Pesca ameaçada em Atafona
Jéssica Felipe 02/09/2017 16:13 - Atualizado em 08/09/2017 15:55
Entreposto de Atafona
Entreposto de Atafona / Paulo Pinheiro
Na cadeia produtiva da pesca, as fábricas de gelo e pontos de recepção do pescado, são fundamentais para o funcionamento da economia. Em São João da Barra, com os problemas em torno do avanço do mar, essa atividade, que deu origem ao vilarejo de Atafona, vem sofrendo grandes impactos. O assoreamento do rio Paraíba do Sul não é novidade, no entanto, foi a partir de maio que a situação na foz se tornou crítica. Barcos de grande porte, considerados responsáveis pelo volume de pesca na região, já não conseguem mais atracar. Com a situação, em um dos frigoríficos da localidade, o movimento já chegou a cair 90%. Proprietários descrevem um futuro incerto.
Para Sérgio Luiz Azevedo, analista de recursos pesqueiros da Federação do Desenvolvimento da Pesca do Estado (Fiperj), “o primeiro reflexo são os barcos de cerco (maiores), que já estão começando a desembarcar em Macaé ou no Espírito Santo. Em termo de volume de produção, esses barcos representam de 50 a 70% da produção anual. Cada barco desse comporta de 10 a 40 toneladas. Quantidade que já não está sendo mais contabilizada no município”, explica o especialista.
Entreposto de Atafona
Entreposto de Atafona / Paulo Pinheiro
Júlio Monteiro, mais conhecido como “Sapinho”, proprietário do frigorífico Sapinho Pesca e Cia, há 11 anos, contou que está sendo o mais prejudicado com o assoreamento do rio. Era o seu ponto que atendia as embarcações maiores, justamente as que não conseguem mais atracar. “Para esses barcos por exemplo, eu vendia em média 400 a 500 caixas de gelo. Um barco menor só precisa de mais ou menos 100. Hoje a maior captura para São João da Barra é das traineiras (barcos de cerco). Nós, donos de frigoríficos, vamos aguardar até final do ano, o período do verão. Se não melhorar, deu ruim para a gente”, afirma o comerciante. Ele ainda completa, que no período de quatro meses, com a queda do movimento, cinco dos seus funcionários tiveram que ser demitidos.
O subsecretário de pesca, Glauber Toledo, prevê um grande prejuízo para a economia local, caso os frigoríficos fechem às portas. “O impacto é enorme, porque o município vai deixar de arrecadar. Outros municípios que vão passar a receber esse produto”, considera. De acordo com o último Boletim Estatístico da Pesca do Estado do Rio de Janeiro publicado em 2012, São João da Barra obteve, nas últimas estatísticas, um volume de pescado de 1.515 t e 1.042 t, respectivamente em 2011 e 2012, representando 2% e 1% da produção estadual.
Crise e reflexo no monitoramento do Estado
A Fiperj, é o órgão vinculado à Secretaria de Estado de Desenvolvimento Regional, Abastecimento e Pesca, que tem a missão de promover, através de políticas públicas, o desenvolvimento sustentável da aquicultura e da pesca fluminense. A estatística pesqueira é o documento que reúne as informações de exploração dos estoques dessa atividade. Segundo a Fiperj, “sem essas informações não há base para o ordenamento pesqueiro ou administração dos recursos, e a fragilidade da estatística aumenta as dificuldades em se diagnosticar o setor e avaliar interferências e impactos de diversas naturezas”.
O último Boletim Estatístico da Pesca do Estado do Rio de Janeiro foi publicado nos anos 2011 e 2012. Por motivos que envolvem a crise financeira do estado, as pesquisas e monitoramentos ficaram paralisadas. Há cerca de três meses, os trabalhados foram retomados, e o município de São João da Barra já está sendo assistido. Ainda não há previsão para a próxima publicação, mas os técnicos acreditam numa versão que abranja um balanço entre 2017 e 2018.
Esperança vem com entreposto pesqueiro
As obras do entreposto pesqueiro de Atafona, começaram em 2011, iniciativa em apoio à pesca, promovida inicialmente pela LLX, hoje Prumo Logística e Ferroport, empresas responsáveis pelo Porto do Açu. Entre paralisações, que decorrem sobre esses seis anos, a estrutura está em fase final de implantação e, segundo as empresas, será doada à Prefeitura de São João da Barra.
— O entreposto ainda não foi entregue à Prefeitura. A previsão de entrega era agosto. A obra já está em fase de acabamento. Sempre cobramos, estamos sempre em diálogo com a empresa — ressaltou o subsecretário de pesca, Glauber Toledo.
  • Pescado e fábricas de gelo já sentem reflexo

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  • Estrutura permitirá continuidade do trabalho

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Em meio às dificuldades para atracar embarcações de maior porte em consequência do avanço do mar, desde o início de julho, foi liberada a utilização parcial das obras do entreposto pesqueiro artesanal. A solicitação foi feita pelos pescadores à prefeita Carla Machado durante uma visita técnica. No entanto, o especialista da Fiperj, Sérgio Luiz Azevedo, afirma que poucos barcos estão utilizando o local. “Quando não conseguem entrar na foz, já seguem direto para outro município e descarregam por lá”, conta.
A equipe de reportagem da Folha entrou em contato com a assessoria de comunicação do Porto do Açu, que, em nota, respondeu que "as obras civis do Entreposto Pesqueiro de São João da Barra já foram concluídas, com o cais, inclusive, já entregue para a prefeitura e sendo utilizado pelos pescadores para desembarque do pescado e embarque de materiais e suprimentos". Quanto à entrega final da obra do entreposto pesqueiro, a assessoria comentou que "depende da realização de alguns testes de funcionamento dos equipamentos instalados".

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