Crítica de cinema - O jornalista e o monstro
*Felipe Fernandes - Atualizado em 12/10/2018 12:50
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ENTITY_quot_ENTITYVenomENTITY_quot_ENTITY / Divulgação
(Venom) -
Para quem não conhece, Venom é um famoso vilão do Homem Aranha. Basica-mente é uma versão malvada e grotesca do herói, que tem sua origem diretamente ligada ao feioso e basicamente nunca funcionou muito sem ele. Essa foi a escolha da Sony para come-çar a trabalhar o universo de coadjuvantes do Homem Aranha, uma ideia desnecessária que encontra respaldo na bilheteria que o filme vem fazendo, apesar do resultado irregular.
Eddie Brock (Tom Hardy) é um jornalista investigativo sem papas na língua que perde o em-prego e a noiva após usar informação sigilosa às custas do trabalho dela para investigar uma empresa de nome Fundação Futuro. Após perder tudo, ele recebe uma denúncia anônima e descobre que a fundação usa cobaias humanas em experimentos com alienígenas. Após um acidente ele acaba exposto a uma das criaturas e juntos eles se tornam o Venom.
Uma mistura de ação, comédia e romance, o longa nunca acha seu tom. O filme até demora a engrenar e aqui fica a dúvida se isso se deve a uma tentativa dos roteiristas em desenvolver o protagonista, ou a limitações devido a um orçamento enxuto. Se a opção for a primeira, ela não é bem-sucedida.
Mateusinho viu
Mateusinho viu / Divulgação
Apesar de melhor intencionado que nos quadrinhos, Brock é um jornalista que está em São Francisco fugido de um acontecimento em Nova York, uma informação desnecessária que nunca é esclarecida e usada apenas como fã service. Se trata de um personagem chato, sem carisma e a atuação aparentemente descompromissada do talentoso Tom Hardy (Mad Max: Estrada da Fúria) não ajuda na construção do personagem.
Sua relação com o simbionte, que deveria ser o aspecto mais interessante do longa, é mal trabalhada, apostando em uma tentativa de humor negro que causa o riso em momentos em que não deveria. Fora diálogos expositivos, como o simbionte expondo para terceiros suas fraquezas, informação que é exposta por diferentes personagens pelo menos umas quatro vezes.
Apesar dos efeitos do filme em geral serem bem fracos, o visual do personagem merece destaque. Bem mais próximo dos quadrinhos, o visual é ameaçador, imponente, porém o filme carece de vilões (quem diria) para confrontar o protagonista. O vilão, basicamente é o Venom com outra cor. Francamente...
Surpreendente é a presença de Michelle Williams (Manchester à Beira Mar) em um projeto como esse. Uma atriz indicada várias vezes ao Oscar, parece perdida em uma personagem mal trabalhada e aqui tem provavelmente a atuação mais apagada da atriz.
A escolha de Ruben Fleischer para comandar o projeto parece acertada, o tipo de humor tão bem-sucedido em seu maior sucesso “Zumbilândia” combina com o personagem, mas o que se vê, é uma direção burocrática, com ação pouco inspirada e cenas de humor forçadas. O diretor não encontra o timing cômico do personagem e consequentemente do filme.
Os filmes de heróis (já virou subgênero) começam a se desgastar pelo excesso e pela fórmula um pouco repetitiva. Partindo de um personagem que é formado pela ligação de um homem com um alienígena em uma relação de parasitismo, esse elemento é de longe o mais interes-sante e o que permite mais possibilidades. Por que não fazer um filme para adultos, mais voltado para o terror? Não precisa abandonar as características do personagem e da mídia original, mas não faria mal arriscar algo novo.
“Venom” é um filme genérico, datado (parece chegar aos cinemas com uns 15 anos de atra-so), com personagens desinteressantes e mal resolvido. O filme do vilão, vendido como no-vidade, nada mais é que um filme de herói sem sangue e sem personalidade.

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