Live do Sesc aborda os 150 anos da Lyra de Apollo nesta quinta
- Atualizado em 15/12/2020 19:45
Banda tem atualmente cerca de 25 músicos, muitos em quarentena devido à pandemia
Banda tem atualmente cerca de 25 músicos, muitos em quarentena devido à pandemia / Divulgação
Com boa parte das atividades paralisadas desde o início da pandemia da Covid-19, a Sociedade Musical Lyra de Apollo, de Campos, completou 150 anos de existência no dia 19 de maio. Celebrada de maneira simbólica na ocasião, apenas com a colocação de uma faixa na sede histórica, a data será lembrada nesta quinta-feira (17), em uma live no Instagram do Sesc (@sesccampos), a partir das 20h. O clarinetista Álvaro Martins Siqueira será o responsável por contar parte da história da “Banda mais antiga da cidade”, que já teve integrantes ilustres como Wilson Batista e Delcio Carvalho — antes de se imortalizarem como grandes nomes do samba no Rio de Janeiro.
— Será uma conversa sobre a Lyra de Apollo e as bandas em geral. Pretendo falar como têm sido as atividades da Lyra nos últimos meses — disse Álvaro Martins. — A banda é formada por músicos de sopro e percussão. A gente tem, atualmente, cerca de 25 músicos tocando. Destes, a grande maioria nem está indo, porque há muitos idosos, pessoas do grupo de risco. O repertório que a banda toca, em geral, é muito variado: são marchinhas, sambas, etc. A gente toca de tudo, desde ópera, algumas músicas clássicas, principalmente dobrados — contou.
Para a live desta quinta, foram gravadas duas apresentações do grupo reduzido que mantém os ensaios durante a pandemia. Uma delas é a execução da “Marcha de Santa Cecília”, além de uma exibição dos estudos de choro feitos por alguns dos músicos nos últimos meses.
— Essas duas gravações foram feitas com menos músicos do que a banda tem atualmente, apenas os que estavam indo ensaiar, que são os mais novos, para não aglomerar muito no espaço da banda. Foi uma preocupação que a gente teve — afirmou Álvaro.
História — Em 19 de maio de 1870, um grupo de apaixonados pela música criou a Sociedade Musical Lyra de Apollo. Entre os seus fundadores estão o músico Manoel Baptista Pereira de Castro, primeiro regente da história da banda, tendo ocupado o cargo até 1882; o músico e funileiro Rodolpho D’Oliveira, o charuteiro Lourenço Antônio Soares e o funileiro Bernardo Bento Alves. Nesta época, a Lyra era composta também por músicos dissidentes de outra antiga e pequena banda campista: a Banda de Santa Cecília.
A maioria das bandas de música possui ou possuía estreita relação com a igreja e suas festas, tendo a Lyra de Apolo como padroeira Nossa Senhora da Glória. As festas comemorativas da sociedade eram realizadas em agosto, na igreja da Boa Morte.
A primeira sede da Lyra foi um imóvel alugado à rua da Constituição, hoje avenida Alberto Torres, número 37. Posteriormente, a banda ficaria por muitos anos sem um endereço fixo, até a inauguração do prédio próprio à praça do Santíssimo Salvador, em 1914, fruto de uma campanha para aquisição de terrenos iniciada em 1909 e que resultou na obra a partir de 1912. Músicos e vários integrantes da sociedade campista colaboraram para que a sede fosse construída.
Os trilhos de trem usados nas ferragens da sede da Lyra de Apollo foram trazidos da estrada de ferro às escondidas da polícia pelos músicos, assim como as pedras usadas para o alicerce, oriundas do rio Paraíba do Sul. Desde a inauguração, foram recebidas ou recepcionadas no prédio nomes importantes como o imperador Dom Pedro II e a Família Imperial; os presidentes Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek, Eurico Gaspar Dutra e João Goulart, e o maestro e compositor Antônio Carlos Gomes. Já os músicos da Lyra marcaram presença em inúmeros acontecimentos de relevância para Campos, como as inaugurações da Usina Santa Cruz, do Liceu de Humanidades, do Teatro Trianon e da Biblioteca Municipal, entre outras.
Em 19 de novembro de 1990, um incêndio destruiu instrumentos, uniformes, repertórios, equipamentos e a própria estrutura da sede da Lyra. A reforma do prédio histórico, tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac), começou em 2012, e, desde então, já foi gasto aproximadamente R$ 1 milhão. Entre as etapas da obra, destaque para a reconstrução do assoalho e da escada, possibilitando o retorno das aulas de música e dos ensaios ao local. O valor destinado à reforma foi obtido por meio do aluguel de um ponto comercial pertencente à banda, além de investimento próprio do maestro Ricardo de Azevedo, que preside a sociedade musical desde 2008, bem como de outros integrantes e de admiradores.
— Sonhamos muito com o 19 de maio de 2020. Desde 2012, iniciamos uma grande campanha para revitalizar a nossa sede, devastada por um incêndio no começo de década de 1990. Com imensa luta, nossa casa, antes dada como inutilizada, começava a renascer. Nessa jornada, a grande emoção se deu em 2018, quando realizamos o sonho de voltar a usar o segundo pavimento do imóvel, após a reconstrução da escada que dava acesso a ele — disse o maestro Ricardo à Folha em maio, mês do 150º aniversário. (M.B.) (A.N.)

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