Saulo Pessanha
12/05/2025 08:48 - Atualizado em 12/05/2025 08:50
POR CÉLIA MARIA PORTELLI, NO BLOG DIJAOJINHA EM 2012:
Em certa época, mamãe passou a ter preferência por empregado para ajudá-la nos afazeres domésticos. Assim foi com Paulinho Lelé, Irmão Heraldo e outros.
Irmão Heraldo era adventista, por isso nos chamava e era chamado de Irmão ou Gadareno, apelido dado por Luiz.
No último verão, como sempre acontece, fomos eu, Áurea e Nilton assistirmos ao desfile das Escolas de Samba de São João da Barra.
Áurea, como de costume, gosta de passar primeiro na concentração das Escolas para entrevistar as figuras de destaque e seus presidentes.
Minha irmã ia na frente abrindo caminho entre a multidão, tentando chegar próxima à Escola da Chatuba. Eu vinha um pouco mais atrás com Nilton e vi quando ela abraçou um cara de cabelos brancos, farto bigode preto, vestido com o uniforme da Escola.
Ouvi, então, o sujeito dizer para ela:
— Não fala, não. Quero ver se ela vai me reconhecer.
Reconheci imediatamente o antigo empregado da minha mãe. O Irmão Heraldo começou logo a perguntar e falar:
— Irmã Célia, você ainda mora no estrangeiro? E a Irmã Vera? Não posso morrer sem vê-la. E o Irmão Agenor? Ainda mora em Niterói? Fiquei sabendo que o Irmão Renato morreu. Sempre encontro com o Irmão Luiz. Estou correndo atrás do Irmão Rogério. Estou precisando de um emprego aqui na Prefeitura. Ele é deputado e amigo da prefeita. Sempre faço o sopão que a Irmã Laeta me ensinou. Aprendi a cozinhar com ela. Conto para todo mundo. A garotada gosta muito da receita do doce de abóbora. Meu forte é o doce de jenipapo.
Áurea interrompeu a fala do Irmão Heraldo:
— Você é crente. O que está fazendo aqui na Escola de Samba?
O Irmão Heraldo respondeu:
— Quebrando o galho, Irmã. A coisa está preta. E ela indaga:
— Mas você estava morando em Cabo Frio?
E o Irmão Heraldo vai explicando.
— É verdade, Irmã. Você ficou sabendo que meu pai morreu?
Aquele fazendeiro ricaço lá de Campos. Meus irmãos por parte de pai me deram vinte e oito bois. Meu irmão legítimo me convenceu de que eu não tinha terra e por isso não precisava de boi. Aí ele vendeu os bois e me pagou somente o preço de dois bois. Com o dinheiro dos dois bois comprei duas panelas de pressão; dei uma para minha mãe e a outra para a Irmã Sônia, minha esposa. Peguei meus onze filhos, minha mãe e a Irmã Sônia e nos hospedamos na melhor suíte do Palace Hotel. No final de cinco dias o dinheiro acabou. Fomos despejados. Vim para Chapéu de Sol e encontrei um rancho de palha abandonado. Passamos para dentro. Estou lá até hoje.
Como a conversa já ia longe e os tambores da Escola de Samba já ruflavam, disse para Áurea: