Crítica de cinema - Corpo estranho
Edgar Vianna de Andrade - Atualizado em 28/08/2017 18:27
Cena de ENTITY_quot_ENTITYO estranho que nós amamosENTITY_quot_ENTITY
Cena de ENTITY_quot_ENTITYO estranho que nós amamosENTITY_quot_ENTITY / Divulgação
O estranho que nós amamos -
Limito-me a comentar o roteiro de “O estranho que nós amamos” na versão de Sofia Coppola por duas razões: 1 - Não assisti ao original de 1971, com direção de Don Siegel; e 2 - Do ponto de vista técnico, o filme não traz novidades. Em se tratando de um drama vivido em meio a uma das mais sangrentas guerras da modernidade, mas da qual só se ouvem estrondos de canhão à distância, Sofia imprime um ritmo lento e intimista ao filme, com fotografia de cores primaveris. Conta mesmo é o enfoque da conhecida história.
Imaginemos um internato de meninas e moças sem a presença de homens dirigido por uma senhora madura, não importa onde. A orientação é cristã. Em certo dia de férias, em que a maioria foi visitar os parentes, uma menina encontra um homem jovem ferido. Ela o ajuda a caminhar até o prédio do internato.
O espírito cristão manda que se pratique a hospitalidade e a caridade. A diretora cuida do ferimento do homem. Ele se recupera. Embora desconhecido, ele exerce atração sobre todas, crianças, jovens e adultas. Os hormônios circulam no ar. Depois de barbeado, ele se revela atraente para elas, sobretudo para as adultas.
Mateusinho
Mateusinho / Divulgação
Agora, coloquemos a trama no contexto da Guerra de Secessão, em que norte e sul dos Estados Unidos lutam ou para manterem seus modos de vida ou para destruí-los. Dependerá do lado vitorioso. O homem ferido é um cabo do exército do norte abolicionista. O internato está sediado numa bela mansão. Uma das internas, menina ainda, encontra o cabo e o conduz às colegas. A diretora cuida do seu ferimento. Ele é um estranho com o agravante de lutar pelo norte. Ele é um perigo por ser crime ocultar um inimigo no sul escravagista.
As meninas simpatizam com ele. As adultas têm, com ele, sonhos eróticos. Duas chegam a ter intimidades físicas com o estranho. A diretora também tem esse desejo. Não há amor, mas atração. Por raiva de uma, ele sofre ferimento ainda mais grave que aquele sofrido na guerra. Acaba mutilado e enfurecido com as mulheres. Todas o amam, mas ele se torna um corpo estranho perigoso e, como tal, precisa ser eliminado.
As mulheres estão diante de um dilema: praticar o cristianismo ou agir como sulistas. Não seria difícil matar o inimigo desejado quando ele dormisse. Mas as mulheres — crianças e adultas — são mais sutis para compensar a fraqueza física.
Destaque para o desempenho de Nicole Kidman, com seu talhe elegante. Magra, alta, esguia, ela faz jus ao título de uma das mais belas atrizes do cinema mundial. Além do mais, representa bem. Colin Farrel também se sai bem. Já não posso dizer o mesmo de Kirsten Dunst, favorita de Sofia Coppola.

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