Edgar Vianna de Andrade - Melhores animações do início do século XXI
*Edgar Vianna de Andrade - Atualizado em 16/07/2025 09:25
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Não tenho a pretensão de listar as melhores animações do século XXI porque faltam ainda 75 anos para ele acabar. Sequer tenciono afirmar que as dez animações escolhidas por mim as melhores objetivamente. Outra pessoa – criança ou adulta – terá uma lista diferente da minha.

Mas, uso critérios de escolha. Roteiro e imagem. Diante de tanta produção enlatada, com aqueles personagens que gingam e falam gírias; diante de tanta princesa em todos os cantos do mundo, valorizo ainda as animações em “stop motion”, ou seja, produzidas artesanalmente.

Vamos à lista. Em primeiríssimo lugar, escolho “A viagem de Chihiro”, do consagrado artesão japonês Hayao Miyazaki. Ele desenha quadro a quadro e os coloca em movimento. A menina Chihiro entra num mundo assombrado, com vultos assustadores. Ela e seus pais são ocidentalizados. O Japão que ela conhece ao mergulhar sem querer no tempo não mais existe. Apenas as suas assombrações. Mas
ela encontra um protetor que a devolve junto com os pais ao Japão moderno. Por mim, eu colocaria na lista “O castelo animado”, do próprio Miyazaki.

“Rango”, de Gore Verbinski, merece estar na lista por satirizar com inteligência os westerns dos EUA. Numa primeira leitura, a animação parece monótona, mas uma leitura acurada mostra como o camaleão Rango empreende uma crítica aos maneirismos do western estadunidense.

Embora saído dos estúdios Pixar/Disney, com direção de Andrew Stanton, “Wally” é uma animação distópica, mostrando um mundo tomado por lixo enquanto um robô o recolhe e comprime. Os humanos fugiram da Terra numa nave em direção a outro planeta. O roteiro perde força com a introdução do sentimento amoroso entre dois robôs e a luta entre o bem e o mal. Mas entende-se. Distopia pura cansa o público infantil.

“Happy feet”, com direção do genial George Miller e gerado no estúdio Animal Logic, foi produzido na Austrália. Mostra a vida de pinguins imperadores, com elogio à diferença: em vez de cantar, como os outros, um jovem pinguim sapateia. Ele empreende uma viagem ao mundo dos humanos e consegue a salvar o Ártico. Mais uma vez o perdoável final feliz.

Das animações stop motion produzidas por Tim Burton, fica difícil escolher uma. Toda sua fantasia foi colocada em “O estranho mundo de Jack” “A noiva cadáver”e “Frankenweenie". A mais conhecida é “A noiva cadáver”, baseada num conto russo-judaico do século XIX. Burton criou um universo próprio, dando um toque do que se chama gótico. Fico com esta.

Também em stop motion é “As bicicletas de Belleville”. Dirigido por Sylvain Chomet, é umaanimação franco-belga-canado-leto-britânica de 2003. Talvez não agrade às crianças, a exemplo das as animações da Disney, mas vale por colocar gerações distantes frente à frente. Como adulto, considerei-o uma animação inteligente.

Pinóquio, de Guilhermo del Toro, também em stop motion, ambienta a história engraçada do marionete num contexto fascista, dando-lhe um caráter dramático. Venceu o Óscar e melhor animação em 2023, mas não por esse motivo está incluído aqui.

Incluo na minha lista “Persépolis”, animação francesa de 2007 com base nos quadrinhos da iraniana Marjane Satrapi, que também é diretora com Vincent Paronnaud. O roteiro mostra o drama das mulheres iranianas na pessoa de Marjane.
“Flow” é animado por um sistema acessível. Dirigido por Gints Zibalodis e Matiss Kaza, trata-se de coprodução letã- franco-belga, sem diálogos. Trata-se de uma história apocalíptica que não tem fim explícito. Isso é muito bom. Peca apenas por misturar as faunas e dar-lhes um comportamento não correspondente às espécies.
Por fim, o surreal “Coraline” animação stop-motion produzida nos Estados Unidos, com base no mundo surreal de Neil Gaiman. 

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