Prefeita de São João da Barra, Carla Machado (PP) virou notícia nacional por sua desastrosa live da quarta passada, quando declarou: “Se eu tivesse filho, não vacinaria (contra a Covid)”. Isto em franca expansão da variante Ômicron no país, que iniciou tardiamente a vacinação infantil contra a pandemia. Na segunda (24), ela fez outra live e voltou a tratar do assunto. Mas, no lugar de se desculpar por atentar contra a saúde das crianças cujos pais tenham lhe dado ouvidos, a prefeita voltou a delirar. E recebeu tantos comentários críticos em tempo real que seus assessores interromperam o vídeo, sem sequer deixá-lo disponível nas redes.

“Então, gente, quando eu falei da questão das vacinas das crianças de 5 a 11 anos; eles quase que morrem — disse Carla na live de segunda, apontando aos assessores atrás dela —; mas eu gosto de uma briga”. Disse antes de cair na gargalhada, ecoada pela claque. “Agressão é não vacinar tendo vacinas”, comentou uma telespectadora. “Para que tá feio”, pediu outra, na enxurrada de críticas contra uma prefeita que sequer se vacinou contra a Covid: “Empatia é se vacinar”; “Critica a quem não se vacina”; “E gerir um município com empatia?”. Após Carla falar em briga, sua equipe se acovardou com a maciça reprovação popular e suspendeu a live.

Antes de ter sua live encerrada às pressas, Carla disse “estudar” sobre a pandemia. Seu curso de infectologia? “Eu virava a madrugada vendo o canal 40, Globo News”. De fato uma boa fonte de informação sobre o drama da Covid, muito agravado no Brasil por alguns governantes irresponsáveis, a Globo News trouxe esses dias um desabafo do jornalista Daniel Souza. Geralmente comedido, se exasperou com as fake news sobre imunização infantil, como as da prefeita sanjoanense. Ele disse: “É mentira que a vacina contra a Covid não salve a vida das crianças. É mentira que as crianças não adoeçam e morram por conta da Covid!”

A posição particular da prefeita, de não se vacinar, é um mau exemplo. No entanto, apesar de ferir o direito coletivo, é uma decisão particular. Mas questionar o imunizante autorizado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e, ainda, oferecer um medicamento que está sendo preparado pelo município, são outras questões. Isso sem falar que, diferentemente das etapas anteriores, SJB foi o último município da região a iniciar a vacinação infantil, nessa terça (25). Além disso, desde que as doses chegaram, no dia 17 de janeiro, até o dia 24 de janeiro, nenhuma publicação sobre o cadastro para vacinação foi feito nos canais oficiais do município.

A Prefeitura de SJB justificou que o início da imunização ocorreu mais de uma semana após a chegada das primeiras doses porque houve atraso na entrega de insumos específicos, como seringas e agulhas usadas nas crianças. Porém, por telefone, o secretário estadual de Saúde, Alexandre Chieepe, afirmou, na semana passada, que os insumos foram enviados junto com as primeiras doses. As versões são conflitantes, logo, caberia aos órgãos de fiscalização buscar esclarecimentos. Além disso, só o fato de o município não divulgar nada sobre a campanha de vacinação infantil e na mesma semana a prefeita desestimulá-la, já soa estranho. Ou não?

A secretária de Saúde de SJB, Arleny Valdez, precisa se posicionar. Médica cubana, seu nome teve projeção nacional quando assumiu a pasta. E ela está na linha de frente do combate à Covid no município desde o início da pandemia. Em transmissões anteriores pelas redes sociais da prefeita, quando o assunto era a pandemia, Arleny sempre esteve ao lado dela. Ciente que Carla desaconselharia a vacinação infantil, ela não apareceu no vídeo. Isso sinaliza uma posição, mas deveria ficar mais claro por parte dela. Até pelo fato de a secretaria ter assinado uma carta defendendo o direito de Carla não se vacinar, quando a informação veio à tona.

A população também merece esclarecimentos sobre o medicamento fitoterápico anunciado pela gestora sanjoanense para aumentar a imunidade das crianças, logo após desaconselhar a imunização das crianças de 5 a 11 anos. A Prefeitura de SJB recebeu demanda, desde 19 de janeiro, questionando a posição da secretária de Saúde e em busca de mais informações sobre o tal medicamento, mas ainda não houve resposta. Nas redes sociais, o “remédio” virou piada. Teve gente apostando em uma “garrafada”, já outros gaiatos disseram que a solução deve ser o famoso conhaque de alcatrão produzido no município e batizado com o nome dele.

Em meio à polêmica da imunização infantil, a vice-prefeita de SJB, Carla Caputi (DC), testou positivo para Covid-19. A informação foi confirmada pela prefeita, ao justificar a ausência da vice na inauguração do Centro Municipal de Práticas Integrativas nessa segunda. Em nota, a Prefeitura informou que Carla Caputi “testou positivo para Covid-19 na semana passada e está cumprindo quarentena em sua casa com sintomas leves. Ela foi vacinada no dia 13/07/21 com a vacina da Janssen e aguarda a autorização do seu obstetra para tomar a dose de reforço”. Também na semana passada, a vice-prefeita informou, nas redes sociais, que está grávida.