Crítica de cinema: O Círculo
Edgar Vianna de Andrade 26/06/2017 16:55 - Atualizado em 29/06/2017 13:25
O Círculo - Não li o livro de Dave Eggers que originou o filme “O Círculo”, para verificar se ele apresenta as três incongruências que notei no roteiro de James Ponsoldt, também diretor do filme. A primeira é insular uma empresa de informação num oceano em que a rede de comunicação entre as pessoas parece virgem ou quase virgem. Elas usam celulares e computadores como se fossem simples aparelhos inofensivos. Então, a poderosa empresa “Círculo” aparece como um corpo estranho e pioneiro na extinção da privacidade entre as pessoas. Não há mais privacidade em todo o planeta. Todas as pessoas que se valem de aparelhos eletrônicos estão sujeitas à vigilância por meio de satélites artificiais e de drones. Nesse sentido, o filme “Snowden: herói ou traidor”, de Oliver Stone, é mais fiel à realidade atual. Não só empresas estão na vida de cada indivíduo do planeta, mas também os governos, sobretudo estes. E cada pessoa colabora com os espiões ao usar aparelhos eletrônicos.
A segunda incongruência fica por conta da carreira de Mae Holland (Emma Watson) no filme. Ela é uma simples estagiária de uma companhia pública que foi convidada por uma amiga a trabalhar no Círculo. O que está bem retratado é o caráter religioso da empresa, como acontece com muitas atualmente. Quem faz parte do Círculo é feliz. Seu mais importante gerente, Eamon Bailey (Tom Hanks) faz pregações aos funcionários com suas piadas infames. Seu assessor mais direto é Tom Stenton (Patton Oswalt), um verdadeiro missionário religioso. Nesse ambiente de espertalhões, semelhante ao mundo político brasileiro, a novata Mae ascende rapidamente a uma posição proeminente. Coisa dos Estados Unidos, que gosta de heróis individualistas, de pessoas que se fazem pelos seus talentos individuais.
Mateusinho viu
Mateusinho viu / Divulgação
A mesma Mae, que representa sangue novo na empresa, propondo que todos os habitantes da Terra sejam controlados pelo Círculo, descobre as falcatruas dos dois homens da cúpula e as expõe a todos. Ela salva o mundo, outra constante dos filmes de Hollywood. A humanidade, pois, deve ser eternamente grata àquela mocinha frágil, meio raquítica, que, quase sozinha, derrubou a mais poderosa empresa do mundo.
A realidade é que os métodos de espionagem empregados na Segunda Guerra Mundial e nos filmes do Agente 007 são primários perto daqueles desenvolvidos depois dos ataques às Torres Gêmeas de Nova Iorque. Bons tempos em que a espionagem era uma arte. Hoje, ela é exercida nos gabinetes governamentais por medíocres funcionários. Ela pode também ser terceirizada monotonamente e ser desenvolvida por empresas.
A semelhança do filme com a distopia “1984”, de George Orwell, é notória, com uma diferença. Orwell via um futuro dominado por um Estado totalitário que a todos vigiava. Era o Grande Irmão. Em “O Círculo”, a empresa assuma, ou tenta assumir, o lugar do Estado e implantar uma democracia ditatorial, se esses dois conceitos não resultam numa contradição “in terminis”.
Do ponto de vista estético, “O Círculo” é apenas mais um filme de ficção científica.

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