Marcão Gomes: "Rodrigo Bacellar fugiu do debate"
Aluysio Abreu Barbosa, Cláudio Nogueira, Gabriel Torres e Hevertton Luna - Atualizado em 25/06/2025 07:06
“Rodrigo, enquanto governador em exercício, tem a obrigação de explicar a falta de repasses para a Saúde. Não é uma explicação para o Wladimir, nem para o Marcão. É para a população de Campos”, afirmou Marcão Gomes (MDB), em entrevista nesta terça-feira (24) ao programa Folha no Ar, da rádio Folha FM 98,3. O ex-deputado comentou sobre o desentendimento entre o prefeito de Campos e o presidente da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj). Também abordou os desafios enfrentados pela gestão de Wladimir à frente da Prefeitura. Marcão ainda analisou os possíveis cenários para a próxima eleição estadual, além de fazer observações sobre o governo Lula e a situação de Bolsonaro visando o pleito de 2026.

Falta de repasses - “Ele (Rodrigo) diz que em 2021 foram mais de R$ 200 milhões repassados. Em 2022, foram cerca de R$100 milhões repassados. E, em 2023, disse que foi R$41 milhões. Wladimir disse até que foi mais do que ele. Wladimir disse que foi 90 milhões, ele disse que foi 41 milhões. Olha só como é que está um controverso. Em 2024, ele disse que foi R$ 38 milhões e agora, em 2025, disse que foi R$ 13 milhões. Isso são informações da assessoria do governador em exercício, Rodrigo Bacellar. Então, você já vê por aqui, quais informações que saíram do próprio gabinete de Rodrigo, que é incontroverso o fato de que ele não está depositando os valores devidos ao Fundo Municipal de Saúde de Campos. Os números não estão mentindo.”

Falta de critérios – “Então não existem critérios claros e objetivos no que diz respeito a esse repasse. Tive o cuidado de ir no site do governo do Estado e pesquisar os repasses. Tenho aqui em mãos, em 2019, que logo no início, no primeiro ano do governo Witzel, o município recebeu R$53 milhões de transferências do Fundo Estadual de Saúde para o Fundo Municipal de Saúde. A gente vê hoje chegar a zero, como o prefeito Wladimir vem dizendo, que em 2025 não foi repassado nada. O Rodrigo diz que foram R$13 milhões, mas o Wladimir disse que esse dinheiro não é do fundo, são de outras rubricas.”

Nova Iguaçu dez vezes maior – “A gente vê que Campos, como o prefeito Wladimir colocou, nós temos uma per capita em 2024 em torno de 42 reais. O que justifica, por exemplo, tenho aqui em relação ao município de Nova Iguaçu. Tive o cuidado de pesquisar Nova Iguaçu, porque tem uma população maior do que Campos, mas a per capita dele é muito superior. Nós temos aqui R$ 408,00. É dez vezes maior. Quando a gente observa os anos de 2023, 2024, eles mantiveram a mesma pegada. Só para você ter noção, em 2022, foram R$360 milhões para Nova Iguaçu. Em 2023, aumentou, foi para R$397 milhões. Em 2024, aumentou, foi para R$408 milhões.”

Explicações – “Por que só para Campos diminuiu? Depois da reeleição do Cláudio e da reeleição do Rodrigo. O critério é político? Rodrigo, enquanto governador em exercício, ele tem a obrigação de explicar isso. Não é explicar para o Wladimir, nem para o Marcão. É explicar para a população de Campos, que paga os seus impostos, que coloca o recurso lá no governo do Estado.”

Queda nos repasses – “O Cláudio era candidato à reeleição a governador e o Rodrigo candidato à reeleição a deputado estadual. Então os repasses estavam lá no alto. Acabou a eleição, os repasses mergulharam e despencaram profundamente. Então o compromisso tem que ser com a população da cidade.”

Atendimento aos vizinhos – “Campos é um polo regional e tem que receber para poder atender, receber esse repasse do fundo estadual para poder atender os municípios vizinhos. Isso é uma condição sine qua non. Se você não recebe seus repasses, como que você vai ter estrutura para poder atender? Como que você vai adquirir os insumos?”

Outros municípios – “Não dá para o Estado ficar regulando o paciente para poder ser atendido aqui no município de Campos se ele não está dando nenhuma contrapartida. Se em 2023, em 2024, 2025, ele está procurando estrangular as finanças da Saúde do município. Não sou eu que estou falando, não é o Marcão que está dizendo isso. São os números da própria Secretaria de Estado de Saúde. Está lá no portal, qualquer cidadão pode ir lá e verificar a queda abrupta que teve nos repasses para Campos enquanto outros municípios que são parceiros do Governo do Estado estão voando nesses repasses.”

Apoio de Wladimir – “Era só obter o apoio de Wladimir na reeleição do Rodrigo e na reeleição do Cláudio? Pagavam-se, à época, os valores devidos a Campos por isso? Em 2023, despenca, porque o Wladimir era candidato à reeleição em 2024, e em 2024 cai mais ainda, porque era o ano da eleição.”

Tem que ter debate – “Acho que ao invés de fugir do debate, porque na verdade o governador Rodrigo Bacellar fugiu do debate quando não aceitou o convite do prefeito para poder vir debater esses números. Se ele quer fugir do debate com o Wladimir, ele tem que dar uma resposta à população que paga os seus impostos e quer saber porque o fundo de Campos recebe muito menos do que outros municípios do estado do Rio de Janeiro.

Impacto para Wladimir – “Não tenho dúvida que está sendo doloso (para Wladimir politicamente). Os números demonstram isso. Então não é algo que eu estou imaginando ser uma atitude dolosa. Os números estão mostrando isso. Mostram que enquanto outros municípios tiveram as suas receitas aumentadas no repasse do Fundo Estadual de Saúde para os fundos municipais, Campos teve decréscimo.”

Gestão Wladimir – “O grande desafio do Wladimir nesse segundo mandato dele como prefeito é manter o avião no ar sem turbulências. Porque quando ele iniciou o primeiro mandato, pegou um cenário muito ruim, muito difícil, muito complicado, conseguiu avançar muito em diversas áreas. As turbulências que estão acontecendo, sobretudo como essa que a gente citou agora há pouco, uma queda assustadora de repasse do governo do Estado na área da Saúde, que logicamente influencia. Porque você tem que tirar recursos de um local para poder dar cobertura em outro local, isso influencia diretamente na gestão.”

Nota para Wladimir – “O governo precisa avançar, então eu daria uma nota boa, uma nota 8 por tudo o que fez e ainda estar com toda essa dificuldade mantendo o avião no ar, sem pousos emergentes e sem turbulências. Apesar de toda essa dificuldade com o pagamento dos servidores em dia, com o cronograma sendo executado à risca.”

Wladimir e Câmara – “A relação é, ao meu ver, muito boa. Fred, enquanto presidente da Câmara, tem feito, nesses primeiros meses, um excelente trabalho. Um grande presidente, a altura do Legislativo, muito ponderado, muito educado, atende a todos, dialoga bem com a oposição também, tem feito um excelente trabalho. É reflexo do que teve nas eleições, foi uma vitória muito consistente, apesar do grupo de Bacellar. O grupo é muito bom de investir. Eles gastam muito dinheiro, mas tem pouco voto.”

Erros no Wladimir 1 - “Não sei se foi erro ou não teve fôlego suficiente para avançar na questão do transporte. Acho que essa é uma necessidade muito grande do município. Não posso apontar, porque não faço parte do governo, não conheço exatamente quais as estratégias que foram adotadas no primeiro no primeiro mandato e nesse início de segundo mandato. Então vou colocar como uma necessidade do município em poder avançar nesse tema que é tão importante, tão caro à população. E o erro político que eu considero de fato foi ter perdido a presidência da Câmara naquele momento, em uma eleição muito disputada. Considero que teve um erro político.”

No secretariado – “Tive o convite para poder assumir a secretaria de Patrimônio Público, que deve acontecer provavelmente no mês que vem. Mas eu tenho dialogado com alguns atores, com alguns gestores do governo, com o próprio Wladimir, quando eu tenho a oportunidade.”

Pré-candidatura – “Não serei candidato. Vou procurar ajudar o Wladimir no planejamento regional. Não sei o que ele vai decidir, qual o caminho que ele vai traçar para ele, mas já disponibilizei a experiência que eu adquiri em duas eleições como candidato a deputado, sobretudo nos municípios do Norte e Noroeste Fluminense, alguns também da região dos Lagos.”

Eleição a deputado – “Estão bem mais desenhados. Ao Legislativo, as possibilidades e as variáveis são muito grandes. A gente só vai ter uma fotografia mais fácil de fazer análise, a partir do desenho de abril. Até abril a gente vai saber aonde que o Thiago Virgílio está filiado, aonde que o Caio Viana está filiado, aonde que o Bruno Dauaire está filiado, aonde o Thiago Rangel está filiado, a Carla Machado, que também é deputada aqui da região.”

Câmara Federal – “O primeiro dever de casa que nós temos que realizar é ter representatividade no Congresso Nacional. É eleger o candidato a deputado federal da nossa cidade, para representar a nossa região, Norte e Noroeste. Nós sempre tivemos, não podemos abrir mão de ter esse desse deputado federal lá em Brasília.”

Bacellar e o Bolsonarismo – “Acho que a pré-candidatura do Rodrigo depende muito da resposta dos votos do Bolsonarismo nessa eleição de 2026. A gente faz uma avaliação política também olhando para o cenário da última eleição de 2022 que Rodrigo e Cláudio na busca pela reeleição do Cláudio, eles enfrentaram dois candidatos de esquerda, que foi o Marcelo Freixo pelo PSB e o Rodrigo Neves no PDT, dois candidatos competitivos de esquerda.”

Não é fácil – “O cenário para o Rodrigo agora ele é muito pior e é muito mais difícil, porque Eduardo tem linhas políticas sempre voltadas mais à direita. O Washington nessa indefinição de candidatura. E dentro do próprio PL, o Rodrigo não é uma unanimidade.”

Possível de cassação – “Há de se considerar ainda nesse aspecto da eleição pra governo que existe uma ação que agora está no Tribunal Superior Eleitoral, que trata do escândalo do Ceperj. Onde o Ministério Público que falou, não é o Marcão que está falando, que houve uso eleitoral na campanha de 2022, onde mais de R$ 236 milhões estão de forma suspeita empregados na política com diversas pessoas efetuando saques na boca do caixa. Isso aí foi dito numa ação eleitoral que o Ministério Público propôs pedindo a cassação do mandato de Rodrigo e de Cláudio, onde eles tiveram um resultado de 4 a 3 no TRE, um resultado muito apertado. E o Ministério Público recorreu, está no Tribunal Superior Eleitoral, que possivelmente vai vir à toa no ano que vem, vai ser objeto de discussão na campanha eleitoral também.”

Eduardo Paes – “Dentro dessa polaridade direita e esquerda eles não vão conseguir fazer uma associação direta do Eduardo Paes à esquerda. Até porque, da mesma forma que o PT tem pessoas do Partido dos Trabalhadores que estarão na candidatura do Eduardo Paes, tem pessoas provavelmente o ex-presidente da Alerj, André Ceciliano, seu filho, o Andrézinho, estarão na pré-candidatura do Rodrigo Bacellar. Então você tem petista na candidatura de um e tem petista na candidatura de Bacellar também.”

Bacellar x Paes – “O Eduardo invade muito bem o eleitorado de direita e o Rodrigo também está buscando o eleitorado de esquerda. Então eu acho que ele não vai conseguir fazer essa polarização, eu vejo isso com muita dificuldade. Enfrentar o Marcelo Freixo e o Rodrigo Neves é uma coisa, enfrentar o Eduardo Paes é uma outra coisa totalmente diferente.”

Washington Reis – “O Washington Reis é o grande player deste cenário político do estado do Rio de Janeiro para 2026. Para onde o MDB e o Washington pender vai fazer uma diferença muito grande na eleição do ano que vem. Ele está buscando os meios jurídicos necessários para viabilizar sua pré-candidatura ao Governo do Estado, há algumas semanas também apareceu ao lado do Eduardo Paes num evento e o jogo está aberto.”

Senado – “Acredito que quem tiver na chapa junto com Flávio vai ser um concorrente fortíssimo. Diferente da eleição passada ao Senado onde a esquerda se pulverizou, agora ela vem logicamente de forma concentrada. Acho que vai ser uma disputa voto a voto e a Benedita, que é a candidata de esquerda, vai disputar esse segundo voto do eleitor buscando essa segunda vaga ao Senado Federal.

Lula 3 – “A gente avalia, enquanto agente político, um momento muito ruim do governo do Lula. Onde a maior parte dos brasileiros, segundo a pesquisa, vem desaprovando ao governo e isso provavelmente vai espelhar numa dificuldade muito grande em reeleição.”

Lula e Bolsonaro – “Da mesma forma que nós temos a desaprovação do governo Lula, nós temos uma rejeição ao nome do Bolsonaro nas urnas de 67% nessa pesquisa. Então, boa parte dos brasileiros querem que o Brasil siga o outro caminho, nem um caminho pela esquerda, nem um caminho para direita, mas um caminho que leve o Brasil pra frente.”

Desafios para Lula em 2026 - “Um desafio do Lula, nesse ano que ainda resta ainda de mandato até começar a propaganda e as campanhas eleitorais, e aí governo é governo, mandato é mandato, campanha é campanha, tudo pode se modificar em uma campanha eleitoral. Mas sobretudo ele tem dois grandes desafios, um desafio muito grande com respeito ao preço dos alimentos, que atinge diretamente a base de apoio do Lula, e o preço do combustível.”

Desaprovação da gestão Lula – “Eu vejo esse cenário aberto e com o índice de desaprovação do governo até uma avaliação esperançosa. Pela maioria dos brasileiros, ainda se manter em uma disputa eleitoral no empate técnico com seus principais adversários não é tão ruim. Para o Lula enfrentar diretamente o Bolsonaro ou alguém com o sobrenome Bolsonaro no nome será mais tranquilo do que ele enfrentar o Tarcísio, ou Eduardo, ou Ratinho, ou algum outro candidato que não leve. Porque você faz uma analogia com aquele percentual de 67% que não desejam que o Bolsonaro vá às urnas.


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