Perspectivas de cenário turvo para Campos e região
Paulo Renato Porto - Atualizado em 30/11/2020 17:13
Municípios produtores de petróleo e gás da região receberam na sexta-feira (27) os royalties referentes à produção do mês de setembro com queda de até 23%, em comparação com o repasse feito em outubro. Para Campos, foram depositados R$ 24.566.586,61, valor 18,3% menor que o do mês passado, quando foram pagos R$ 30.077.432, e 17,5% inferior que o repassado em novembro de 2019.
Em comparação com o mesmo período do ano passado, quando o município já havia registrado queda nas receitas do petróleo, Campos já teve uma perda de mais de R$ 165 milhões em 2020.
A maior queda em relação ao repasse anterior, na região, é registrada por Quissamã, de 23%. O município teve R$ 8.997.903,02 depositados nessa sexta, enquanto em outubro foram pagos R$ 11.687.821. Entretanto, em comparação com o mesmo mês do ano passado, quando entraram nos cofres da Prefeitura R$ 8.578.044, o valor é 4,9% superior.
O município de São João da Barra recebeu neste mês R$ 8.899.803,87, 14,6% a menos que em outubro (R$ 10.421.851,78) e 2% a mais que em novembro de 2019 (R$ 8.726.452,08).
Entre os municípios da região, apesar de uma queda de 18,2% em comparação com o mês passado (R$ 58.402.356), a maior fatia dos royalties ficou para Macaé: R$ 47.772.120,67. No mesmo mês de 2019, o repasse foi de R$ 53.909.539, o que representa uma queda de 11,4%.
Os repasses deste mês registraram queda devido, principalmente, à variação no preço do petróleo e do câmbio do mês de setembro que oscilaram negativamente de forma decisiva, como lembra o superintendente de Petróleo, Energia e Inovação de São João da Barra, Wellington Abreu. “As oscilações para baixo representam um dado normal no mercado neste ano pandêmico que estamos vivendo, com um cenário de turbulências na economia global ”, afirmou.
Diante de um quadro de incertezas, Abreu traça as perspectivas para os próximos dois anos com cautela. “Sou cauteloso e prefiro contar com a arrecadação que tivemos em 2020, visto que temos muitos fatores a considerar como o não termos perspectivas de aumento da produção na Bacia de Campos, período de recessão econômica mundial pós-pandemia, ação de distribuição de royalties que não foi resolvida, nova política energética mundial, problemas nas relações internacionais com a China e o twiter do nosso presidente”, enumerou Wellington Abreu.
— Devemos, portanto, ter uma maior responsabilidade para os próximos dois anos e contar com o mínimo, caso houver acréscimo, efetuar investimentos ou gerir uma poupança. Até porque nem as previsões da própria Agência Nacional do Petróleo (ANP) não apontam perspectivas de aumento em relação aos valores recebidos em 2020 — raciocinou o superintendente.
Na mesma linha, o economista José Alves de Azevedo Neto, com base também em dados da ANP, traça um panorama igualmente realista.
— A previsão de receitas de royalties e participação para 2021/2022 é pouco mais de R$ 400 milhões para Campos. O preço do barril tipo brent é de 49 dólares, com a cotação do dólar a R$ 5,00. Portanto, não temos muito o que comemorar. Se continuar como está já estará muito bom — disse.
Ainda de acordo com José Alves, em 2021 Campos irá receber em royalties o valor de R$ 367,8 milhões e de participação especial o quantitativo financeiro de R$ 50,5 milhões. E, em 2022 os royalties previstos serão de R$ 387,3 milhões e a participação especial de R$ 55,6 milhões. “Portanto, o novo prefeito de Campos, que será eleito neste domingo terá a sua disposição em royalties e participação especial, tanto em 2021 como em 2022, um pouco mais de R$ 400 milhões, segundo os cálculos da ANP, para enfrentar os crescentes problemas da nossa cidade”.
José Alves alertou ainda para a eventualidade de uma segunda onda da Covid 19 em países da Europa. “Temos que torcer, inclusive, para que o preço do barril do petróleo continue a 49 dólares. Porque se vier esta segunda onda da pandemia, como ocorre em alguns países da Europa que já admitem fechar novamente suas atividades, a situação vai ficar ainda mais delicada”, comentou ainda o economista.
Caso haja mesmo a segunda onda da Covid, José Alves prevê uma queda nas receitas do petróleo com a queda do barril da commodities. “A tendência, então, será uma retração na economia mundial afetando negativamente o preço do petróleo, como aconteceu em março deste ano, quando o preço do barril chegou a cotação de 20 dólares. Antes da pandemia estava em torno de 50 dólares. Então, é torcer que uma cotação do barril se mantenha pelo menos igual a de hoje e que haja um patamar razoável na valorização do dólar e investimentos na produção aqui na Bacia de Campos”, avaliou.

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