objetivo proposto. Assim, a preocupação do ensino tem sido a de criar condições tais para que o aluno tenha vontade de aprender; apreendendo o conhecimento de uma forma mais confortável. O professor deve mobilizar as capacidades e potencialidades dos alunos, identificando e aproveitando aquilo que atrai o sujeito de modo a privilegiar seus interesses. Motivar também é encantar, prender a atenção, seduzir, atrair, utilizando o que o sujeito gosta de fazer como forma de engajá-lo no ensino.
Uma pesquisa feita por alguns catedráticos da Universidade Bucknell da Pensilvânia (EUA) ampara a ideia de que instigar a iniciativa e a autonomia discente se torna mais eficaz do que a vã tentativa de controlar tudo no ambiente de ensino. A pesquisa recomenda três maneiras de a citada iniciativa e a autonomia se revelarem: autonomia organizacional, autonomia prática e autonomia cognitiva.
Na autonomia organizacional, o discente consente que os assistidos tomem decisões, a partir deles mesmos, norteados pelas normas da instituição educacional. Na autonomia prática, o professor disponibiliza ao corpo discente alternativas e outras formas diferentes de exporem suas ideias, fazendo uso dos meios da comunicação social. A revelação na autonomia cognitiva acontece quando o educador consente que o aluno se autoavalie em determinadas ocasiões, a partir de um modelo de referência em si mesmo. Percebe-se que a autonomia organizacional promove um senso de bem-estar e conforto no desenvolvimento do ambiente de aprendizagem. A autonomia prática dá sustentação para um maior engajamento nas demandas e no aprendizado, bem como a autonomia cognitiva, que favorece um investimento psicológico mais permanente no aluno que esteja incluído naquelas atividades.
Maestro Ethmar Filho – Mestre em Cognição e Linguagem, regente de corais e de orquestras sinfônicas há 25 anos
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