Na Ribalta: Artistas e novas formas de trabalho
Fernando Rossi 29/10/2020 14:21 - Atualizado em 29/10/2020 14:37
O Dia Mundial do Teatro, comemorado em 27 de março, foi lembrado de uma maneira diferente neste ano. O mundo já não é mais o mesmo com a atual pandemia de coronavírus. Países de todo o planeta estão sofrendo as consequências desta crise, que são econômicas, sociais e também psicológicas. Como em um filme, foi dada uma pausa no cotidiano da humanidade e, compulsoriamente, cada indivíduo é levado a pensar sobre a sua forma de existir no mundo: o trabalho, as relações, a maneira como utilizamos nossos recursos, o que se espera de fato da classe política, como gerir pessoas em vulnerabilidade social, etc. São diversos problemas para serem resolvidos em um curto período de tempo, e cada escolha pode determinar a vida e a morte de milhares de pessoas.
No meio disso tudo, está também a classe artística, que lida há tempos com vários tipos de discriminação. Diante de uma criança brincalhona, com muita energia, é comum escutarmos frases como "está fazendo arte". Outra frase ouvida com frequência diz que “todo artista é vagabundo”. Esse tipo de comentário revela a predominância em nossa sociedade da ideia de arte como algo supérfluo, dispensável. Há, portanto, um preconceito estrutural em relação às artes, provavelmente atrelado à crença do valor mercadológico das profissões, no sentido de que há algumas mais importantes e "úteis" que outras.
No entanto, o teatro é tão antigo quanto a humanidade, o que coloca esse imaginário em xeque. Transformar-se em outro é uma das formas mais fundamentais da expressão humana e, desde o período pré-histórico, o homem tem a necessidade da representação e de rituais, muitas vezes até para compreender o mundo que o rodeia. A existência de diversas vertentes na arte teatral, em vários lugares do planeta, como o Teatro do Absurdo, Teatro de Bonecos, Teatro Grego, Kabuki, Teatro Nô, Commedia Dell'Arte, Teatro de Rua, entre muitas outras, significa por si só o caráter universal deste tipo de manifestação.
O teatro canaliza a necessidade de expressão inerente à natureza humana e a vida em comunidade. Nos últimos anos, o setor vem travando batalhas contra a falta de recursos e apoio governamental, na linha de frente diante dos ataques à cultura.
Com a pandemia de coronavírus, novas formas de existência têm sido pensadas para os artistas, não sem controvérsias e polêmicas, já que temporadas de espetáculos, apresentações e shows foram todos cancelados.
Em meio a uma crise que escancara a insuficiência de políticas públicas para todos os setores da sociedade (saúde, educação, cultura, etc.), os espetáculos teatrais, que tanto dependem do público, têm estado parados. Para alguns artistas, uma alternativa tem sido as transmissões ao vivo, principalmente pelo Instagram. Muitos também são professores e migraram as suas aulas de teatro para plataformas virtuais.
O teatro também acaba sendo um bom antídoto para a solidão de muitas pessoas em quarentena. Um exemplo são as lives de contação de histórias, conduzidas por artistas que atuaram em séries e filmes de sucesso. Esse tipo de iniciativa tem ajudado muitos pais e mães com as crianças em casa, demonstrando na prática que o teatro se faz cada vez mais necessário, até como forma de auxílio emocional em meio ao distanciamento social e à crise.
As Artes Cênicas sempre estiveram presentes na vida das pessoas, e no momento atual não deixariam de estar. De uma forma diferente da que estávamos acostumados, o teatro e as artes em geral têm marcado presença em nosso cotidiano, através dos feeds, dos portais, das redes. Em contextos de crise e de tensão econômica, política e social, a arte sempre teve o papel de proporcionar a contemplação necessária, seja de nós mesmos, seja da sociedade como um todo. Nessa contemplação, é possível obter o alento necessário para seguir em meio à adversidade ou um novo estímulo para buscar a transformação da realidade. Hoje, mais do que nunca, é preciso reafirmar a importância do teatro e das artes, para que eles não sejam esquecidos pelas políticas culturais e pela população.

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