Guilherme Belido escreve - Campanhas de factoides
13/10/2018 18:12 - Atualizado em 14/10/2018 11:12
Não existe um Brasil às portas da guerra campal. O gigante continental é formado por 207 milhões que acordam todos os dias tendo o que fazer, seja trabalhar, estudar, etc., e ao fim do dia retornam para casa – como bem definiu o jornalista Ricardo Boechat.
De certo, quem faz alarde – com viés de fomento – de algo próximo a uma guerra civil são as redes sociais e suas mensagens insanas, os grupos de militantes dos dois lados e os discursos acusatórios e pré-terroristas de cada candidato em relação a seu oponente.
A massa do povo brasileiro segue sua rotina sem dar sinais de que deseja e tampouco irá se afastar da vida nos moldes democráticos e dos princípios que lhe são garantidores.
Há de se reconhecer, infelizmente, que numa eleição de extremos, preocupa a atmosfera de violência política, de enfrentamento entre grupos e de manifestações imoderadas. Mas nada que não se tenha visto na reta final dos protestos de 2013 ou nos longos meses que antecederam e sucederam o impeachment da ex-presidente Dilma – estes de maior potencial agressivo.
Essa história de risco de ditadura comunista nos moldes da Bolívia não passa de fantasia, sem nenhum fundamento, disseminada, em particular, por grupos antipetistas. Da mesma forma que a “advertência”, vinda do outro lado, do ‘perigo’ de se implantar o fascismo no Brasil, ao melhor estilo do autoritarismo de direita, é outro balão de ensaio, sem pé nem cabeça.
Democracia consolidada
O Brasil vive o mais longo período democrático da história – 33 anos ininterruptos, desde a eleição de Tancredo e posse de Sarney, aos dias atuais. Em nenhum outro momento, inclusive no todo do século 20, o País registrou três décadas de inabalável regime democrático, superando, inclusive, dois impeachments.
Na eleição de domingo passado não se viu um único evento de violência de maior dimensão ou situações de pânico. Um pleito – frise-se – definido e endossado por observadores internacionais como impecável.
Natural que isoladamente tenham ocorrido pequenos distúrbios os quais, corriqueiros ou não, ainda que fosse um único, não pode ser aceito. Ao contrário, deve ser lamentado, apurado e punido. Só não é justo que seja disseminado como ‘um padrão’ presente do Oiapoque ao Chuí.
Distorção
O lamentável é que ambos os lados estejam usando a violência como pauta de campanha, situando-a apenas no campo do adversário (e aqui, novamente, recorro às ponderações de Boechat), como se fosse possível que somente um lado gerasse intolerância e conflito.
O que aumentou e vem se agravando é a violência colocada nas redes sociais como fato estatístico – o que causa perplexidade, intimida e assusta. Mas o Brasil no seu conjunto, como sociedade, como massa humana, não está em clima de guerra civil e tampouco se enquadra fisicamente no cenário exacerbado montado pelas militâncias pró-Bolsonaro e pró-Haddad e pelos discursos incendiários de ambos os presidenciáveis.
O povo e a Nação brasileira estão fora disso.
O 'conceito democrático' do PT
Quando o PT invoca o risco que a vitória de Bolsonaro traz à democracia, afigura-se oportuno recordar o entusiasmo do ex-presidente Lula com o regime Chavista, bem como a teia de corrupção montada pelo ex-Chefe da Casa Civil, José Dirceu (na sala ao lado de Lula), para que o partido, através do Mensalão, se perpetuasse no comando do Brasil. Muita democracia, não?
Fica a pergunta: no episódio em que Lula resistiu comparecer ao Aeroporto de Congonhas para o famoso depoimento à PF (só aceitando após insistência de seus advogados) e, colérico, quando de lá saiu, fez raivoso pronunciamento de que “a jararaca está viva...” –, se houvesse, naquela oportunidade, condições para um golpe que lhe permitisse assumir o poder, não teria feito?
O famigerado “termo de posse” enviado pela presidente Dilma não foi afronta à democracia? As gravações de Lula acusando o STF de “estar acovardado” e os insultos ao juiz Moro, à PGR e ao MP demonstraram respeito à democracia?
As palavras da ordem da senadora Gleisi Hoffmann, segundo as quais “se Lula for preso vai morrer gente” não foram de ameaça ao Judiciário e, portanto, de ataque a uma engrenagem vital ao Estado Democrático de Direito?
E ainda: o envolvimento do PT com o Petrolão – o maior esquema de corrupção do mundo – faz parte da cartilha que norteia o princípio republicano petista e dos demais partidos beneficiados pelo assalto à Petrobras?
O outro lado da moeda
O voto em Bolsonaro não foi a favor, mas contra. Um voto de protesto de quem espera mudança não porque o candidato do PSL é melhor ou pior, mas porque aos olhos do eleitor se apresenta como diferente.
O despreparo de Bolsonaro, as declarações polêmicas, a tragédia que é seu vice e a afirmação de que no Brasil não houve ditadura, foram deixadas de lado. O eleitor agarrou-se ao modo simples com que o deputado fala ao povo e na aposta de que, como os demais seguem um mesmo discurso, é hora de mudar.
O resultado do pleito do dia 7 se justifica pelo provável receio de que os últimos 12 anos (10 de Dilma e 2 de Temer), que tiveram consequências devastadores para o Brasil, se prolonguem.
Da mesma forma que Lula, verdadeiro maestro da campanha, não pode ser isento de responsabilidade posto que colocou Dilma na Presidência e fez das tripas coração para reconduzi-la em 2014, ano que antecedeu o desmanche do Brasil.
É como está sendo a sucessão 2018: estranha e atípica. Agora falta pouco.
 
 

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