Diretoras do Museu Histórico e do Arquivo Público de Campos comentam instabilidade financeira dos equipamentos culturais
26/05/2020 08:00 - Atualizado em 03/06/2020 17:55
Entrevistadas desta terça-feira (26) na primeira edição do Folha no Ar, na Folha FM 98,3, as historiadoras Graziela Escocard e Rafaela Machado, respectivas diretoras do Museu Histórico de Campos e do Arquivo Público Municipal Waldir Pinto de Carvalho, abordaram assuntos relacionados ao esvaziamento causado pelo corte de contratos de estagiários e prestadores de serviços por Recibo de Pagamento a Autônomo (RPA) em virtude do Plano de Suspensão Emergencial. Com um histórico de dificuldades financeiras dos equipamentos, elas opinaram sobre mudanças consideradas necessárias para buscar verba alternativa em benefício da manutenção dos acervos das unidades.
— A gente tem projetos para isso (buscar ajuda privada). Mas, como o Museu se comporta dentro do organograma da Prefeitura, seria inviável. Hoje, o Museu é um departamento no organograma da Prefeitura, não tem como receber financeiramente caso passe em algum edital. Isso (a verba) teria que ir para a Fundação (Cultural Jornalista Oswaldo Lima, vinculada à Prefeitura), e tem o trâmite. A gente precisa rever e respeitar como essas instituições funcionam. O Museu não deveria ser um departamento. Isso ele foi nos anos 1990, quando (a historiadora) Sylvia Paes estava à frente do projeto de museu, e, em 1997, o prédio foi fechado pela Defesa Civil, e ele ficou instalado numa sala do Palácio da Cultura. De lá para cá, o organograma não mudou muito. A gente precisa criar estratégias de essas duas instituições(o Museu e o Arquivo) terem vida própria — afirmou Graziela Escocard, que está há oito anos na diretoria do Museu Histórico.
A instabilidade financeira dos equipamentos culturais foi tratada por Rafaela Machado como um problema antigo.
— Talvez esteja mais agravada agora, mas não é uma novidade para a gente, que vive nessa realidade há muito tempo. Acho que o poder público como um todo, e para isso eu chamo a responsabilidade da Câmara dos Vereadores também, tem que perceber a necessidade de criar formas de essas instituições serem geridas de uma maneira mais direta, que garanta a elas uma sobrevivência. Outro reclame que tenho que fazer é que, muitas vezes, com a lei de incentivo, por exemplo, em âmbito local, você tem o empresário lá na ponta, mas precisa chegar a esse empresário. Então, precisa existir um setor dentro do poder público que faça a ponte até o empresariado, porque o projeto a gente tem. Isso é interessante para o empresariado, e eu acho que isso vai ser a solução para o setor cultural. Mas, a gente precisa pensar em criar mecanismos dentro do poder público para ajudar não só os equipamentos culturais, como também os artistas, o setor cultural como um todo — pontuou a diretora do Arquivo Público Municipal.
Segundo as historiadoras, tanto o Museu Histórico quanto o Arquivo Público tiveram projetos prejudicados com a suspensão dos contratos de RPA's e estagiários, inclusive nas atividades virtuais que vinham sendo realizadas durante a pandemia do novo coronavírus.
— Essas pessoas são extremamente qualificadas, tecnicamente formadas. Quando você perde uma mão de obra como essa, ela não é reposta do dia para a noite, não é simplesmente recolocada com qualquer outro profissional — afirmou Rafaela Machado sobre a equipe do Arquivo Público. — Ficamos um período sem fazer manutenção no acervo porque, afinal de contas, eu estava sozinha, só com mais uma pessoa. Voluntariamente, uma parte da equipe foi comigo para fazer intervenção, mas ficamos um tempo até resolver a situação, um tempo sem poder cuidar do prédio e da documentação como tinha que ser feito — acrescentou.
O discurso foi reforçado por Graziela Escocard em relação ao Museu.
— Esses prédios estavam fechados devido ao primeiro decreto, até porque as instituições culturais de todos o país estão fechadas. Mas, a gente estava fazendo um trabalho de manutenção preventiva do acervo. O Museu e o Arquivo são duas edificações antigas, precisamos de manutenções constantes nestes prédios. O Museu possui um acervo da ferrovia, que é tombado pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), e todo ano a gente manda relatórios sobre as condições da conservação daquele acervo. A gente possui uma reserva técnica que ainda não está adequada, mas possuímos, onde a gente guarda fotos, um acervo enorme de fotografias. Também temos um acervo documental enorme pertencente à coleção de Nilo Peçanha. Tudo isso paralisou, esse trabalho de manutenção paralisou — lamentou a diretora do Museu Histórico.
Confira a entrevista completa:

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