Cinema: Aceitação, diferenças e diversão
Felipe Fernandes - Atualizado em 29/06/2021 15:08
Banner do filme 'Luca'
Banner do filme 'Luca' / Divulgação
Uma das críticas que a Pixar vem recebendo nos últimos anos (principalmente depois de Soul) é que seus filmes estão perdendo o apelo infantil. A animação como gênero não é essencialmente voltado para crianças, mas os filmes do estúdio tem por característica conseguir cativar tanto as crianças quanto o público adulto. E “Luca”, o novo lançamento do estúdio, reencontra esse equilíbrio.
Lançado direto em streaming, o filme é uma aventura de época que se passa na Riviera italiana e conta a história de Luca (Jacob Tremblay), um menino-criatura do mar que vive com sua família e é proibido de sair das águas devido aos perigos do mundo exterior. Ao conhecer o jovem Alberto (Jack Dylan Grazer), ele acaba saindo dos mares e, além de descobrir as belezas e possibilidades de todo um novo mundo, ele descobre que se torna humano ao sair da água.
Agora, ele e o amigo vão para a cidade de Portorosso atrás de uma vespa (uma moto) que permita a eles conhecerem o mundo. Lá, eles conhecem Giulia (Emma Berman), uma jovem que busca ganhar o concurso anual da cidade e que tem como prêmio uma vespa. Dessa união nasce uma grande amizade, que vive constantemente ameaçada pelo segredo de Luca e Alberto.
Diferente da maioria dos filmes da Pixar, que traz seus protagonistas em uma jornada para voltar ao lar e se reconectar com seus princípios, “Luca” traz seus personagens no caminho inverso: eles querem deixar a segurança do lar para conhecerem o mundo.
O início passado na água traz um mundo muito bonito, colorido, mas que lembra demais outras famosas animações que apresentam esse universo aquático. Passada para o universo fora da água, a animação apresenta estilos mais originais. O filme traz diversas referências do cinema italiano e principalmente do lendário diretor japonês Hayao Miyazaki, seja no nome da cidade (Portorosso remete a um dos filmes mais famosos do diretor), seja no aspecto visual.
O filme consegue captar o clima da região, que traz uma estética diferente, baseada na cultura italiana. A própria história das criaturas marinhas faz parte do folclore da região. O concurso anual que acontece na região junta o trio principal e basicamente é formado pelos principais elementos da região: a vida marinha, a culinária e as bicicletas.
Além do visual deslumbrante e da qualidade irretocável da animação (padrão de qualidade da Pixar), o filme trabalha personagens cativantes, e a interação e suas motivações funcionam muito bem. Como ponto fraco, fica o vilão Ercole (Severino Raimondo), um dos antagonistas mais fracos do estúdio, um personagem mal trabalhado (nunca entendemos suas motivações) e irritante.
Existe uma teoria de que o filme seja uma alegoria LGBTQIA+. Analisando sob essa perspectiva, alguns elementos realmente corroboram com essa teoria. Fato é que um filme que permite leituras diferentes, em que ambas funcionam narrativamente, só confirma a qualidade do roteiro do diretor Enrico Casarosa e de seus parceiros Jesse Andrews e Simon Stephenson.
Tratando de temas como aceitação, identidade e da educação como agente libertador, o filme tem uma proposta menos pretensiosa e consegue ser mais equilibrado no fator aventura, trazendo mensagens importantes e agradando tanto aos mais novos quanto aos mais adultos, em um longa leve, bonito e muito divertido.

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