Adolescente apreendida em Mato Grosso teve participação no crime em Comendador Venâncio, afirma delegado
Júlia Alves 01/07/2025 10:34 - Atualizado em 01/07/2025 15:14
Coletiva de Imprensa
Coletiva de Imprensa / Júlia Alves
A adolescente de 15 anos, moradora do Estado de Mato Grosso, teve participação no assassinato de uma família no distrito de Comendador Venâncio, em Itaperuna, no último dia 21. A informação foi confirmada pelo delegado Carlos Augusto Guimarães, titular da 143ª DP, que acompanhado da delegada do 6º Departamento de Polícia da Área (DPA) do Estado do Rio de Janeiro, Natália Patrão, concedeu uma coletiva na 6ª Região Integrada de Segurança Pública (RISP), em Campos, para esclarecer as informações do encerramento do caso.

A menina seria namorada virtual do adolescente de 14 anos, que confessou matar os pais e o irmão de apenas 3 anos, após proibição do namoro. O delegado revelou ainda conversas entre os adolescentes com planos para matar a avó testemunha do menino e a própria mãe da menina. A jovem foi apreendida nessa segunda-feira (30) na residência dela em Água Boa, no Mato Grosso. Já o adolescente está apreendido desde o dia 25 e foi transferido para o Centro de Socioeducação (Cense) Professora Marlene Henrique Alves, no dia 27, em Campos, onde está internado.


“Hoje estamos aqui para apresentar o desfecho da nossa investigação concluída com êxito. Em menos de uma semana, já com as duas autorias definidas, materialidade também bem robusta acerca do que realmente aconteceu [...] Por sabermos que havia a possibilidade da participação de outra adolescente nos delitos, nós prontamente contactamos a delegacia de onde essa pessoa morava e verificamos que ela realmente existia e que não era uma especulação. Infelizmente, verificamos pelo teor das conversas que realmente tem participação efetiva dela tanto no momento anterior, durante as execuções e no momento posterior também. Isso nos possibilitou colocá-la também no momento do crime e chegamos à conclusão de que ela foi partícipe. Não só planejou como induziu e instigou a todo momento”, esclareceu o delegado.
Ainda de acordo com o delegado, os adolescentes se conheciam há seis anos e o relacionamento teria ficado mais sério no último ano, mas a distância era um fator de impedimento para que eles pudessem se ver, além da proibição dos pais. Houve um ultimato por parte da menina acerca do término do relacionamento caso eles não se encontrassem, reforçando a chantagem e sugestão de que ele demonstrasse ser homem para que pudesse vê-la pessoalmente. Foi verificada também conversas sobre obter dinheiro para que ele viajasse, ressaltando a outra linha de investigação que seria o interesse no saque dos valores referentes ao FGTS do pai, cerca de R$ 33 mil, conforme já havia verificado no celular da vítima.
O delegado contou mais detalhes sobre as conversas entre os adolescentes, onde foi possível observar a cogitação, premeditação, atos preparatórios, planejamento e atos executórios, além da cobertura para que não fossem descobertos após consumação dos delitos. As conversas aconteciam através do Instagram, onde o perfil da menina tinha o nome de um personagem de filme violento.

Carlos Augusto informou ainda que durante as conversas os adolescentes conversavam sobre matar a avó testemunha do adolescente, e sobre matar a própria mãe da adolescente de MT. A princípio, a menina não queria que o irmão do adolescente fosse morto, mas o próprio menino decidiu matar a criança também.

O delegado destacou o apoio da Polícia Civil de Mato Grosso que, ao reconhecer a participação da adolescente no caso, a identificou e foi até a residência dela para conversar com a mãe, que se prontificou a ajudar nas investigações e forneceu o notebook de onde a menina acessava as plataformas e também a senha, facilitando o trabalho da polícia, pois segundo o delegado, em Itaperuna, da parte do adolescente que já havia sido apreendido, o material já havia sido apagado.

Adolescentes conversaram utilizando jogos e nomes violentos. Delegados fazem alerta aos pais.

Ainda segundo as informações compartilhadas na coletiva, a menina usava um perfil nas redes sociais para conversar com o adolescente com o nome de um personagem fictício de um filme com caráter violento. O delegado revelou que os adolescentes conversavam sobre um jogo de aventura de terror psicológico, como é classificado, onde dois irmãos praticam o incesto e matam os pais. O jogo teria sido apresentado pela menina. Eles não chegaram a jogar, mas assistiam vídeos nas redes sociais e conversavam sobre, tendo inclusive se identificado com os personagens. O delegado informou que esse jogo havia sido banido na Austrália, porém voltou a ser liberado com classificação para maiores de 18 anos.
Ao final da coletiva, Carlos Augusto Guimarães e Natalia Patrão fizeram um alerta aos pais de crianças e adolescentes em relação ao armazenamento de armas em casa e ao acesso a jogos, filmes e redes sociais com conteúdo violento.

“Além de mostrar farto material probatório da participação de ambos nos crimes, essa coletiva também é um alerta a sociedade e uma prestação de contas para que esse tipo de coisa não aconteça mais. Nós, assim como vocês, estamos extremamente chocados e abalados com tudo o que aconteceu, mas nessa hora somos técnicos e tentamos ser o mais profissional possível para que consigamos trabalhar com excelência e trazer o desfecho do caso”, declarou Carlos Augusto.

Já Natália destaca que o ambiente virtual dá palco, favorece e normaliza a violência. Ela reforça o alerta para que os pais fiscalizem o que os filhos estão consumindo.
“A gente vê a expansão do ambiente virtual, arquitetura das redes sociais, os jogos de violência cada vez mais reais com personagens. Isso aumenta o aliciamento de crianças e adolescentes com o cérebro não-maduro. O que a gente sabe é que esse menino estava se relacionando com ela há seis anos, que os pais não estavam fiscalizando essa conversa e nem sabiam se a menina existia. Nesse caso, ela existe e está apreendida. Mas podia ser um bandido, um traficante de pessoas, de órgãos, de qualquer coisa”, comenta.
Natália reforça ainda que precisa haver mais regulamentação nas redes sociais com a comprovação da idade das pessoas. Visto que as redes sociais estão com exibição de conteúdos violentos no Instagram, Discord e com desafios no TikTok, onde recentemente uma menina de oito anos morreu após inalar desodorante.

 

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