Guilherme Belido Escreve - Não perde mais
20/10/2018 17:11 - Atualizado em 22/10/2018 15:02
Indo direto ao ponto, é preciso reconhecer a temeridade de se dar uma eleição por praticamente liquidada quando resta uma semana para o pleito definitivo. Além de pouco sensato, jornalisticamente não é recomendável. Afinal, imprensa não é rede social em que prevalece o vale tudo e onde a insanidade se espalha além-fronteiras.
Aliás, nos veículos profissionais de comunicação – seja jornal, rádio, televisão ou sites integrados a esses órgãos da mídia – o que mais se tem visto é a notícia para desmentir notícia.
É, digamos assim, o efeito colateral desse instrumento potencialmente extraordinário que é a Internet. Sem outro jeito, os veículos se ocupam cada vez mais a abrir espaços para dizer que esta ou aquela informação não passa de fake. É o fim da picada. Mas...paciência!
Voltando à sucessão presidencial, a ousadia – que não se confunde com irresponsabilidade – de apontar que o candidato tal está com um pé no Palácio do Planalto, baseia-se num conjunto de situações que chancela essa ilação.
Não bastasse os dois principais institutos de pesquisas, Ibope e Datafolha, apontarem ampla vantagem na pontuação de Bolsonaro, o capitão reformado ganha disparado nas perguntas que o Datafolha fez aos entrevistados, no dia 18, sobre as mais diferentes preferências. As respostas dadas ao amplo questionamento foram maciçamente favoráveis a Jair Bolsonaro – o que não é fácil de ser revertido.
Rejeição
Questão de alta relevância no resultado das urnas, Bolsonaro conseguiu jogar sobre os ombros de Haddad a rejeição que sempre o acompanhou.
Pelo Datafolha divulgado no dia 18, a rejeição ao petista alcançou incríveis 54%, enquanto a do deputado recuou para 41%. No dia anterior, o Ibope havia captado que a rejeição a Haddad pulou de 36% para 47%, com a do capitão fazendo caminho inverso, de 43% para 35%.
Voto da mulher & etc.
Emblemático, certamente a marca mais forte da mudança em favor de Bolsonaro está na preferência das mulheres. Numa reviravolta já captada no 1º turno, o Datafolha confirmou que o voto feminino é pró-PSL: 43 a 39. Há um ou dois meses, esse recorte seria inimaginável.
Os pontos favoráveis a Haddad, entre os quais o de ser o preferido pelos eleitores cuja escolaridade é de ensino fundamental (45% a 40% dos entrevistados), bem como junto à população com renda de até 2 salários (Haddad, 44; Bolsonaro, 39), não é o suficiente para diminuir a distância em favor do deputado nas muitas outras questões, devendo-se observar, ainda, que nestas as diferenças percentuais são mais expressivas.
Haddad perdido
Fechando a conta pró-Bolsonaro, há de se observar que Haddad não resolveu os problemas da fase inicial da campanha e vem sofrendo novos revés para o 2º turno.
Antes do 7 de outubro, o comando da campanha estava rachado entre os que queriam que Haddad incorporasse mais o perfil Lula e aqueles que advogavam para algo mais leve.
Nesta segunda fase, a situação parece ter piorado. Haddad mudou a logomarca de sua campanha (abolindo o vermelho) e, perdido, fez alterações no programa de governo.
Mais ainda, aderiu a iniciativas que mostram que o candidato do PT, atordoado, dá passos em direção ao que Bolsonaro prega, como que buscando se aproximar das bandeiras do deputado, em detrimento de suas próprias.
Forçoso reconhecer, trata-se de capitulação antecipada, além de inequívoca demonstração de que falta personalidade ao programa montado pelo PT. Haddad dá as costas à sigla petista para pegar carona no bolsonarismo.
Assim, não há disparate em dizer que perdeu a eleição. Salvo, a uma semana do pleito, pelo aparecimento do Everest do imponderável.
O recado do 1º turno
Num Brasil sob forte crise econômica, a mensagem que ficou clara é que o eleitor votou pelo prato de comida: do bolso para a boca; da boca para o bolso.
Em suma, os temas predominantes na imprensa, nas redes sociais e entre os acadêmicos não foram considerados como fundamentais pela massa de brasileiros.
Ideologia de gênero, homofobia, salário das mulheres, preconceito, o crânio de Luzia e até mesmo o alerta de risco à democracia (que não convenceu) ficaram na periferia da pauta. O povo votou de forma material. Votou mirando no desemprego, na baixa renda, na insegurança e na falência da Saúde e da Educação.
Votou, ainda, contra a corrupção e esperançoso de que a qualidade de vida em favor dos menos favorecidos retorne à agenda política. Votou pensando num futuro melhor para seus filhos e que no presente, ao menos, eles consigam voltar com vida para casa.
Os tantos outros temas ligados ao mundo institucional – relevantes, não há dúvida – foram para o final da fila, atrás do prato de comida, do teto para morar e de um mínimo de dignidade.
Não fosse assim, Dilma Rousseff, Sarney Filho, Romero Juca, Roseana Sarney, Eunício Oliveira, Beto Richa, Lindbergh Farias, Edson Lobão, Cassio Cunha Lima, Ricardo Ferraço, Vanessa Grazziotin, Yeda Crusiu, Marconi Perillo, José Agripino, Delcídio do Amaral, Fernando Pimentel e outras figurinhas pra lá de marcadas não teriam sido extirpadas da política brasileira.
Como nada é perfeito – tampouco no campo político – tivemos a reeleição de Renan Calheiros (fazer o quê?), enquanto nomes como Cristovam Buarque não renovaram o mandato.
Via de regra, 2º turno confirma 1º
Fazendo um link entre o recado dado na eleição de 7 de outubro com o que se projeta para domingo que vem, é razoável pressupor que os fundamentos presentes na opção do pleito passado se mantenham no pleito futuro.
A observação não poderia ser feita com tranquilidade se a votação de Haddad fosse algo próximo do que somou Bolsonaro ou, em outra configuração, se o terceiro colocado não ficasse tão distante do petista. Mas, ao simples olhar de que Bolsonaro obteve 18 milhões de votos a mais que Haddad (46,05% contra 29;24%) e Ciro, com 13 milhões, teve menos da metade dos votos conferidos ao petista, vemos que o eleitor fez opções bem definidas, separando com a clareza dos números sua preferência.
Assim, salvo por reviravolta mediante revelação ou escândalo de grande proporção; ou, ainda, por advento do ‘outro mundo’, veremos mantidos e ampliados o que se apurou no 1º turno.
Outra eleição. Será? – O 2º turno é uma nova eleição? É. Mas como os números não mentem e, no caso, estão revestidos das circunstâncias reproduzidas acima, a tendência é acrescentar a quem tem mais e reduzir de quem tem menos. Outro dado estatístico é que geralmente o 2º turno confirma o resultado do 1º.
Não indo longe no tempo, da redemocratização para cá, tivemos confirmadas no 2º turno as vitórias de Collor (1989), Lula (2002), Lula (2006), Dilma (2010) e Dilma (2014) obtidas no 1º turno. Nos pleitos de 1994 e 1998, Fernando Henrique obteve mais de 50% dos votos.
Além dessa ‘escrita’, leva-se em conta que uma fatia do eleitor, aquela que não em maior convicção por este ou aquele candidato, vota no que está na frente... no que “vai ganhar”, para não “perder o voto”.
Sem invocar juízo de valor, é um dado que se faz presente no eleitorado menos esclarecido, inclinado a engordar a votação do suposto vitorioso.

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