Sinais de destruição além dos deixados pelo mar em Atafona
21/05/2021 23:12 - Atualizado em 22/05/2021 00:42
Os sinais de destruição e abandono em Atafona não estão apenas nas casas que são atingidas pelo já conhecido avanço do mar. Basta circular pelas principais ruas e pontos de referência da praia sanjoanense para encontrar muitos buracos, mato alto e lixo. Os sinais de descaso com o distrito geram queixas da população por acreditar ser possível realizar ações de preservação dos espaços públicos mesmo com o cenário de pandemia.
— Atafona está abandonada e a cada dia a situação só piora. As ruas esburacadas, o Balneário cheio de mato. Parece que estão esperando o mar engolir. E só estou falando das áreas mais movimentadas, porque se a gente for para dentro, como no Jardim das Palmeiras é ainda pior. O que a gente não entende é que chegam royalties, tem os impostos do Porto do Açu, mas a Prefeitura não faz nada — afirmou o autônomo Afonso Dias, de 32 anos.
Local que recebe milhares de visitantes, sobretudo no verão, o Balneário está sendo tomado pelo mato. A vegetação cresce para todos os lados, o que evidencia a falta de serviços básicos de limpeza, na área dos shows e nas destinadas à prática esportiva. Pelas medidas de enfrentamento à Covid-19 adotadas pela Prefeitura, o Balneário segue fechado. E sua reabertura pode ter um custo mais elevado ao município, com uma série de reparos. No entanto, a despeito das imagens registradas no local nesta quinta-feira (20), a administração municipal diz que a “capina é realizada com frequência”.
E quem sai do Balneário com destino ao Pontal de Atafona perde as contas dos buracos, especialmente nos trechos com paralelepípedos, da rua Feliciano Sodré. Também são encontrados buracos nas imediações de outro point antigo de verão, a conhecida Praça do Meireles. Sobre o local, por sinal, nesta semana a Câmara de Vereadores aprovou requerimentos para reforma da quadra esportiva e de uma academia popular instalada pela Prefeitura. A academia não tem funcionalidade há anos e outras do mesmo modelo, também paradas, estão espalhadas por todo município sanjoanense, com aparelhos sucateados, já sem funcionalidade.
Segundo a Prefeitura, em relação aos buracos na Feliciano Sodré, acontecem “reparos na rede de abastecimento de água”. O município informou ainda que uma equipe da secretaria de Obras e Serviços irá ao local para analisar os procedimentos necessários na segunda-feira (24). Já sobre a praça, nada previsto. A Prefeitura ressaltou que o espaço “passou por urbanização no entorno, com acessibilidade e pavimentação em 2018”.
Ainda na Feliciano Sodré outros pontos chamam a atenção. Um é no cruzamento com a rua João Batista de Almeida, mais conhecida como a da Caixa d’Água. Um terreno ganhou aspecto de lixão, com direito a duas caçambas, urubus, entre outros animais, e catadores de lixo. Moradores do entorno afirmam que o problema se arrasta sem solução já há algum tempo. Mas a nota da Prefeitura diz que “o serviço de recolhimento de entulho e galhada acontece diariamente em cada distrito, porém, no ponto específico, próximo à antiga caixa d’água, existe um grande problema: pessoas colocam fora das caçambas existentes”.
Já na área do Atafona Praia Clube, que foi demolido em setembro de 2015, por decisão da Defesa Civil do município, o que se vê é lixo, mato e até animal pastando. Em 2017, o então vereador Aluizio Siqueira (PP), hoje secretário de Agricultura, chegou a sugerir que o município transformasse o local em uma praça com área de lazer. Mas a ideia parece não ter sido bem aceita pela equipe da prefeita Carla Machado (PP): “O terreno do clube de Atafona não é público, é particular. O município é responsável pela limpeza pública urbana. Os terrenos particulares são de responsabilidade de cada proprietário”, informou a assessoria da Prefeitura.
Sobre a queixa do autônomo Afonso Dias, das condições ainda piores em locais como o Jardim das Palmeiras, a nota da administração municipal informa que o loteamento “ainda não se encontra totalmente legalizado”, o que impossibilitaria a intervenção no local.
Avanço do mar — Afonso contou que tem a esperança de que saia do papel uma obra de contenção do avanço do mar no litoral sanjoanense, como a que viu em uma reportagem sobre o município de Marataízes (ES). De acordo com a Prefeitura, “há três anteprojetos atualmente que estão sendo analisados pelo Ministério Público Federal quanto à viabilidade econômica e também do ponto de visto de serem ambientalmente sustentáveis. Porém, é necessário um estudo maior em relação ao impacto de vizinhança, pois a ação implementanda em Atafona poderá trazer impactos para os municípios vizinhos até o Espírito Santo”.
Com toda morosidade do processo, Afonso confessa o que parece ser o sentimento da maior parte dos moradores da praia: “Se obras e reparos que parecem simples não acontecem, imagina essa intervenção para conter o avanço do mar. É um sonho que fica cada vez mais distante”.

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