Campistas desenvolvem novos talentos durante a pandemia
Virna Alencar - Atualizado em 26/08/2020 17:32
Verônica Ávila
Verônica Ávila / Foto: Genilson Pessanha
 
 
Em meio à pandemia do novo coronavírus (Covid-19), momento adverso em que o isolamento social é a principal medida para evitar a propagação do vírus, os cuidados com a saúde mental precisam ser redobrados. Toda a situação pode aumentar quadros de ansiedade, insegurança, tristeza, medo e outros sentimentos, até mesmo porque não há perspectiva de vacinas ou remédios com capacidade de cura a curto prazo. Diante do cenário de crise na saúde pública mundial, campistas têm aproveitado o período para descobrir novas potencialidades. Segundo a psicóloga Verônica Ávila, estratégias como conhecer o problema, associar e ressignificar o conhecimento a partir de novas práticas podem fazer a diferença diante do caos.
A especialista afirma que uma das questões que mais causam ansiedade é o alto grau de incertezas do momento atual, que afeta vários domínios da vida humana, como a saúde e o trabalho.
— Ansiedade e sentimentos que se correlacionam, como o medo, dentro de um ambiente atípico de pandemia se potencializam, tanto para quem já tem histórico de quadro ansioso quanto para quem não tem necessariamente uma propensão. No entanto, todos nós, de alguma forma, estamos sendo afetados por esse momento, pois naturalmente temos esses sentimentos, o tempo inteiro. Agora, o que leva isso a ser caracterizado como algo que precisa ter uma atenção maior e buscar efetivamente a necessidade de ter auxílio profissional é o aumento e o quanto isso está te paralisando em termos da dinâmica normal da sua vida — disse Verônica Ávila.
A psicóloga acrescentou ser preciso, cada um a seu tempo e do seu modo, captar forças, talentos e reconfigurar as oportunidades de gerir uma nova realidade.
— O primeiro ponto para você lidar melhor com o quadro ansioso e com as incertezas geradas por esse momento é entender o que são a ansiedade e os sintomas que geralmente aparecem associadas com elas e reconhecer como isso se manifesta em você em determinado momento. Depois, buscar estratégias para aprender a manejá-la melhor — comentou Verônica. — Ao ampliar o autoconhecimento, é hora de começar a ressignificar muitas coisas. Mesmo sem compreender tais técnicas, várias pessoas começaram a descobrir e desenvolver forças e talentos característicos de sua personalidade durante a pandemia. Nessa reconfiguração, reconhecer que podemos somar forças, nos tornarmos melhor juntos, ao invés de tentar avançar mais rápido sozinho, é o que diferencia o grande potencial humano. A contemporaneidade precisa enriquecer as conexões autênticas consigo e com o outro. Podemos ser melhores e passar por todo esse caos juntos — pontuou a psicóloga.
A agente de Defesa Civil Sheila Leal Vieira, de 38 anos, está há mais de três meses em casa por fazer parte do grupo de risco da Covid-19, uma vez que sofre de bronquite asmática. Ela, que já teve surtos de depressão e ansiedade, incluindo a síndrome do pânico, decidiu estudar música clássica para relaxar a mente e não agravar os problemas de saúde durante o isolamento social.
— Em 2005, fiz tratamento com um neurocirurgião que me mandou fazer terapia. Foi quando desenvolvi o meu lado de artista plástica. Chegou a pandemia, deixei a rotina agitada do serviço e senti como se estivesse em um confinamento dentro da minha própria casa. Como sou apaixonada por música desde os 13 anos, já toco guitarra e violão, agora desenvolvi a vontade de aprender instrumento clássico. O som suave do violino trouxe muita paz e conforto ao meu coração. Tive a ansiedade controlada sem usar medicamento — contou Sheila.
Sheila Leal Vieira
Sheila Leal Vieira / Foto: Genilson Pessanha
A empresária Angélica Willemen, de 44 anos, aproveita o tempo desenvolvendo novas peças de bijuterias para ampliar os negócios.
— Trabalho com bijuteria há 29 anos, é uma terapia para mim. Há estudos que comprovam que atividades manuais podem prevenir e até mesmo auxiliar no tratamento de doenças. Já tive depressão, e as bijus ocuparam a minha mente. Quando você faz o que ama, não é trabalho, acaba sendo uma diversão. É gratificante: idealizo uma peça, monto como um quebra-cabeça e faço acontecer — declarou Angélica, que passou a ver as redes sociais como vitrines e aliadas para o aquecimento das vendas.
Angélica Willemen
Angélica Willemen / Foto: Genilson Pessanha
Efeitos colaterais do isolamento
Um estudo da Universidade Brigham Young, nos Estados Unidos, estima que a falta de contatos sociais traz riscos à saúde comparáveis a fumar 15 cigarros por dia e chega a ser duas vezes mais danosa que a obesidade. O crescimento no consumo de bebidas alcoólicas é outra área de preocupação dos especialistas em saúde mental. Estatísticas do Canadá apontam que 20% das pessoas de 15 a 49 anos aumentaram seu consumo de álcool durante a pandemia.
Na China, o primeiro epicentro do coronavírus, alguns cartórios registraram crescimento nos pedidos de divórcio quando a vida começou a voltar ao normal. Nas províncias de Shaanxi e Sichuan, por exemplo, houve um recorde nos índices de separação a partir das últimas semanas de março, de acordo com informações do jornal chinês The Global Times.
Ainda na China, durante a pandemia, os profissionais de saúde relataram altas taxas de depressão (50%), ansiedade (45%) e insônia (34%), e, no Canadá, 47% dos profissionais de saúde relataram a necessidade de suporte psicológico.
Dados do Núcleo de Gênero e do Centro de Apoio Operacional Criminal do Ministério Público de São Paulo revelam que casos de agressões aumentaram 30% em março de 2020, quando o isolamento social foi iniciado.

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