Chequinho pelo lado acusado
Aluysio Abreu Barbosa e Paula Vigneron 17/06/2017 17:26 - Atualizado em 17/06/2017 18:23
Thiago Virgílio
Thiago Virgílio/Antônio Leudo
Um bloco de oposição com até 10 vereadores e participação direta nas CPIs da Lava Jato e das Rosas, já publicadas em Diário Oficial. Conhecido em seu mandato anterior como “Pitbull Rosa”, o vereador Thiago Virgílio (PTC) chegou à Câmara Municipal ameaçando morder com boca larga. Ele também revelou a visão que os acusados têm da operação Chequinho, questionou os cinco dias que passou na cadeia por conta dela e fez críticas aos métodos de investigação. Embora ressalte que torcer contra o governo Rafael Diniz (PPS) é torcer contra Campos, além de admitir seu canal aberto com o chefe de gabinete Alexandre Bastos, Thiago promete não dar facilidades na missão de fiscalizar os atos do prefeito e do presidente da Casa de Leis goitacá, vereador Marcão (Rede). Se vai só rosnar ou de fato morder, os próximos dias dirão.
Folha da Manhã — Apesar de condenado pela Justiça Eleitoral de Campos na Ação de Investigação Judicial Eleitoral (Aije), você conseguiu assumir seu mandato com um recurso no Tribunal Regional Eleitoral (TRE) a partir da concessão de um habeas corpus criminal no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Seu recurso na condenação eleitoral ainda não foi julgado no TRE, que já condenou Jorge Magal (PSD) e Vinícius Madureira (PRP). Qual sua estratégia para não seguir o mesmo caminho deles, já que as acusações na Chequinho são basicamente as mesmas?
Thiago Virgílio — Pelo que os nossos advogados vêm falando, as estratégias serão diferentes das que foram usadas pelos vereadores Magal e Vinícius Madureira. Nosso jurídico acha que houve alguns equívocos nas estratégias dos advogados deles, sem querer fazer nenhuma crítica, até por questão de ética.
Folha — Mas você pode dizer qual é a diferença dessa estratégia?
Thiago — Não. Eu não sei. Não tenho conhecimento porque os advogados não abriram isso para a gente. Mas a gente confia que terá êxito no TSE. Eu entendo ali, por exemplo, no caso do Madureira, pelo que a gente soube, parece que teve uma tentativa de supressão de instância. Antes de ele pedir a cautelar no TSE, deveria ter uma declaração de admissibilidade do TRE. Parece. Não sou advogado. Tanto é que Magal ainda não entrou. Estão trabalhando para que tenha essa declaração de admissibilidade do TRE, para que, assim, ele possa tentar. Pesquisei com vereadores que são advogados, como Thiago Ferrugem e Vinícius Madureira, e eles mostraram que, praticamente, todo mundo que entrou com uma cautelar, neste sentido, consegue êxito. Até porque o TSE, no julgamento do nosso habeas corpus, deixou claro que entende que vereador tem que ficar no cargo até a última instância.
Folha — Além da Aije, seu envolvimento na Chequinho, como o de todos os demais candidatos beneficiados no “escandaloso esquema” da troca de Cheque Cidadão por votos na eleição de 2016 gerou também ação criminal na 100ª Zona Eleitoral de Campos, ainda não julgada. Qual sua expectativa?
Thiago — Eu participei de uma audiência até agora. Doutor Ralph até dispensou os réus. Estávamos eu, Linda Mara (PTC), Jorge Rangel (PTB) e Kellinho (PR). Logo que chegamos, ele liberou. Os réus poderiam sair da sala. Não precisavam participar. No primeiro depoimento, que foi da Beth Megafone, ele perguntou a ela: “Só tem um réu na sala. Quer falar na presença dele ou não?”. Ela ficou sem responder por uns 30 segundos. Eu levantei e falei que estava saindo para não atrapalhar. Eu poderia ter ficado, mas não quis. E, agora, tem uma audiência marcada para o dia 26. Eu também estou muito confiante porque, pelas provas que têm, no meu caso, acho que não são consistentes para poder me condenar. Mas cabe ao juiz. Não sei qual é o entendimento dele. Tiveram o entendimento sobre Magal. Nem aceitaram a denúncia dele. Dá uma esperança de que eles possam rever com calma. Como no caso do Cláudio Andrade (PSDC). Ele também respondeu e foi arquivado. O Ministério Público entrou...
Folha — Cláudio Andrade na Chequinho?
Thiago — Cláudio Andrade na Chequinho. Foi o único caso em que teve acareação. Nenhum outro teve. Eu tenho o processo e posso te fornecer aqui mesmo. São 84 páginas. Na Chequinho. Foi arquivado.
Folha — Qual seria o envolvimento de Cláudio Andrade?
Thiago — Uma das assistentes sociais o beneficiou. Teria pedido. Só que teve acareação. Ele também foi denunciado.
Folha — Uma daquelas assistentes sociais, que fizeram denúncia inicial à Polícia Federal PF), teria falado que beneficiou Cláudio Andrade também? Mesmo ele não estando no grupo?
Thiago — É. Porque o contato dele seria com a assistente social. Seria pessoal. E, aí, houve uma acareação com as três pessoas. Elas falaram que não teve isso. E foi simplesmente arquivado. Então, a gente fica com esperança. Algumas pessoas estão sendo absolvidas; de outras, nem a denúncia está sendo aceita. A gente acredita que possa ter uma decisão favorável na criminal.
Folha — Ainda no ano passado, você foi afastado do seu mandato anterior e depois preso por cinco dias, pelo envolvimento na Chequinho. Chegou a pensar em fazer delação premiada enquanto esteve na Casa de Custódia?
Thiago — Nunca cheguei a pensar.
Folha — O Ministério Público ou a PF chegaram a propor a delação?
Thiago — Não. No dia, não foi formal, mas um dos agentes disse: “Rapaz, você tem que pensar na sua família. Você é casado. Estou vendo a aliança no seu dedo. Deve ter filho”. Eu disse que tenho três.
Folha — Sabe qual o nome do agente?
Thiago — Não. Se eu encontrar, hoje em dia, até sei reconhecer.
Folha — Então não pensou em fazer delação?
Thiago — Hora nenhuma. E também não tive proposta.
Folha — E se tivesse?
Thiago — Com certeza, não faria. Eu sou totalmente contra a delação premiada.
Folha — Mas você acha possível fazer uma operação como a Lava Jato, que já recuperou R$ 10,3 bilhões desviados dos cofres públicos, sem delação premiada?
Thiago — Não é questão de ser possível. É questão de que não tem para onde correr. É diferente do meu caso. Eu não tinha nada para entregar.
Folha — E se fosse executivo da Odebrecht, você falaria?
Thiago — Ali, acho que não tem para onde correr. Com as provas, não tem para onde.
Folha — Depois de assumir seu novo mandato, você disse na tribuna da Câmara que chegou a pensar em desistir. Por quê?
Thiago — Em alguns momentos, porque foi muito difícil. A meu ver, criaram um clima de terrorismo.
Folha — Quem criou?
Thiago — Acredito que a Polícia Federal, a própria mídia e o Ministério Público. Para você ter ideia, os dias em que eu fiquei mais tranquilo, desde quando estourou a Operação Chequinho, foram os dias em que eu fiquei preso. Eu sabia que, pelo menos, minha mãe, meu pai e minha esposa sabiam que não tinha mais nada para acontecer comigo. Porque (diziam): “olha, vai prender; no dia da eleição, prende todo mundo”. A gente ouvia dizer que, no dia da diplomação, não dariam o diploma; que, no dia da posse, caso diplomados, não tomaríamos posse. Ali, eu fui muito prejudicado porque todo mundo sabe que eu era o candidato (à presidência da Câmara) do grupo da época, da prefeita. Pela composição e pelo trabalho feito, a gente acreditava que tinha chance de ganhar pela conversa que tínhamos com vereadores e partidos. Com a canetada que nós tomamos, deixaram de fora seis vereadores, alguns com experiência, como Jorge Rangel e Kellinho. Isso aí desarticulou. As pessoas falavam: “aqui, não vai dar mais”. E começaram a conversar com o pessoal de Marcão (Rede). Então, acreditamos que isso foi primordial para que Marcão levasse a (presidência da) Mesa.
Folha — Então, esse foi o clima de terrorismo do qual você falou?
Thiago — É. Terrorismo de “vai prender”, de Polícia Federal. E ainda acontece. Em minha opinião, não há necessidade. Até as testemunhas, hoje, estão sendo notificadas para uma audiência pela Polícia Federal. Isso já assusta as pessoas. O cara está na casa dele e chega a Polícia Federal. Existem os oficiais de Justiça para isso. Então, para que isso?
Folha — Você falou que um clima de terrorismo foi criado pelo Ministério Público, Polícia Federal e imprensa. Você acha que imprensa, MP e PF se juntaram?
Thiago — Não. Em minha opinião, não houve uma aliança. Mas houve cada um atuando dentro do que cabia. Vou dar um exemplo da minha prisão. Primeiro, me chamaram lá, em um dia de sábado, jogo do Flamengo. A mesma pessoa, o policial federal Alessandro, me ligou na quinta-feira, dizendo: “Eu preciso que você tome ciência de que está sendo afastado da Câmara”. Ele me ligou em um dia de sábado e falou: “Você precisa vir à Polícia Federal para poder assinar novamente”. Eu disse que tinha assinado. Ele disse: “Mas o cara encrespou com sua assinatura”. Isso no WhatsApp. Tenho essa conversa salva até hoje. Ele disse: “Calma aí. Não é isso. Ele quer que você coloque o seu CPF com sua letra”. Perguntei que horas. “Às 15h”. Cheguei. Avisei que estava lá na frente. Entrei. Deu meia hora, 40 minutos. Tinha um primo meu lá fora, no carro. Pedi para pegar a minha filha, que estuda no Auxiliadora. Tinha que pegar às 16h. Acho que, pela câmera, eles viram que fui até o portão e pensaram que eu ia embora. Porque não falei com ninguém. Estava sentado no pátio. Aí, desceu outro delegado, meio ofegante. Ele me puxou para o canto e disse: “Infelizmente, o documento que tem para você aqui não é para você assinar. Tem um mandado de prisão para você”. Eu perguntei: “Mandado de prisão? Mas pediram para eu vir aqui assinar”. Liguei ao advogado da Câmara e falei que não tinha dez minutos que eu havia sido comunicado sobre a prisão. Ele disse: “Não, eu vi há 20 minutos, no blog da Suzy” (Monteiro). Então, a Polícia Federal, no meu entendimento, era o tempo todo querendo mídia. Não sei se a Lava Jato estimulou. E todo mundo nesse clima, o Judiciário abusando. Em minha opinião, no Brasil inteiro, existem vários abusos ocorrendo, e nós vivemos uma ditadura do Judiciário. Não falo em Campos, mas de modo geral. E nós temos que enfrentá-la. O cara chega à sua casa, às 6h da manhã, e te leva em uma condução coercitiva. Ou te leva preso porque ouviu dizer ou porque você pode vir a atrapalhar as investigações. Eles falaram que pelos cargos que eu tinha, de vereador e vice-presidente da Câmara, eu poderia atrapalhar. Qual o indício tinha? Será que eu não tinha, primeiro, que ter atrapalhado alguém? Ou ter ido em cima de alguém? Não houve nada disso. Então, não tinha motivo para a prisão. Eles vêm, jogam a gente para dentro de uma cela por cinco dias, sujam o nosso nome, desgastam a nossa imagem. Eu estava no meu primeiro mandato. São questões irreparáveis.
Folha — Você ainda pensa em desistir?
Thiago — Não. Foram alguns momentos. Não foi um só. Minha família não estava suportando mais. Eu era estudante de Direito. Meus amigos diziam para eu voltar a estudar, largar política. Ouço isso, às vezes, de político experiente. Paulo Feijó falou: “Thiaguinho, não dá mais”. Então, políticos experientes acham que não dá mais para tocar a política. Acho que, hoje, é a atividade mais perigosa que tem. O policial, que trabalha na UPP, trabalha mais tranquilo do que uma pessoa que trabalha em cargo eletivo. Se chegar uma pessoa e disser que eu fui ao prefeito e pediu isso, eles estão levando. Prendem. Não param mais para ouvir os dois lados. Está cada vez mais difícil por conta do Judiciário.
CPIs de Rosinha com rosáceos?
Folha — Antes de assumir seu mandato, você fez críticas à posição do presidente Marcão, pela postura deles em relação aos condenados na Chequinho. Você o acusou de ser parcial e de usar “dois pesos e duas medidas”, em relação aos vereadores garotistas que migraram à bancada governista, como Magal, e os que permanecem no grupo do ex-governador, como você, Kellinho (PR), Jorge Rangel (PTB), Linda Mara (PTC) e Miguelito (PSL). Mantém essas críticas?

Thiago — Em minha opinião, existe, na condução da Casa, um tratamento diferente. A gente fala isso desde assessorias. Inclusive, nesta terça-feira (20), nós vamos dar entrada na Câmara, com um documento que já preparei, porque a Câmara foi oficiada, esta semana, pela Prefeitura. Marcão até alega que houve um erro de Suledil Bernardino em cima de um orçamento que aprovamos na Câmara, de R$ 31 milhões. Discordo dele porque não é erro. Orçamento é previsão. Então, se neste primeiro quadrimestre, nós não tivemos a receita que esperávamos, não foi um erro de cálculo. Orçamento, todo mundo sabe, é uma previsão. E a gente acredita que vai ter que ter corte. Então, estamos propondo a criação de uma comissão para estudar. Pode ser com vereadores da situação e da oposição. Para que a gente possa estar ali vendo onde pode cortar na Câmara. Eu acho que os vereadores, por exemplo, já vêm sofrendo muitos cortes. Não acredito que Marcão vá querer, até porque vem candidato a deputado ano que vem, desgaste com os vereadores. Então, nós vamos ajudar Marcão para ver de onde ele vai cortar. Nós vamos propor a criação de uma comissão. Agora, a questão da diferença de tratamento é nítida. Na Casa, não tenho nem uma semana lá, ouvi relatos de vereadores. Mas, hoje, tranquilamente, a gente sabe que é desde as assessorias.
Folha — Como é esse tratamento diferenciado?
Thiago — Por exemplo, eu tenho seis assessorias. Tem vereador que tem oito, nove. A mesa é que tem dez. Tem que ter porque trabalha mais. Mas e os outros vereadores? Foram acordos políticos? É normal que tenha, mas vamos precisar rever essa questão por causa do orçamento da Câmara, que tinha uma previsão e, agora, está sendo outra. E, por exemplo, vereadores reclamam comigo que podem usar o carro da Câmara para cinco viagens por mês. E a gente sabe que têm vereadores que são ilimitados.
Folha — Quais vereadores, por exemplo?
Thiago — Os vereadores da base.
Folha — Todos eles?
Thiago — Todos eles. Eles não têm problemas em relação a viagens. E nós, vereadores da oposição, temos cinco. O líder da situação (Fred Machado, PPS) tem um carro próprio da Câmara para seu atendimento. Fred Machado não faz parte da Mesa. Então, se ele tem um carro à disposição para trabalhar como liderança dos vereadores da sua base, será que, assim que for formado nosso bloco, teremos um carro para a liderança trabalhar para os nossos vereadores? Porque o líder trabalha para a bancada. São questões que a gente precisa rever. Assessoria, eu falo de cara. Tem vereador que tem oito, nove, e nós temos seis.
Folha — Quais vereadores têm oito, nove?
Thiago — Os vereadores fora da Mesa têm oito. Alguns têm nove.
Folha — Todos eles?
Thiago — Todos eles. Nenhum tem menos de oito. Os do G5 (grupo “independente”) principalmente. E nós, da oposição, temos seis. Então, a gente pensa que o presidente da Câmara tem que ser presidente de todos os vereadores, como foram Marcos Bacellar (hoje, PDT), à sua época, e o próprio dr. Edson (PTB). Você vê que não tinha oposição dos vereadores a dr. Edson. Vez ou outra, tinha discussão, mas ninguém entrava com requerimento para ele, querendo saber quais os contratos vigentes da Casa. O que ele faz com contrato de publicidade, quem está fornecendo o buffet da casa. São questionamentos que nem aconteciam porque era o presidente de todos. Então, a gente precisa que o presidente seja isento, que seja o presidente de todos os vereadores. Isso não vem acontecendo na Casa e nós vamos cobrar dela, sem sombra de dúvidas.
Folha — Você também chegou a ameaçar Marcão: “Se o presidente não quer ser imparcial, não tenha dúvida: nós vamos para dentro dele! Vamos querer saber como anda a Casa, as finanças da Casa”. O Pit Bull Rosa só latiu ou vai morder?
Thiago — Na segunda-feira (amanhã, dia 19), está garantido que serão protocolados vários requerimentos. Inclusive, a gente quer cópia de todos os editais para saber o que tem na Casa, como a Casa está funcionando, como está sendo paga. Porque a gente não vê licitação. A gente vai precisar saber, até porque Marcão sempre defendeu a transparência. Eu não acredito que ele vá ter dificuldade em nos responder. Vamos cobrar, também, o balancete trimestral, que tem que ser feito no plenário. No primeiro trimestre, não aconteceu. No segundo, vai acontecer porque nós vamos cobrar.
Folha — A sessão da última terça-feira (13) foi tensa. Os vereadores governistas Cláudio Andrade, Neném (PTB) e José Carlos (PSDC) responderam críticas pessoais feitas publicamente por Garotinho. O primeiro, inclusive, reagiu descendo ao mesmo nível, chegando a falar de uma crise conjugal entre o casal de ex-governadores. O que acha dessa característica do seu líder de sempre atacar pessoalmente os adversários políticos? Você aprova?
Thiago — Não concordo com ataques pessoais. Já tentamos conversar, algumas vezes, com Garotinho sobre isso. Mas, nesta altura do campeonato, ninguém muda. A gente tem que ver o outro lado também. Eu vejo, muitas vezes, ele sendo atacado na área pessoal. Tem gente que diz que ele é atacado na área pessoal porque também ataca. Eu não sei. A gente também vê que ele sofre muito ataque pessoal. Muitas covardias que sua família sofre. Então, acredito que ele possa estar, de repente, revidando. Mas eu não concordo com esse tipo de atitude.
Folha — Você acha que o adversário político tem que ser inimigo pessoal?
Thiago — Não precisa. Não há necessidade nenhuma. Na Câmara mesmo, às vezes, foge um pouco da discussão de ideias e acaba em pessoas. Por exemplo, teve caso em que vereador falou: “Está em casa esperando a tornozeleira chegar”. Se eu estivesse na tribuna, ia dizer: “Rapaz, você tira do seu filho e empresta ela”.
Folha — Está falando de Zé Carlos?
Thiago — De Zé Carlos. Se eu estivesse ali, daria essa resposta. Foi como quando eu cheguei à Casa e me falaram: “Thiago, como vai ser?”. Respondi: “Vocês que vão tocar. Se quiserem tocar na ideia, vamos tocar na ideia; se quiserem tocar no pessoal, vamos tocar no pessoal”. Eu sei de coisas desde antes de ser vereador. E não tenha dúvida: na hora que ciscar ao meu lado, eu vou entrar para o lado pessoal. Até brinquei na Câmara, essa semana, que o fotógrafo é Jocelino Rocha. Mas tem o apelido de Checkinho (Check). Eu falei: “A partir de hoje, vou pedir a você. É Jocelino. Jocelino Rocha”. Eles deram risada, brincaram. Mas foi brincadeira. Neném logo me chamou no canto: “Não entra nessa. Nós somos amigos. Eu estava viajando com família. Já viajei para caramba com você. Você sabe que nada a ver o que ele (Garotinho) fez”. Falei com ele: “Neném, só não toca em Chequinho”.
Folha — Mas Neném respondeu a Garotinho sem baixar o nível.
Thiago — Até que ele foi calmo. Eu falei com ele: “Neném, vai devagar. Você, nervoso, vai acabar falando coisa de Chequinho”. Ele deu risada e disse que não. Aí, eu falei: “mas até uma semana atrás, você estava falando”. Mas, se eu for atacado pessoalmente, vou responder. Acho que não tem que entrar, mas eu não vou aceitar uma pessoa chegar e atacar meu lado pessoal. Eu não vou ficar quieto. Vou responder à altura. Marcão sempre falava sobre o sumiço de R$ 110 milhões. E eu falei o que falei o mandato todo: “foram dos sete meses em que a prefeita foi afastada e (Nelson) Nahim (PMDB) assumiu”. Agora, ele tem condições. Tem documento, entrada lá. Está mandando no governo. Entra lá e vê.
Folha — Marcão está mandando no governo?
Thiago — Está mandando no governo.
Folha — Por que diz isso?
Thiago — Tudo que a gente vê, Marcão pega o telefone, liga e resolve. E tem coisa que eu não vejo passar pelo prefeito.
Folha — Nos bastidores da Câmara, muito se comenta do seu bom trânsito com o jornalista Alexandre Bastos, chefe de gabinete do prefeito Rafael Diniz (PPS). Há quem especule que isso poderia ser uma ponte para sua mudança de lado. Procede?
Thiago — Eu e Alexandre Bastos já tivemos várias conversas. Não é de hoje. A gente está sempre conversando. E, como vereador, até mesmo nesse período em que eu fiquei afastado, várias demandas que chegavam para mim, eu ligava para ele. Na mesma hora, ele entrava. De repente, eu resolvi mais coisas nesses cinco meses do que os vereadores que estavam lá. Porque eu não estava ali pedindo cargo a ninguém. Quando via problema no meu bairro, como a academia do idoso, na Praça do IPS, tinha um dos aparelhos que precisava de uma pequena soldagem. Liguei para Alexandre. No mesmo dia, foram lá e soldaram. Nós nunca conversamos sobre composição, mas, toda vez que eu preciso de alguma coisa, eu peço ao chefe de gabinete de Rafael, que é meu amigo. E, pelo que sei, Rafael tem ciência disso. Pelo discurso que ele vem fazendo, é para atender todo mundo. Independente.
Folha — Isso quer dizer que o governo está aberto a atender pedidos dos vereadores da oposição?
Thiago — Pelo menos, no meu caso, tenho comprovado via Alexandre Bastos. Muita demanda minha, muitas coisas que chegam a mim, principalmente na área de saúde. A gente dá nossa colaboração. De repente, um vereador na oposição ajuda mais um prefeito do que um na situação. Um vereador na situação está mais preocupado em cumprir seus compromissos de campanha, de empregar. E a gente não sabe. A gente vê, hoje, na Câmara, muita conversa de emprego. Mandei até outro ofício para a secretaria de Gestão, para saber, por documento, porque existem algumas dúvidas sobre qual é o número de RPAs no governo do Rafael. A gente precisa saber. É importante que a gente tenha essa informação. Estamos fazendo o papel de fiscalizar. Falei na tribuna que não torço contra minha cidade. Torcer contra o governo do Rafael é torcer contra a cidade. Mas não vamos deixar de exercer nossa função, que é fiscalizar e cobrar. Temos que fazer ajuste, mas a gente tem uma crítica: por que começar esses cortes logo na área social? Não teriam outros contratos? Que os cortes têm que ser feitos, a gente entende. Mas a gente queria entender qual é o cronograma disso.
Folha — Como você avalia esses cinco meses e meio do governo Rafael?
Thiago — Temos que ser sinceros. A gente não pode cobrar muito, mas pode analisar. O governo diz que não houve transição. Eu discordo disso. Participei de algumas reuniões. De repente, não foram muito produtivas como eles acharam que ia ser. Mas, para mim, eles mentem quando dizem que não houve transição. E está tendo muito “oba, oba” dentro do governo. Está faltando alguém bater na mesa e cobrar dos secretários.
Folha — Há uma polêmica entre você e Marcão em relação às CPIs da Lava Jato e das Rosas. A questão da proporcionalidade. Um alega bancada, outro alega partido. Como isso vai ficar?
Thiago — Eu não tenho dúvida de que eles cometeram um equívoco. Prefiro chamar assim, de equívoco, seja da Procuradoria, da mesa, do presidente. No debate meu com Marcão, ele falou que na letra fria diz que é proporcionalidade de partidos. Realmente, é assim que diz. Mas vamos discutir o que é proporcionalidade de partido. É claro em qualquer lugar: é o número de assentos que cada partido tem. Seja na Alerj, na Câmara, no Senado. Então, estou muito tranquilo porque pedi a palavra a ele e a usei humildemente. Pedi para não publicar (em Diário Oficial). No outro dia (14), ele publicou. Eu sabia que ele estava correndo para publicar. Vamos bater uma bola. Vamos conversar sobre isso, os líderes das bancadas. Chama todos os vereadores, e a gente vê. Deixei claro que não sou contra a CPI.
Folha — Não pode parecer que você não quer investigar?
Thiago — Não. Pelo contrário. Quero investigar e quero fazer parte. E acredito, pela bancada que eu tenho, que posso ser o relator da CPI. Eu (PTC) tenho três vereadores. O PSDC tem dois. Eu estou com uma carta do PSDC, que mandaram para mim, do partido parabenizando o PSDC por ter dois relatores. Com dois vereadores na Casa e com outros três partidos com três vereadores. Então, vai com muita fome e sede. Tem que fazer o negócio devagar. Eu não tenho dúvida de que teremos três vereadores, do nosso bloco, na CPI. A gente vai oficializar nesta semana ainda.
Folha — Que bloco é esse?
Thiago — A gente tem uma reunião amanhã (a entrevista foi feita na quinta-feira) e teremos outra na terça (20) para definir. E, na terça, vamos oficiar ao Marcão e à mesa sobre nosso bloco. Não sei se vai ser G7, G8, bancada de independentes, bancada de oposição. Tem gente que acha que é cedo criar uma bancada de oposição. Tem gente que acha que já passou da hora.
Folha — Quem seriam os vereadores do bloco?
Thiago — Eu, Linda Mara, Miguelito, Ozéias, Thiago Ferrugem, Josiane; no caso hoje, mas, voltando, será Vinícius Madureira; Jorge Rangel, que deve estar chegando nesta semana, e Kellinho. No caso dele, foi só pedindo aumento dos efeitos extensivos. Então, teríamos um G8. Estamos conversando com outros vereadores também. Daqui a pouco, teremos um G9. Aí, dá para fazer um trabalho.
Folha — Quer puxar alguém do G5?
Thiago — Pode ser do G5. Tenho conversado com alguém do G5. Há outros vereadores também articulando. Estão insatisfeitos, dizendo que não foi cumprido o combinado.
Folha — O que teria sido combinado?
Thiago — Não tenho detalhes do que foi combinado. Falaram de cargo, espaço dentro do governo. E, até dentro da Câmara mesmo, parece que algumas coisas não estão sendo cumpridas. Existe insatisfação de vereador que procura. Só que a gente toma muito cuidado para não deixar esse vereador querer se valorizar em cima da gente. Daqui a pouco, o cara vem, ameaça, manda letra na tribuna. A gente tem que tomar cuidado. Mas estamos muito perto de virar G9 e até G10. Dentro da Câmara, já estou ouvindo conversa de eleição da mesa no ano que vem.

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