Trânsito hostil para ciclistas
30/03/2019 15:16 - Atualizado em 03/04/2019 17:09
Veículos e pessoas atrapalham o trânsito em locais exclusivos para ciclistas que devem respeitar mãos das ruas
Veículos e pessoas atrapalham o trânsito em locais exclusivos para ciclistas que devem respeitar mãos das ruas / Isaías Fernandes
Em menos de uma semana, Campos registrou três acidentes envolvendo ciclistas em diferentes pontos da cidade. O mais grave vitimou um homem de 44 anos, na RJ 194, no trecho que liga Campos a São Francisco de Itabapoana, no último dia 16. Dois dias depois, outro ciclista ficou ferido em um atropelamento na avenida Alberto Lamego, no Parque Califórnia. E, no dia 19, uma mulher de 43 anos foi atingida a caminho do trabalho. Segundo o arquiteto e urbanista Ronaldo Linhares, apesar da geografia favorável para o trânsito de bicicletas no município, é necessário investir em projetos que garantam a segurança dos ciclistas. Em nota, a Prefeitura de Campos afirmou que só esta semana, mais de 100 vagas para bicicletas foram criadas em vários pontos da cidade, especialmente na área central, e um amplo projeto de bicicletários está previsto para ser implantado ao longo deste ano.
O auxiliar administrativo Demétrio Borges, de 40 anos, há cerca de 18 anos utiliza a bicicleta como meio de transporte para trabalhar. Ele resolveu reformar a “magrelinha” do avô, do ano de 85. Ele apontou vantagens na prática que herdou de família, mas, por outro lado, disse flagrar constantemente o desrespeito de motoristas em vias públicas. “Na Avenida Alberto Torres, no Centro, sentido ao Liceu, é comum motoristas estacionarem carros em plena ciclovia, área destinada ao fluxo de ciclistas. Moro no Jardim Carioca e, se levo 10 minutos para chegar ao Centro, de ônibus faço 40 minutos, no mínimo. Além de ganhar tempo, a gente ganha mobilidade e sai do sedentarismo. Os benefícios ao meio ambiente também são significativos”, disse.
O desrespeito também é visto na Ciclovia Patesko, onde constantemente se observa veículos parados na via, que é vermelha indicando a proibição, antes de entrarem em ruas como a Carlos Lacerda e Marechal Floriano.
O ciclista Afonso Celso Pacheco, de 54 anos, acumula prêmios pela prática esportiva. Ele é tetracampeão brasileiro de ciclismo em estradas, na modalidade máster. “Minha história no ciclismo começou aos 8 anos, quando meu pai me levava para prestigiar as tradicionais provas de São Salvador. O tempo passou, e já tenho 27 anos ininterruptos dedicados ao esporte. Treino 500 quilômetros semanalmente, me dedicando entre 3 a 4 horas por dia. O ciclismo é profissão, é como se saíssemos para trabalhar todos os dias. Mas percebo que existe falta conscientização no trânsito por parte dos motoristas e também dos ciclistas”, afirmou.
De acordo com a Prefeitura, a segurança dos ciclistas é garantida pelo município, que possui aproximadamente 51 quilômetros de ciclovias, ciclofaixas e ciclorotas. A ciclovia Patesko é a maior e principal do município com cerca de seis quilômetros, ligando a Penha ao Parque Jardim Maria Queiroz, passando por vários bairros. Além disso, a ciclovia da 28 de Março também faz a interligação com avenidas, como a Felipe Uébe e Alberto Lamego, ligando a 28 de Março às proximidades da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf) e, ainda, à Presidente Kennedy, no Jóquei.
A Prefeitura informou ainda que a secretaria de Infraestrutura e Mobilidade Urbana concluiu levantamento dos pontos de reparo em trechos de ciclovia. Os trâmites para licitação e início das intervenções estão em andamento. O secretário da pasta, Cledson Bitencourt, explicou que alguns pontos sofreram danos por colisões e a proteção teve que ser removida para não criar riscos a quem transita por estes locais. “Os trâmites licitatórios já estão em andamento para reparo de pontos na ciclovia da cidade, o quanto antes”, disse.
Desrespeito faz diversas vítimas nas ruas
No último dia 19, por volta das 8h, uma colisão envolvendo um carro e uma bicicleta deixou uma ciclista ferida no cruzamento das ruas Câmara Júnior com 1º de Maio, na Pelinca, em Campos. A mulher, de 43 anos, estava indo trabalhar no momento do acidente. Segundo o Corpo de Bombeiros, a ciclista foi socorrida e encaminhada, consciente, para o Hospital Ferreira Machado (HFM).
Um dia antes, um ciclista também ficou ferido em uma colisão envolvendo um Voyage, de cor bege, registrado no início da tarde do último dia 18, na avenida Alberto Lamego, no Parque Califórnia, próximo à Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (Uenf). O homem, de aproximadamente 50 anos, é catador de latinha.
O motorista do carro estava com a esposa e uma neta. Após o atropelamento, o Voyage atingiu um poste. Devido ao risco de queda e à periculosidade da rede elétrica, a área foi interditada. Agentes da Guarda Civil Municipal orientaram o tráfego no local, que ficou interditado.
Segundo o Corpo de Bombeiros, o ciclista saiu do local consciente, mas com fraturas e escoriações. Ele foi socorrido para o HFM, assim como os passageiros do Voyage, que não se feriram, mas foram levados para avaliação.
Já no fim da manhã de sábado (16), um ciclista, de 44 anos, morreu e um motociclista, de 48 anos, ficou gravemente ferido em um acidente na RJ 194, no trecho que liga Campos a São Francisco de Itabapoana. O sobrevivente foi socorrido e encaminhado para o HFM com ferimentos graves nas pernas e escoriações pelo corpo.
Hábito de ciclismo é passado de pais para filhos
Hábito de ciclismo é passado de pais para filhos / Isaías Fernandes
Esforço para convívio de carros e bicicletas
O arquiteto e urbanista Ronaldo Linhares destacou que Campos, por ser uma planície, é favorável para a locomoção por meio de bicicletas, mas ele acredita que o poder público precisa investir em projetos cicloviários para garantir a segurança do ciclista no trânsito. “O trânsito se baseia em três pilares: engenharia, esforço legal (fiscalização) e educação, que são os famosos “três ês” da literatura do trânsito. Muitas vezes, o ciclista tem o hábito de andar pela contramão. Logo, seria necessário investir em sinalizações educativas em pontos estratégicos. Outro projeto importante seria a instalação de um terminal de bicicletas na Rodoviária Roberto Silveira”, sugeriu.
Segundo o presidente do IMTT, dentro do novo modelo de sistema de transporte, que será implantado no município, já existe o projeto de instalar bicicletários em cada ponto de integração para que as pessoas possam ter mais uma opção de deslocamento para pequenos percursos. O conjunto de ações faz parte da implantação de uma política de transporte não motorizado, que inclui a instalação de bicicletários, incentivando o uso de bicicletas, por exemplo, para pequenos percursos.
— É necessário que todos se conscientizem sobre o respeito à legislação de trânsito, utilizem os equipamentos de segurança necessários e, também, respeitem a hierarquia das responsabilidades conforme prevê o Código de Trânsito Brasileiro (CTB). A lei é clara: condutor de veículo maior deve zelar pelo usuário mais vulnerável — informou o presidente do Instituto Municipal de Trânsito e Transporte (IMTT), Felipe Quintanilha.

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