Cinema: Perigo subterrâneo
*Edgar Vianna de Andrade - Atualizado em 11/05/2021 15:51
Aos perigos explorados pelo cinema depois da Segunda Guerra Mundial, acrescentemos mais um: o perigo que vem do passado. O perigo que sai do mundo subterrâneo e é alimentado pela ciência e pela radioatividade. “O Estranho de um Mundo Perdido” (“X... the unknown”) exemplifica esse novo perigo. Com direção de Leslie Norman, a produção inglesa foi lançada em 1956. Em preto-e-branco e duração de 80 minutos, é um filme sóbrio que antecipa “A bolha”, de 1958, filme no qual o perigo vem do espaço.
Num campo de exercícios nucleares, os soldados têm de encontrar cápsulas radioativas com um contador geiger. De repente, aos pés de um recruta, abre-se uma fenda de onde sai uma luz estranha. Todos aqueles que se aproximam dela, acabam contaminados e morrendo. A coisa não aparece para o espectador. Ela não poupa nem mesmo crianças. Um centro de pesquisas é informado. Então, entra em cena um charmoso cientista (Dean Jagger). Seu charme não deriva de beleza masculina. Trata-se de um homem de meia idade, alto e calvo, que conduz uma experiência singular: neutralizar energia nuclear, retirando-lhe o perigo.
Enquanto isso, a estranha ameaça continua fazendo vítimas. Ela busca, de preferência, energia nuclear para se alimentar, mas pode roubar energia das pessoas. O cientista enfrenta a resistência do seu chefe, que o considera um especulador. Mas ele conta com o apoio de um investigador e de um militar de alta patente. Naquele tempo, militares e cientistas se davam bem e se respeitavam. Talvez, em várias partes do mundo, essa aliança persista. Não julguemos o mundo pelo Brasil.
O cientista levanta a hipótese de que a Terra, nos seus primórdios, era uma bola gasosa e quente. Com o tempo, ela esfriou e ganhou um calota sólida, mas seu núcleo continua quente. A fenda permitiu que alguma força estranha tenha saído do magma em busca de energia nuclear. É o passado distante em busca de alimento e aterrorizando as pessoas. Contra seu chefe pragmático, o cientista imaginativo consegue conceber um plano para desativar o mostro gelatinoso, que só aparece no final do filme. É uma massa que se desloca e vai destruindo e incorporando a energia viva e não viva. Bastou ampliar os scanners que o cientista usava no laboratório e voltá-los para o “monstro”.
O filme não teve o mesmo sucesso de “A bolha”. Sua fotografia é boa. O roteiro é interessante. O desempenho de Dean Jagger é sóbrio. As mulheres aparecem como coadjuvantes. Eu diria até como figurantes. Mas, pelo menos um traço da década de 195,0 elas precisam exercitar: o grito agudo e prolongado.

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