Pandemia não foi fator determinante para queda de homicídios e roubos de carga no RJ
20/04/2021 10:34 - Atualizado em 20/04/2021 21:36
A pandemia do coronavírus não interferiu, de forma determinante, nas quedas dos homicídios dolosos e dos roubos de carga no estado do Rio de Janeiro em 2020. De acordo com o estudo que o Instituto de Segurança Pública (ISP) lança nesta terça-feira (20), os dois indicadores seguiram a tendência de declínio observada desde 2018. No caso dos homicídios, o isolamento social não impactou significativamente a queda de 12%. Os registros de 2020 ficaram ainda abaixo do previsto, após análise dos últimos seis anos da série histórica. O estudo conclui, portanto, que é possível considerar que as políticas adotadas no âmbito da segurança pública tiveram papel importante para os resultados dos indicadores.
Os roubos de carga, que caíram 33% no ano passado, apresentaram variações pequenas nos meses após a decretação do estado de emergência na área da saúde no estado. Os registros ficaram muito próximos dos valores previstos no modelo comparativo criado pelos pesquisadores do ISP e, portanto, não foram afetados significativamente pela pandemia. Esse tipo de crime, é importante salientar, começou a apresentar queda em 2018 e manteve um ritmo decrescente sustentado em todo esse período.
O roubo de veículo foi outro indicador analisado no estudo. De acordo com o modelo de comparação elaborado pelos pesquisadores do ISP, esse tipo de crime ficou abaixo da projeção nos dois meses seguintes ao início das medidas de isolamento social. Porém, a partir de junho de 2020, o número de casos ficou dentro do previsto, ou seja, as medidas de distanciamento social não afetaram significativamente os números de roubos de veículos nesse período.
Crimes de oportunidade
Já o número de roubos a transeuntes e de celular caiu abruptamente a partir do mês de março, quando teve início o período de isolamento. A média semanal de casos, que era de 1.803, passou para 810 e os totais de casos de março a junho ficaram muito abaixo do esperado, levando em consideração a série histórica. Os registros voltaram a subir quando o nível de distanciamento social foi reduzido no estado.
A forte queda desses tipos de crimes não foram observados só no Rio de Janeiro. O estudo de David Abrams, sobre as 25 maiores cidades estadunidenses, observou reduções de roubos além do previsto e não encontrou efeitos sobre os homicídios. Uma pesquisa de Tarah Hodgkinson e Martin Andresen sobre a cidade de Vancouver, no Canadá, também identificou quedas significativas para os roubos. O mesmo resultado também foi encontrado na pesquisa de Mic-Taec Kim e Felix Leung, que analisou Nova Gales do Sul, na Austrália.
Essas pesquisas, assim como a do ISP, partem da teoria das atividades rotineiras, que sugerem que as variações no número de crimes são explicadas pelas diferentes maneiras pelas quais se relacionam infratores, alvos e vigilância. Assim, a explicação para a queda nos roubos a transeunte e de celular está justamente na alteração das rotinas das pessoas que passaram a frequentar menos as ruas devido ao isolamento social. Por serem crimes de oportunidade, quanto menos pessoas circulam pelas ruas, menores são as chances para a ação de bandidos.
— O ISP tem a preocupação constante em analisar as estatísticas da área de segurança pública da forma mais fiel possível à realidade. Logo no início das medidas de isolamento, identificamos mudanças em alguns indicadores e, desde então, estamos empenhados em entender como a pandemia mudou as tendências. A conclusão é que nem todos os crimes tiveram o mesmo comportamento na situação atípica que estamos vivendo. Esse trabalho é essencial para gestão da segurança pública, porque, entendendo melhor essas mudanças, os recursos podem ser alocados de maneira mais eficaz — afirma a diretora-presidente do ISP, Marcela Ortiz.
Metodologia
Para chegar às conclusões, os analistas do ISP desenvolveram um modelo comparativo para avaliar, levando em consideração a série histórica de cada crime, qual seria a tendência daquele delito de março a outubro de 2020, e qual foi o seu comportamento naquele ano. O estudo considera ainda dois intervalos de confiança de 80% e 95%, que são usados como uma margem de segurança para as variações. Para isso, foram utilizados dados provenientes dos registros de ocorrência da Secretaria de Estado de Polícia Civil de 2014 a 2020.
A avaliação do nível de isolamento social no estado foi feita utilizando o histórico de localização dos usuários do Google. Com essas informações foi possível calcular que, por exemplo, na semana seguinte à adoção das medidas restritivas, em março, o Rio de Janeiro teve 70% menos visitas a espaços de lazer e entretenimento em relação à mediana do período de referência (3 de janeiro a 6 de fevereiro de 2020).
Fonte: Governo do Estado

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