Ethmar Filho: A idade do respeito
Ethmar Filho - Atualizado em 14/08/2020 21:11
As pessoas ficam menos felizes ou mais felizes à medida que envelhecem? Se respondeu mais feliz, então acertou, com base em estudo publicado há dois anos. Esse estudo descobriu que as pessoas geralmente se tornam mais felizes e sentem menos preocupação após os 50 anos. Na verdade, descobriu também que, entre os cinco e os oito anos, as pessoas são mais felizes com suas vidas do que aos 18.
As descobertas vieram de uma pesquisa Gallup de mais de 340 mil adultos nos Estados Unidos em 2008. Naquela época, as pessoas tinham entre 18 e 85 anos. Arthur Stone, do Departamento de Psiquiatria e Ciências do Comportamento da Stone Brook University, em Nova York, liderou o estudo. Sua equipe descobriu que os níveis de estresse eram mais altos nos adultos entre as idades de 22 e 25 anos. Os níveis de estresse caíram drasticamente depois que as pessoas chegaram aos 50. A felicidade era maior entre os adultos mais jovens e aqueles com 70 e poucos anos. Mas, as pessoas que menos relataram sentir emoções negativas foram aquelas na casa entre os 70 e os 80.
A pesquisa também descobriu que homens e mulheres têm padrões emocionais semelhantes à medida que envelhecem. No entanto, mulheres de todas as idades relataram mais tristeza, estresse e preocupação do que os homens. Os pesquisadores também consideraram possíveis influências como ter filhos pequenos, estar desempregado ou ser solteiro. Mas, eles descobriram que influências como essas não afetaram os níveis de felicidade e bem-estar relacionados à idade. Então, por que a felicidade aumentaria com a idade? Uma teoria é que, à medida em que as pessoas envelhecem, ficam mais gratas pelo que possuem e têm melhor controle de suas emoções. Eles também passam menos tempo pensando em experiências ruins.
As descobertas apareceram nos anais da National Academy of Sciences. No Japão, por exemplo, os idosos já são quase 30% da população, e o jeito que o país encontrou para cuidar dos mais velhos é inspirador. Desde pequenas, as crianças são ensinadas a verem os mais velhos como exemplo de sabedoria, que merece ser respeitado. Aliado a essa característica da cultura oriental, os japoneses apostam em invenções tecnológicas que garantem mais conforto para a parcela da população que não para de crescer — autoridades calculam que um terço dos japoneses será idoso em 2030. No Japão, os idosos têm até um feriado nacional, o Dia do Respeito ao Idoso (Keiro no Hi), comemorado na terceira segunda-feira de setembro. Na data, os japoneses vão às ruas para fazer atividades físicas e celebrar a longevidade. E bota longevidade nisso: são mais de 65 mil habitantes que já completaram um centenário.
Além da representatividade dos idosos na cultura japonesa, o país também aproveita a potencialidade tecnológica para promover mais cuidados aos mais velhos. A indústria japonesa criou um robô em formato de foca para ajudar nos cuidados terapêuticos dos idosos. A “Paro”, de acordo com informações do site do fabricante, responde aos comandos do dono, reagindo a carinhos e movendo o corpo. A ideia da invenção é gerar maior sociabilização dos idosos, melhorando a comunicação deles com seus cuidadores, inclusive. Capaz de carregar até uma pessoa, o robô Robear foi criado para ajudar os cuidadores de idosos, que têm dificuldade de levantá-los da cama. Segundo o fabricante, o robô tem sensores táteis, pele de borracha e movimentos suaves, apesar dos 140 quilos. Em Wajima, Ishikawa, os mais velhos podem circular gratuitamente pela cidade em carrinhos de golfe eletrônicos. A novidade ajuda na mobilidade dos idosos e evita acidentes de trânsito e atropelamentos, segundo o jornal The Asahi Shimbun. E o melhor de tudo: há um motorista à disposição em cada carrinho, que faz até três quilômetros de percurso.
A doença de Alzheimer atinge parte da população idosa e pode fazer com que os mais velhos sequer lembrem como voltar para casa. O governo de Iruma, cidade próxima a Tóquio, resolveu a questão criando um QR Code que é grudado na unha da pessoa com as informações pessoais. Assim, se um idoso se perder na rua, poderá ser ajudado por alguém a chegar em casa. A felicidade não é a única coisa que aparentemente melhora com a idade. Em um estudo publicado este ano, pessoas na casa dos 80 relataram um menor número de problemas com a qualidade do sono. Pesquisadores entrevistaram, em pesquisa conduzida, mais de 50 mil adultos norte americanos. O estudo, liderado por Michael Grandner, da Universidade da Pensilvânia, foi publicado na revista Sleep. O objetivo original era confirmar a crença popular de que o envelhecimento está relacionado com o aumento dos problemas de sono. A pesquisa encontrou um aumento durante a meia-idade, especialmente nas mulheres. Mas, exceto por isso, as pessoas relataram que sentiram que a qualidade do sono melhorou à medida que envelheciam. Maestro
Ethmar Filho – Mestre em Cognição e Linguagem

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