Técnicas de Degustação de Vinhos Tintos
- Atualizado em 02/11/2019 19:39
COLUNA DE VINHOS 
Por João Ricardo Correa Rodrigues
 No artigo anterior, conhecemos os tipos de degustações e suas finalidades.
 Hoje, vamos começar a abordar as técnicas de degustação dos vinhos tintos, utilizando a análise sensorial que, como o próprio nome diz, é uma análise em que nos servimos dos nossos sentidos: visão, olfato e paladar.
 A primeira das três fases da análise sensorial ocorre através da visão. Os olhos podem nos transmitir informações precisas sobre o estado de saúde, de conservação, a estrutura e a tipologia de um vinho. Nesta fase, quatro aspectos precisam ser levados em consideração no exame visual: a limpidez, a transparência, a cor e a viscosidade.
 Limpidez: um vinho é considerado límpido quando não apresenta partículas em suspensão que o turvem. Para tanto, deve-se levar a taça à altura dos olhos e observá-la contra uma fonte luminosa.
Deve-se ter o cuidado de não confundir o vinho turvo com vinhos com depósito, vinhos de guarda já envelhecidos ou vinhos que não tenham sido submetidos ao processo de filtragem. Fora essas exceções, um vinho turvo, com sedimentos em suspensão e cor pouco viva, a rigor indica defeitos e até doenças.
 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

 Transparência: para se julgar a transparência, a taça deve ser inclinada diante de uma superfície branca. Ele será julgado transparente se algum objeto ou escrita colocado contra esse fundo puder ser percebido com nitidez.
 
 
JRRC
 Cor: a intensidade da cor é decorrente da presença de matéria corante encontrada na película da uva. A polpa da uva, em alguns casos, também contribui para realçar a intensidade, que deve ser considerada uma qualidade do vinho. Cada casta de uva tem o seu padrão de intensidade de cor. O vinho tinto deve ser apreciado segundo esse critério.
 
 
Para melhor observação, utilize uma folha branca sob a taça, com uma inclinação de 45.
 
 
JRRC
 
 
 De modo geral, reflexos atijolados em tintos devem ser entendidos com sinais de oxidação.
 Nesse ponto, coloca-se em questão o grau de envelhecimento do vinho. Nos vinhos tintos, quando observados com a taça inclinada sobre o fundo branco, a cor nitidamente púrpura denota um vinho novo, juvenil.
 Já a nuance alaranjada ou acastanhada nas bordas do vinho indica envelhecimento.
 Observação: ao contrário dos vinhos brancos, os tintos clareiam com o tempo. Incline o copo na direção oposta a você. Quanto mais marrom e pálido for a margem, mais maduro é o vinho.
 - Regiões quentes produzem vinhos mais escuros e vinhos embarricados em carvalho perdem mais cor do que os envelhecidos em garrafas.
- Um vinho jovem terá mais brilho do que um vinho com mais idade. Procure analisar o vinho sob luz natural, pois as luzes artificiais afetam a sua cor.
Comparação entre um vinho jovem (esq.) e um vinho envelhecido (dir.)
 Viscosidade (lágrimas): para que julguemos as lágrimas de um vinho, devemos imprimir movimentos circulares à taça, de modo que haja uma aderência do líquido nas paredes dessa. O vinho, então, escorrerá em forma de lágrimas pelas paredes da taça. Quanto mais "preguiçosas" forem as lágrimas, maior o teor alcoólico e o corpo do vinho. Por outro lado, a maior fluidez indicará um vinho mais leve e magro. O fenômeno se explica pela maior tensão superficial do álcool em relação à água. Os portugueses chamam as lágrimas de pernas.
 
 
 
 
 
 
A Uva
 
 
 A Alicante Bouschet é uma casta de uva tinta da família da vitis vinifera resultante do cruzamento das uvas Grenache e Petit Bouschet. É de origem francesa, da região do Languedoc e foi criada por Henry Bouschet, entre 1865 e 1885, que realizou em laboratório o cruzamento das uvas Grenache e Petit Bouschet..
 
 
Por ter sido criada em laboratório, a Alicante Bouschet não é nativa de nenhum país. Entretanto, fez do Alentejo, ao sul de Portugal, o seu lar. Ali, as primeiras vinhas de Alicante Bouschet teriam sido plantadas em Mouchão, no final do século XIX, pela família Reynolds. Apenas nos anos 90, no entanto, a Alicante Bouschet alcançou o reconhecimento generalizado entre os produtores portugueses.
 
 
Sua polpa possui coloração intensa e avermelhada e seus bagos, dispostos em grandes cachos, são redondos, de cor negra. Possui elevada acidez e taninos marcantes. Essas características naturais fazem da uva Alicante Bouschet uma variedade de grande relevância em corte para conferir coloração mais intensa no vinho, bem como estrutura e acidez.
 
 
A Alicante Bouschet se dá bem em climas quentes, gosta de extensas horas ao sol e amadurece relativamente tarde, sendo capaz de suportar condições de seca bem severas. O momento da vindima é crucial para atingir o completo amadurecimento fenólico do bago, evitando assim as notas vegetais e taninos amargos.
 
 
Quando completamente madura, origina vinhos com uma bela cor, notas de fruta preta, compota, licor e ervas silvestres, como cacau, chocolate negro e até mesmo especiarias exóticas, quando estagiada em madeira. Ao envelhecer, pode desenvolver aromas de couro, caça e notas balsâmicas.
 
 
A Alicante Bouschet aumenta indubitavelmente a longevidade de um corte e como monocasta tem tudo o que um vinho precisa para envelhecer bem: aromas intensos quando atinge a maturação completa, cor profunda, acidez crocante e taninos robustos.
 
 
A Alicante Bouschet dá origem a vinhos excelentes, que harmonizam de forma notável com pratos que levam carnes vermelhas. Isso se deve a sua tanicidade, que contrasta muito bem com a gordura, criando sensações memoráveis ao paladar.
 
 
Uma das histórias mais interessantes relacionadas à Alicante Bouschet vem do período da Lei Seca Americana. Para lembrarmos, entre 1920 e 1933, as bebidas com álcool foram proibidas nos EUA, pois o governo americano proibiu a fabricação, transporte e venda de bebidas alcoólicas. Uva de enorme produção (muitos frutos por pé), a Alicante Bouschet era comercializada para todo aquele país. Junto com a carga, seguiam instruções de como evitar a transformação da uva em vinho, segundo algo semelhante à segui nte fórmula:
 
 
"Não deixe suas uvas acidentalmente em grandes recipientes, onde elas possam ser esmagadas pelo próprio peso. Caso isso ocorra e começar a aparecer borbulhas, interrompa o processo ou ele produzirá álcool".
 
 
 A Vinícola
 
 
Localizada na Via dos Parreirais, sem número, Santa Lúcia, no Vale dos Vinhedos de Bento Gonçalves, as terras da Pizzato Vinhas e Vinhos foram compradas em 1967 por Giovanni Pizzato, avô da atual geração.
 
 
A família cultiva as próprias uvas desde o final dos anos 1950, com os conhecimentos trazidos por Antônio Pizzato, imigrado da região italiana do Vêneto para o Brasil com apenas 6 anos, no final do século 19. Inicialmente a produção inicial era apenas para o consumo da família, passando depois para o comercio em garrafões. O cultivo sempre foi de uvas europeias, que eram vendidas, até aquele momento, para as grandes vinícolas da época. Em 1999, porém, a família decidiu criar a própria vinícola e produzir vinhos finos com a sua marca. Já no ano seguinte foi premiada com o Pizzato Merlot, como "Melhor Tinto do Brasil (2000)".
 
 
A Pizzato é a vinícola do Vale dos Vinhedos que possui o maior número de rótulos com selo de Denominação de Origem: são oito, com destaque para o DNA 99, que é elaborado com uvas procedentes do mesmo vinhedo do premiado Merlot de 1999.
 
 
A Vinícola oferece degustações orientadas, sem necessidade de agendamento (exceto para grupos acima de dez pessoas).
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O Vinho
 
 
Pizzato Veludo Azul Reserva Alicante Bouschet, safra 2015
 
 
Visão: Rubi escuro, profundo com lagrimas consistente.
 
 
Olfato: Frutas negras destacando amoras, madeira e caramelo.
Paladar: Vinho potente, equilibrado e com ótima estrutura, aveludado, final longo e persistente.
 
 
Uma agradável surpresa com o varietal dessa casta que mesmo na Europa é difícil de ser encontrado vale o custo benefício pela experiência única!!!
 
 
 
 
Harmonização: Caças, cordeiro, comida regional Brasileira (rabada, mocotó, vaca atolada). Cortes gordurosos de gado.
Temperatura ideal de consumo: 16 e 18°C
Teor alcoólico: 13% vol.
Preço médio R$ 86,00
 Premiações
- 91 Pontos no Guia Adega de Vinhos do Brasil 2016/2017
- 90 pontos no Guia Adega de Vinhos do Brasil 2013/2014, 2014/2015
- 90 pontos no Guia Adega de Vinhos do Brasil 2015/2016
- Seleção do Brasil por Evan Goldsztein, master sommelier - EUA
- Melhor vinho de uvas exóticas Revista Adega setembro 2013 (90 pontos)
 
 
 
 
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    Nino Bellieny

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