(DOIS MATEUSINHOS)
O Círculo
Já existia, existe e existirá
Edgar Vianna de Andrade
A segunda incongruência fica por conta da carreira de Mae Holland (Emma Watson) no filme. Ela é uma simples estagiária de uma companhia pública que foi convidada por uma amiga a trabalhar no Círculo. O que está bem retratado é o caráter religioso da empresa, como acontece com muitas atualmente. Quem faz parte do Círculo é feliz. Seu mais importante gerente, Eamon Bailey (Tom Hanks) faz pregações aos funcionários com suas piadas infames. Seu assessor mais direto é Tom Stenton (Patton Oswalt), um verdadeiro missionário religioso. Nesse ambiente de espertalhões, semelhante ao mundo político brasileiro, a novata Mae ascende rapidamente a uma posição proeminente. Coisa dos Estados Unidos, que gosta de heróis individualistas, de pessoas que se fazem pelos seus talentos individuais.
A mesma Mae, que representa sangue novo na empresa, propondo que todos os habitantes da Terra sejam controlados pelo Círculo, descobre as falcatruas dos dois homens da cúpula e as expõe a todos. Ela salva o mundo, outra constante dos filmes de Hollywood. A humanidade, pois, deve ser eternamente grata àquela mocinha frágil, meio raquítica, que, quase sozinha, derrubou a mais poderosa empresa do mundo.
A realidade é que os métodos de espionagem empregados na Segunda Guerra Mundial e nos filmes do Agente 007 são primários perto daqueles desenvolvidos depois dos ataques às Torres Gêmeas de Nova Iorque. Bons tempos em que a espionagem era uma arte. Hoje, ela é exercida nos gabinetes governamentais por medíocres funcionários. Ela pode também ser terceirizada monotonamente e ser desenvolvida por empresas.
A semelhança do filme com a distopia “1984”, de George Orwell, é notória, com uma diferença. Orwell via um futuro dominado por um Estado totalitário que a todos vigiava. Era o Grande Irmão. Em “O círculo”, a empresa assuma, ou tenta assumir, o lugar do Estado e implantar uma democracia ditatorial, se esses dois conceitos não resultam numa contradição “in terminis”.
Do ponto de vista estético, “O círculo” é apenas mais um filme de ficção científica.