*Felipe Fernandes
- Atualizado em 15/10/2025 15:04
reproducão
Filme: "Tron - Ares" - Lançado em 1982, Tron: Uma odisséia eletrônica é um marco do cinema sci-fi, pois é um dos filmes pioneiros em explorar o conceito de realidade virtual. Em uma história que conta as aventuras de um programador levado para dentro de um jogo eletrônico, onde ele precisa lutar por sua vida ao enfrentar um programa tirano que controla aquela realidade, ao mesmo tempo que busca uma forma de voltar para o nosso mundo. Se tornou um filme cult, foi um dos primeiros filmes a usar extensivamente gráficos gerados por computador, mesmo que hoje seus efeitos tenham ficado muito datados e sua história seja meio boba.
Em 2010, saiu uma tardia continuação, ´´Tron: O legado`` que retorna para aquele universo, buscando revitalizar o original, construindo uma franquia para as novas gerações. Com uma trilha sonora incrível do duo francês Daft Punk, o filme é um espetáculo visual, o mundo digital da Grade é sombrio e minimalista, com um design que mistura neon e simetria, construindo um aspecto futurista elegante e estimulante. O filme se pagou nas bilheterias, resultado insuficiente para dar o sinal verde para uma continuação direta.
Passados 15 anos, a Disney retorna ao universo digital de Tron para um recomeço. Fugindo da dinâmica principal dos filmes anteriores, o filme aposta na nostalgia e em uma reformulação narrativa, na busca por algo novo. Com uma forte trilha sonora da banda Nine Ich Nails, Tron: Ares é mais uma tentativa de revitalizar a franquia, ainda que a ideia de reformulação seja pouco criativa e problemática, principalmente ao dialogar com o passado da franquia.
Tron sempre foi uma obra sob seu aspecto visual. A história é quase uma motivação para explorar conceitos estéticos. Nesse sentido, o novo filme não foge à regra. A trama é simplória, ainda que busque uma mudança de dinâmica, se anteriormente tudo girava em torno das pessoas irem para esse mundo digital, o movimento agora é contrário. Trata-se do universo digital sendo trazido para o mundo real, como forma de abastecer a indústria armamentista em novo tipo de guerra futurista. Um tema já existente, com referências a drones e robôs, que aqui ganham esse componente desse mundo digital estilizado.
O filme em si é muito bonito, mas é basicamente uma recriação do longa de 2010, que inovou no conceito visual, algo que não ocorre aqui, já que essa proposta de sair do mundo digital para o real, desconfigura um dos principais elementos da franquia. O mundo conhecido como Grade é muito pouco explorado, essa mistura entre os mundos quebra muito do aspecto visual do longa. Essa ação no mundo real é pobre e nem mesmo a nova versão da Grade impressiona, já que o filme praticamente não sai da sala principal.
Essa dinâmica de trazer esses guerreiros digitais para o nosso mundo, me lembrou muito os filmes da franquia Exterminador do futuro. Seres muito poderosos, oriundos de outra realidade (aqui, esse outro mundo), que passam por cima de tudo para alcançar seus objetivos. Claro que é um filme da Disney e tudo é muito clean e tranquilo. Porém, a interação entre os seres e os humanos é frágil, fazendo com que o espectador nunca realmente se importe com os personagens. É um filme vazio, não existe nenhuma conexão emocional com nenhum dos personagens.
O filme aposta na nostalgia, ainda que ela não seja o foco principal. A família Flynn é exaltada pelos novos personagens, a trama retorna para alguns dos cenários mais famosos, principalmente do longa de 1982, chegando até mesmo a retornar para aquele universo em um determinado momento, em uma reconstrução que busca mesclar o visual do filme antigo com o novo, conseguindo um resultado satisfatório.
Outra mudança reside no novo protagonista. Pela primeira vez, temos um programa do mundo digital como personagem central. Uma máquina que começa a questionar suas diretrizes, demonstrando uma sensibilidade pouco comum para criaturas como ele que passa buscar uma libertação daquele mundo. Não por acaso, o filme faz menção a Frankenstein e Pinóquio, por exemplo. Esse talvez seja o conceito mais original da obra, que fica em segundo plano. Confesso que eu também não aguentaria muito de Jared Leto como uma máquina filosófica. Tron: Ares é uma continuação visualmente deslumbrante, com produção de alto nível e trilha sonora envolvente, que apesar de não inovar, nem expandir aquele universo, mantém a identidade estética da franquia Tron. Ele tenta atualizar o legado dos filmes anteriores, incorporando temas modernos como inteligência artificial, criação digital e ética tecnológica. No entanto, peca por um roteiro raso, personagens pouco desenvolvidos e uma trama que, embora com boas ideias, exclui o elemento mais interessante da franquia, que é o mundo digital. É um filme que prioriza o espetáculo audiovisual em detrimento da emoção e da originalidade narrativa, nesse sentido, um exemplar padrão da franquia.