Crítica de cinema - Arquétipos
Edgar Vianna de Andrade 04/09/2017 18:06 - Atualizado em 08/09/2017 13:54
Torre Negra
Torre Negra / Divulgação
(A Torre Negra) - Livro e filme “A torre negra” trabalham com arquétipos. Não se trata de algo mal em si, até por facilitar a compreensão do leitor e do espectador, embora não se deva tornar as coisas complexas porque os leitores e espectadores estão cada vez mais limitados. O livro de Stephen King tem oito volumes e é por muitos considerado sua obra máxima. “O iluminado” e “Carrie, a estranha” são vistos como obras menores, mas resultaram em filmes maiores nas mãos de Stanley Kubrick e de Brian De Palma. A obra “maior” de Stephen King serviu de base para o roteiro de Nikolaj Arcel, Akiva Goldsman, Jeff Pinkner e Anders Thomas Jensen. É o que conta, pois a direção do próprio Arcel é convencional demais. Ou seja, a tecnologia dispensa o diretor.
Prestem atenção nos arquétipos. O Universo tem limites. Existem o dentro e o fora, ou seja, o cheio e o vazio. O cheio é dividido em setores cujo equilíbrio depende de uma torre negra. Os pistoleiros vivem no dentro, na ordem, no cosmos e zelam por sua integridade. Os maus vivem no fora, na desordem, no caos e lutam pelo colapso geral. O arquétipo é o bem lutando contra o mal, a ordem contra a desordem, o cosmos contra o caos. Nenhum espaço para o caosmos, pois ele exige reflexão. No nosso mundo, o bem sempre derrota o mal, ainda que em precárias condições.
Mateusinho
Mateusinho / Divulgação
Além da torre negra, existe um setor do Universo mais importante que os outros. É a Terra, claro. Por mais que King entenda esta estruturação como terrocentrista, se este termo existe, o negócio é que gostamos de ser o centro. Tanto da vida quanto do Universo. A maioria da humanidade acredita ainda que a Terra é o centro do Universo e que nós, humanos, somos o centro da vida. O livro vende mais facilmente com arquétipos.
O representante do bem é Roland Deschain (Idris Elba) e o do mal é o Homem de Preto (Matthew McConaughey. Nos arquétipos tradicionais, a luz é o bem e o negro representa o mal. Aqui, no entanto, em nome do politicamente correto, o bem é representado por um negro, o último pistoleiro. O mal é um branco muito branco. Mas para compensar, o mal se chama o Homem de Preto.
Para ajudar o bem, aparece Jake Chambers (Tom Taylor IV), um menino especial pelos seus dons de vidente. Ele será uma ameaça para o mal, que o perseguirá, mas não o derrotará. Esses arquétipos têm de ser servidos com algum ingrediente porque ninguém é de ferro. Assim como Hitchcock assinava seus filmes com sua breve presença na tela, ainda que quase despercebido, “A torre negra”, que consumiu 60 milhões de dólares e ficou muito aquém em bilheteria, oferece ao Pistoleiro os prazeres de uma cidade dos Estados Unidos, como Coca-Cola e cachorro quente. Pra completar, uns rostinhos femininos bonitinhos e o bolo está pronto para ser servido.
Por mais que os arquétipos estejam simplificados, muita informação foi introduzida no filme. Mas não importa. Tendo pancadaria, tiroteio e quebradeira geral é o que interessa.

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