Dora Paula Paes
10/05/2025 09:08 - Atualizado em 10/05/2025 09:09
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"Eu sou Isaac Cardoso, tenho 20 anos, sou autista nível 2 de suporte, e estou cursando Biologia em uma das maiores Universidades do país. Sou um homem pardo, de 1,80 m de altura, cabelos cacheados até os ombros, uso óculos...” é assim que o estudante da Uenf e quadrinista começa a se apresentar ao mundo. Tamanha desenvoltura e autoconfiança foram conquistadas com luta. Na linha de frente está sua mãe, Roberta Alves, professora, psicopedagoga e arteterapeuta, de 39 anos, abrindo caminhos. “Percebe que o autista jovem, adulto, idoso não tem visibilidade?”, já inicia a conversa. Realidade que, segundo ela, precisa mudar.
“Desde sempre a criação de história é minha maior paixão. Antes mesmo de aprender a falar corretamente, eu já expressava através de desenho. Antes mesmo de escrever, eu sempre criava histórias, baseados nos desenhos animados que eu gostava de assistir. Então, quando cheguei na adolescência os quadrinhos se tornaram minha maior paixão. Faço quadrinhos desde os 15 anos. Mas, infelizmente, no mercado nacional que a gente tem hoje não dá para um quadrinista viver dessa arte, sempre como hobby. É preciso ter um trabalho principal”, afirma Isaac.
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De acordo com ele, quadrinistas de sucesso como Maurício de Souza são exceções das exceções. “Então, como forma de poder me sustentar no futuro e sustentar meu hobby, eu entrei no curso de Biologia, porque acho que ser professor de Biologia é uma profissão decente que daria para manter minha vida financeiramente e, assim, minhas histórias”, ressalta. Ele ainda faz um paralelo com sua escolha de carreira universitária. No caso, seu amor por animais e a criação de “monstros” em suas histórias.
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Roberta, parceira e atenta às demandas do filho, alimenta seus sonhos e se empenha na luta por inclusão. “Para outras mães de autistas, eu diria: não rotulem seus filhos. Foquem nas potencialidades, não nas limitações. Acreditem, apoiem, ofereçam ferramentas e oportunidades. Se permitam ser surpreendidas, porque eles têm muito a ensinar. Lutem pelos direitos deles com coragem. Dentro de nós existe uma força imensa, porque ser mãe é nunca desistir”, aconselha.
A importância da inclusão no ensino superior é o que defende essa mãe. Calouro no curso de Licenciatura em Biologia, Isaac é exemplo de superação de desafios, que ele mesmo reconhece e sabe separar o que é sonho e uma vida prática. Para a família, nesta jornada, a Uenf também se mostra comprometida com a equidade, promovendo um ensino verdadeiramente inclusivo e acessível, quando garante o desenvolvimento acadêmico de todos os estudantes PCDs ao reafirmar seu compromisso com a diversidade e o não-capacitismo.
“Às famílias precisam estar presentes nas instituições de ensino superior. As famílias acham que não têm esse direito, que a aceitação da presença delas é apenas na educação básica e não é”, completa Roberta.