Felipe Fernandes - Os horrores do trauma e do luto
*Felipe Fernandes - Atualizado em 03/09/2025 10:11
Reprodução
 
Filme: Faça ela voltar - Uma das principais características do terror moderno, que se popularizou como uma espécie de subgênero, sendo reconhecido como pós-terror, é uma internalização de algumas das principais questões associadas ao mal. Costuma explorar medos profundos da mente humana, como traumas, luto, culpa, aspectos religiosos e uma condição existencial. É um terror que busca o medo e muitas vezes uma reflexão social, se aprofundando em questões muito pessoais, misturando tudo isso no processo.

À julgar pelos dois primeiros filmes, o cinema da dupla Danny e Michael Philippou bebe muita nessa fonte, com ambos os filmes compartilhando de lutos muito parecidos, com consequências de famílias que se desfazem, com os adolescentes dessas famílias precisando de um novo lar, em uma formação familiar frágil, principalmente por estar em um momento de mudança e adaptação.

Outra característica que esse filme compartilha com o filme anterior dos diretores, é trazer protagonistas no final da adolescência e início da vida adulta. Um período de amadurecimento, muitas mudanças físicas e inseguranças, componentes trabalhados para ressaltar a sensação de desorientação dos personagens, que não sabem lidar com a dor e com uma série de sentimentos e sensações.

A trama passa quase que inteira dentro da casa e o filme não consegue estabelecer para o espectador a geografia do local. Se em um primeiro momento me pareceu proposital, como forma de levar ao espectador um senso de desorientação vivido pelos personagens, com o passar da história, me pareceu fruto de uma mise en scène problemática.

Por outro lado, o filme é muito eficiente em construir uma ambientação pesada, que conforme a trama progride ganha ares assustadores. As cenas de horror corporal são muito desconfortáveis, o que comprova a construção cuidadosa da dupla, sem desperdiçar tempo com susto barato. Quando o horror explode em tela, ele vem pesado.

Conforme a verdade se revela, o filme ganha contornos trágicos. É um filme que em seu terceiro ato consegue misturar o terror com toda a carga dramática apresentada, essa que é a maior qualidade do trabalho da dupla, conseguir um equilíbrio entre os gêneros, sem que um funcione necessariamente em função do outro. É uma mistura orgânica, que fortalece o tom angustiante e triste do desfecho.

Faça ela voltar é um terror angustiante e trágico, que aposta pesado na dor emocional, usando o luto como catalisador do horror. São pessoas lutando contra a própria dor. O filme transforma o luto em uma entidade ativa, que consome e corrompe. Funciona como uma metáfora de como a incapacidade do ser humano de aceitar a morte, pode levar à destruição psicológica, emocional e física.

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