A pós-verdade é nova; Fake news é apenas um nome novo para a velha prática da "mentira organizada"
21/09/2019 22:25 - Atualizado em 21/09/2019 22:49
Em 1992, após o impeachment de Richard Nixon, os americanos viveram um período de rejeição às más notícias. O roteirista Steve Tesich, em artigo a revista The Nation, revela o sentimento da época: “nós não queríamos mais más notícias, independentemente de quão verdadeiras ou vitais para nossa saúde como uma nação”.
A filósofa judia Hanna Arendt já previa que viveríamos um fenômeno, comumente chamado de pós-verdade, há mais de 50 anos — em outras palavras, a mentira organizada contemporânea conduz a um cinismo niilista, uma recusa em acreditar na verdade de qualquer coisa. A descrença é a desistência da tarefa de fazer qualquer avaliação. Algo parecido acontece quando, no Brasil de hoje, se diz que todos os políticos são corruptos, como se não houvesse aí distinções mais finas ainda a serem feitas — ensina Arendt.
Fake News e a pós-verdade
Fake News e a pós-verdade
A pós-verdade é nova; Fake news é apenas um nome novo para a velha prática da “mentira organizada” — Quando falamos em “pós-verdade”, normalmente nos referimos à descrença gerada pelo excesso de informação, com a difusão de meios digitais para divulgá-las, muitas vezes sem nenhum critério. Esse fenômeno é conceitualmente diferente da revelação se uma informação é correta e real e qual seria o seu inverso relacionado. Pós-verdade faz referência a uma condição de não se importar com a verdade ou com a possibilidade lógica naquela informação recebida e compartilhada. Ainda citando Arendt, "a mentira organizada” parece ser uma constante desde os primórdios da comunicação. Fofoca, intrigas, calúnias ou qualquer outro termo que defina informações falsas propagadas de maneira proposital.
As práticas se tornam mais grave quando meios de comunicação de massa promovem as chamadas “fake news”. Em 2016 a Oxford Dictionaries, departamento da Universidade de Oxford responsável pela elaboração de dicionários, elegeu o vocábulo "pós-verdade" como a palavra do ano. O crescimento do interesse no tema não foi gratuito. No ano seguinte, Donald Trump se elege presidente da nação mais poderosa do planeta sob forte acusação de uso de notícias falsas. No Brasil, o uso político de inverdades também protagonizaram os debates sobre a eleição de Bolsonaro.
Os fact-checkers do jornalismo nunca devem ser exclusivos — Nietzsche, filósofo influente do século anterior à Hanna Arendt, nos diz que: “não existem fatos, apenas interpretações”. A frase pode levar a interpretação próxima aos conceitos da pós-verdade, porém ela deve servir para uma avaliação mais específica.
É saudável ao jornalismo— ou mesmo à opinião, quando relevante —ser checado. É um dos requisitos que determinam a qualidade da informação. Porém é preciso questionar criticamente quem chama para si a exclusividade da verdade. Para quem tem apreço pela democracia e pela liberdade, causa bastante estranheza alguém que se pretende controlador de veracidades alheias. Principalmente quando este é passível da mesma checagem. Situação flagrantemente constrangedora quando algum pretenso censor é acusado de divulgação falaciosa e se possuir envolvimento político visível.
As informações nunca devem ser controladas ou limitadas. Quando falsas por dolo, devem ser banidas. O que determina a qualidade e inserção das notícias é a credibilidade. Qualidade que não se ensina na universidade, tão pouco é encontrada em currículos e diplomas. Ela é construída e conquistada.
 

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    Edmundo Siqueira

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