Garotinho: nome que aparece em todas
Suzy Monteiro 29/07/2017 14:58 - Atualizado em 01/08/2017 16:05
Segurança Pública S/A, Chequinho, Lava Jato, JBS, delação do ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha. O que estes escândalos, seja em âmbito nacional, estadual ou federal, têm em comum? Em todos aparece o nome do ex-governador Anthony Garotinho em algum momento. Também todas as vezes que isso aconteceu o posicionamento do político foi o mesmo: De que sempre trata-se de perseguição.
Em Campos, a operação Chequinho, desencadeada em setembro passado em pleno período eleitoral, apontou um suposto esquema de uso político do programa social Cheque Cidadão. Segundo investigações da Polícia Federal (PF) e do Ministério Público Eleitoral (MPE), o número de beneficiários saltou de 11.500 para 30.500.
A investigação gerou 38 ações de Investigação Judicial Eleitoral (Aije). A maioria dos réus já foi condenada em primeira instância, inclusive a ex-prefeita Rosinha, que consta da Aije principal. Existem, também, Ações Penais e, a principal delas, tem Garotinho como réu. Ele chegou a ser preso em novembro do ano passado por suspeita de coação de testemunhas.
A Ação Penal de Garotinho está em sua reta final na primeira instância, com prazo para alegações finais que termina amanhã, segunda-feira (29). Ontem, o Blog Ponto de Vista, de Christiano Abreu Barbosa, hospedado no Folha 1, revelou que a desembargadora Cristina Serra Feijó, do Tribunal Regional Eleitoral do Rio (TRE-RJ) indeferiu habeas corpus, com pedido liminar, impetrado pelo ex-governador Anthony Garotinho, através dos advogados Rafael Faria e Gabriel Miranda Moreira, na ação penal da Chequinho), que está sob julgamento do juiz Ralph Manhães Jr.
Conforme mostra a decisão, divulgada no blog, o ex-governador postulava, liminarmente, a suspensão do trâmite da ação penal até que o juízo de primeiro grau desse ciência à defesa sobre o resultado do cumprimento integral das diligências, para aí sim dar início ao prazo para apresentação de alegações finais.
O pedido, meramente protelatório, visando postergar uma possível condenação e seus consequentes efeitos eleitorais, ainda foi feito de forma atemporal em relação ao seu objetivo.
Em suas redes sociais, Garotinho tem dito que se trata de perseguição por parte das autoridades à frente do caso e antevê que será condenado: “Pense em uma dezena de arbitrariedades e ilegalidades. Pensou? Agora multiplique por 200 vezes. Isso é a Operação Chequinho”, disse em seu blog.
Não cita, porém, as provas apresentadas contra ele no processo, como o do servidor Eduardo Coelho, analista de sistemas, que relatou uma reunião, após o cumprimento da busca e apreensão na sede da secretaria de Desenvolvimento, em que teria recebido ordens para apagar dados do Cheque Cidadão: “Garotinho deu a ordem ao depoente na secretaria e apagar estes dados; que foi para lá com Gisele, Ana Alice o e o marido desta”.
Laudo pericial elaborado pelo Núcleo de Criminalística do Setor Técnico-Científico da Superintendência da Polícia Federal do Rio apontou que dados teriam sido apagados logo após as primeiras ações de busca e apreensão na secretaria. A alteração nos dados dos computadores teria acontecido fora do horário do expediente, durante um final de semana.
Há, ainda, depoimento da radialista Beth Megafone, segundo a qual, as ordens em torno do Cheque passavam por Garotinho.
Eduardo Cunha
Eduardo Cunha / Divulgação
Lava Jato, JBS e Cunha: delações em comum
Três delações - duas que já tornadas públicas e uma ainda não divulgada - abalaram o mundo da política. As três citam o nome do ex-governador Garotinho.
A delação de ex-diretores da Odebrecht Infraestrutura, Benedicto Barbosa da Silva Júnior e Leandro Andrade Azevedo, foi repetida em Campos, no último dia 26 de junho, quando os executivos estiveram na 1 Promotoria de Justiça de Tutela Coletiva.
Eles confirmaram os depoimentos já prestados ao Ministério Público Federal (MPF): Pagamento, parte através de caixa 2, para a campanha de Rosinha Garotinho (PR), em 2008 e 2010, e para Anthony Garotinho em 2014. No total, seriam quase R$ 20 milhões. A Odebrecht foi responsável pela construção do Morar Feliz, maior contrato já firmado pela Prefeitura de Campos: quase R$ 1 bilhão com aditivos. Uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), na Câmara de Vereadores, investiga o caso.
Mas não ficou apenas na chamada “delação do fim do mundo”. Em outro acordo de colaboração, homologado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), o da JBS, também apareceu o nome Garotinho. A logomarca do município de Campos apareceu num dos documentos da delação e, em uma nota fiscal, no valor de R$ 3.004.160,00, na qual o nome de Garotinho aparece manuscrito. O Ministério Público abriu investigação.
No início de julho, a jornalista Mônica Bergamo, da Folha de São Paulo, publicou a informação de Eduardo Cunha teria citado o nome de Garotinho. O ex-governador afirmou que processará o adversário político.
Em 2010, condenação na Segurança Pública
Em 2010, o ex-governador do Rio Anthony Garotinho e o ex-deputado estadual Álvaro Lins, além de outras oito pessoas, foram condenados pela 4ª Vara Federal Criminal do Rio.
A sentença de Garotinho foi de dois anos e meio de prisão por formação de quadrilha (convertidos a serviços à comunidade e suspensão de direitos) e do ex-deputado e ex-chefe de Polícia Civil Álvaro Lins a 28 anos de prisão por formação de quadrilha armada, corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
A Segurança Pública S.A., ocorrida em 2008, foi uma continuação de apurações das Operações Gladiador e Hurricane, desencadeadas pelo Ministério Público Federal (MPF) e pela Polícia Federal (PF), da quebra de sigilo fiscal de Álvaro Lins e de investigações posteriores.
Segundo as investigações, a quadrilha era responsável pelos crimes de facilitação de contrabando, por não reprimir a atividade de exploração de máquinas caça-níqueis pelo grupo criminoso de Rogério Andrade. Garotinho foi denunciado por, segundo o MPF, garantir politicamente a manutenção do grupo de Álvaro Lins à frente da Polícia Civil.
Em recente entrevista à Folha da Manhã, Lins defendeu o líder político: “Garotinho é um nome forte da política fluminense e sofre uma perseguição implacável de setores da mídia por uma única razão: ele não tem cabresto”, afirmou.

ÚLTIMAS NOTÍCIAS